terça-feira, 4 de março de 2014

Epílogo

Eles brincam na Campina. A menina dançante com o cabelo escuro e olhos azuis. O menino com cabelos loiros e olhos cinzentos, esforçando-se para acompanhá-la em suas pernas gordinhas de criança. Demorou cinco, dez, quinze anos para eu aceitar. Mas Peeta os queria tanto. Quando senti pela primeira vez a agitação dela dentro de mim, fui consumida com um terror que parecia tão antigo quanto a própria vida. Só a alegria de mantê-la em meus braços pôde domá-lo. Carregá-lo foi um pouco mais fácil, mas não muito.
As perguntas estão apenas começando. As arenas foram completamente destruídas, os memoriais construídos, não há mais Jogos Vorazes. Mas eles ensinam sobre isso na escola, a menina sabe que nós desempenhamos um papel neles. O menino vai saber daqui a alguns anos. Como posso contar a eles sobre aquele mundo, sem assustá-los até a morte? Meus filhos, que tomam as palavras da canção por garantia:

Bem no fundo da campina, embaixo do salgueiro
Um leito de grama, um macio e verde travesseiro
Deite a cabeça e feche esses olhos cansados
E quando se abrirem, o sol já estará no alto dos prados

Aqui é seguro, e aqui é um abrigo
Aqui as margaridas te protegem de todo perigo
Aqui seus sonhos são doces
E amanhã serão lei
Aqui é o lugar onde sempre lhe amarei

Meus filhos, que não sabem que brincam em um cemitério.
Peeta diz que vai ficar tudo bem. Nós temos um ao outro. E o livro. Nós podemos fazê-los compreender de uma maneira que irá torná-los mais corajosos. Mas um dia eu vou ter que explicar sobre os meus pesadelos. Por que eles vieram. Por que eles não vão nunca realmente embora.
Eu vou dizer-lhes como sobrevivi a isso. Vou dizer-lhes que nas manhãs ruins, parece impossível sentir prazer em qualquer coisa, porque eu tenho medo que isso possa ser tirado de mim. É quando eu faço uma lista na minha cabeça de cada ato de bondade que vi alguém fazer. É como um jogo. Repetitivo. Até um pouco entediante depois de mais de vinte anos.
Mas há jogos muito piores para jogar.

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