sábado, 29 de março de 2014

Capítulo 3

Amy Cahill achava que tinha o irmão caçula mais chato do planeta. E isso foi antes dele quase matá-la.
Tudo começou quando o senhor McIntyre leu o testamento da avó deles e lhes mostrou o vídeo.
Amy ficou ali sentada, em choque. Ela estava segurando um pedaço de papel verde que valia 1 milhão de dólares. Um desafio? Um segredo perigoso? O que estava acontecendo? Ela olhou para a tela de projeção preta. Não conseguia acreditar que a avó tinha feito uma coisa daquelas. O vídeo devia ter sido gravado meses atrás, a julgar pela aparência de Grace. Vê-la na tela daquele jeito doera em Amy mais do que sal numa ferida. Como Grace podia ter planejado uma coisa tão gigantesca sem avisá-la?
Amy nunca esperou que fosse herdar muita coisa. Só o que queria era algo para se lembrar de Grace – uma recordação, talvez uma de suas belas joias. Agora aquilo... Ela se sentiu totalmente perdida.
Dan não estava ajudando muito, pulando de um lado para o outro como se estivesse apertando para ir ao banheiro.
— Um milhão de dólares! Dá pra comprar um card original do Mickey Mantle um do Babe Ruth 1914!
A gravata dele estava torta, o que combinava com seu sorriso torto. Ele tinha uma cicatriz sob um dos olhos, de quando tentara brincar de paraquedas e caíra em cima de metralhadora de plástico. Ele era exatamente esse tipo de diabinho. Mas o que chateava Amy de verdade era como Dan parecia estar à vontade, como se toda aquela gente não o incomodasse.
Amy odiava multidões. Ela sentia como se todos estivessem olhando para ela, só esperando que fizesse papel de boba. Às vezes, em seus pesadelos, sonhava que estava no fundo de um abismo, e todas as pessoas que conhecia estavam olhando para ela e dando risada. Amy tentava escalar para fora, mas nunca conseguia sair.
Naquele exato momento, tudo o que ela queria era correr para a biblioteca de Grace, fechar a porta e se aconchegar com um livro. Queria encontrar Saladin – o gato de Grace, da raça Mau Egípcio – e acariciá-lo. Mas Grace estava morta, e o coitado do gato... quem sabe onde estaria agora? Ela piscou com lágrimas nos olhos, pensando na última vez que tinha visto a avó.
Você vai me deixar orgulhosa, Amy, Grace dissera. Elas estavam sentadas na grande cama de Grace, com Saladin ronronando ao lado delas. Grace lhe mostrara um mapa da África desenhado à mão e contara histórias das aventuras que vivera quando era uma jovem exploradora. Grace parecia magra e frágil, porém o fogo em seus olhos estava intenso como sempre. A luz do sol transformava seus cabelos em prata pura.Vivi muitas aventuras, querida, mas elas serão pequenas perto das suas.
Amy quis chorar. Como Grace pôde achar que Amy viveria grandes aventuras? Ela mal tinha coragem de ir à escola toda manhã.
— Eu poderia comprar uma espada ninja — Dan continuou tagarelando. — Ou um sabre da Guerra Civil!
— Dan, cale a boca — ela disse. — Isto é sério.
— Mas o dinheiro...
— Eu sei. Mas se nós pegarmos o dinheiro, vamos precisar guardar para a faculdade e tal. Você sabe como é a tia Beatrice.
Dan franziu a testa, como se tivesse esquecido. Ele sabia muito bem que a tia Beatrice só tomara conta deles por causa de Grace. Amy sempre desejou que Grace os tivesse adotado depois que os pais deles morreram, mas ela não fizera isso. Por motivos que nunca explicou, pressionara Beatrice para que se tornasse responsável legal por eles.
Durante os últimos sete anos, Dan e Amy ficaram à mercê de Beatrice, morando num apartamento minúsculo com uma série consecutiva de au pairs. Beatrice pagava tudo, mas não pagava muito. Amy e Dan tinham o suficiente para comer e ganhavam roupas novas a cada seis meses, mas nada além disso. Nenhum presente de aniversário. Nenhum agrado especial. Sem mesada. Eles estudavam numa escola pública e Amy nunca tinha dinheiro sobrando para comprar livros. Ela usava a biblioteca ou às vezes ficava no sebo de livros em Boylston, onde os funcionários a conheciam. Dan ganhava um dinheirinho por sua conta com seu pequeno comércio de cards colecionáveis, mas não era muito.
Durante sete anos, de segunda a sexta, Amy ficara magoada com Grace por não os criar pessoalmente, mas quando chegava o fim de semana ela simplesmente não conseguia se manter brava com a avó. Quando eles vinham à mansão, Grace lhes dava atenção exclusiva. Tratava os dois como as pessoas mais importantes do mundo. Sempre que Amy tomava coragem de perguntar por que eles não podiam ficar com Grace o tempo todo, Grace apenas dava um sorriso triste. Há motivos, querida. Algum dia você vai entender.
Agora Grace morrera. Amy não sabia o que a tia Beatrice ia fazer, mas eles definitivamente precisavam de mais dinheiro. Isso significaria alguma independência. Eles poderiam comprar um apartamento maior, talvez. Poderiam comprar livros sempre que quisessem e até mesmo fazer faculdade. Amy estava desesperada para entrar em Harvard. Queria estudar história e arqueologia. Sua mãe teria gostado disso.
Pelo menos... Amy esperava que ela teria gostado. Amy sabia muito pouco sobre seus pais. Nem sabia por que ela e Dan levavam o sobrenome de solteira da mãe – Cahill – quando o sobrenome do pai deles era Trent. Ela perguntou isso à avó uma vez, mas Grace apenas sorriu e disse: “Foi assim que seus pais quiseram”. Porém o orgulho teimoso em sua voz fez Amy suspeitar que na verdade tinha sido ideia de Grace eles carregarem o sobrenome Cahill.
Amy não conseguia se lembrar muito bem do rosto da mãe, ou sobre qualquer coisa a respeito dos pais antes da terrível noite em que eles morreram no incêndio. E isso era uma coisa que Amy fazia muito esforço para não pensar.
— Está bem — Dan disse devagar. — Então vou gastar o meu 1 milhão na minha coleção. Você pode gastar o seu na faculdade e todo mundo fica feliz.
Amy sentiu uma angústia. Brotavam discussões por toda a sala. Os Holt pareciam realizar um exercício de combate. Sinead Starling estava apartando os irmãos, Ned e Ted, para um não estrangular o outro. Irina Spasky disparava frases em russo para aquele menino do reality show, Jonah Wizard, e seu pai, mas pelo jeito, não entendiam uma palavra. Vozes furiosas enchiam o Salão Principal. Era como se estivessem arrancando cada pedaço de Grace, batendo boca pela herança dela. Não se importavam nem um pouco com a morte da avó de Amy.
Então alguém bem atrás dela disse:
— Vocês vão recusar o desafio, é claro.
Era Ian Kabra, com sua irmã irritante, Natalie, ao seu lado. A contragosto, o estômago de Amy deu uma pequena cambalhota, pois Ian era muito bonito. Ele tinha uma linda pele escura, olhos cor de âmbar e um sorriso perfeito. Tinha 14 anos, a mesma idade que ela, mas se vestia como um adulto, com terno de seda e gravata. Até o cheiro dele era bom, de cravo. Amy teve raiva de si mesma por notar isso.
— Eu ficaria triste se alguma coisa acontecesse com vocês — ronronou Ian. — E vocês precisam mesmo do dinheiro.
Natalie pôs as mãos na boca, fingindo surpresa. Ela parecia uma boneca em tamanho natural com seu vestido de cetim, seus sedosos cabelos pretos caídos por cima do ombro.
— É mesmo, Ian! Eles são pobres. Eu sempre esqueço. Parece tão estranho nós sermos parentes, não é?
Amy sentiu que ficou vermelha. Queria dar alguma resposta ácida, porém sua voz não saiu.
— Ah, é? — Dan disse. — Talvez a gente não seja parente! Talvez vocês sejam alienígenas mutantes, porque crianças de verdade não se vestem que nem banqueiros e nem saem voando no jatinho particular do papai.
Ian sorriu.
— Você me entendeu mal, meu caro primo. Estamos muito felizes por vocês. Queremos que peguem o dinheiro, tenham uma vida maravilhosa e nunca mais pensem em nós.
— G-G-Grace — Amy conseguiu falar, odiando que sua voz não colaborasse. — G-Grace ia querer...
— Ia querer que vocês arriscassem suas vidas? — Ian completou. — Como você sabe? Ela contou a vocês sobre esse desafio que estava planejando?
Nem Amy nem Dan responderam.
— Entendo — Ian disse. — Deve ser horrível... pensar que vocês eram os favoritos de Grace e então ser deixados no escuro desse jeito. Talvez vocês não fossem tão importantes para a velha quanto acharam, não é?
— Ora, Ian — Natalie o repreendeu. — Talvez Grace apenas soubesse que eles não eram páreo para o desafio. Parece bem perigoso. — Natalie sorriu para Amy. — Odiaríamos ver vocês sofrerem uma morte dolorosa, não é? Adeusinho!
Os Kabra se afastaram na multidão.
— Adeusinho — Dan imitou. — Que imbecis.
Parte de Amy queria perseguir os Kabra e bater neles com uma cadeira. Mas parte dela queria rastejar para baixo de uma pedra e se esconder. Ela queria tanto falar uns desaforos para eles, mas não tivera coragem sequer de falar.
— Eles vão aceitar o desafio — ela sussurrou para Dan.
— É óbvio! Que diferença faz 2 milhões a mais para eles? Eles podem jogar esse dinheiro no lixo.
— Eles estavam nos ameaçando. Não querem que a gente se envolva.
— Talvez eles sofram uma morte dolorosa — Dan especulou. — Fico imaginando o que será esse tesouro afinal.
— Faz diferença? — Amy perguntou amargamente. — Nós não podemos procurar o tesouro. Mal temos dinheiro para o bilhete de ônibus.
Mas mesmo assim ela ficou imaginando. Grace tinha explorado o mundo inteiro. Será que o tesouro era uma tumba egípcia perdida... ou ouro de piratas? O senhor McIntyre dissera que o prêmio faria dos vencedores os seres humanos mais poderosos da Terra. O que seria capaz dessa proeza? E por que havia exatamente 39 pistas?
Ela não conseguia evitar a curiosidade. Adorava mistérios. Quando era mais nova, costumava fingir que sua mãe ainda estava viva, e elas viajavam juntas para escavações arqueológicas. Às vezes Grace ia também, as três juntas, explorando o mundo, felizes. Mas era só um faz de conta idiota.
— Que pena — Dan resmungou. — Eu adoraria tirar esse sorrisinho da cara dos Cobra...
Nesse exato momento, tia Beatrice agarrou os braços deles. Seu rosto estava retorcido de raiva e seu hálito cheirava a naftalina.
— Vocês não vão fazer nenhuma besteira! Eu pretendo ficar com meu 1 milhão de dólares, e vocês vão fazer a mesma coisa! Fiquem tranquilos, vou colocar numa conta até vocês virarem adultos. Só vou gastar os rendimentos. Em troca, vou permitir que continuem sob minha custódia.
Amy engasgou de raiva.
— Você... você vai permitir que a gente continue sob a sua custódia? Você vai permitirque a gente te dê nossos 2 milhões de dólares?
Assim que acabou de dizer isso, ela não acreditou que conseguira pronunciar as palavras. Geralmente morria de medo dela. Até Dan ficou impressionado.
— Olha como fala, mocinha! — Beatrice avisou. — Faça a coisa mais sensata, senão...
— Senão o quê? — Dan perguntou num tom fingidamente inocente.
O rosto de Beatrice ficou vermelho.
— Senão, seu pequeno novo-rico, vou deserdar vocês e entregá-los para o Serviço Social. Vocês vão ser órfãos indigentes, e vou fazer questão de não deixar nenhum Cahill jamais ajudar vocês novamente! Toda essa história é absurda. Vocês vão pegar o dinheiro e não vão se meter nesse esquema ridículo da minha irmã para encontrar...
Ela parou de repente.
— Encontrar o quê? — Dan perguntou.
— Tanto faz — Beatrice disse. Amy levou um susto quando percebeu que tia Beatrice estava com medo. — Apenas façam a escolha certa ou nunca mais vão ter o meu apoio!
Ela saiu pisando duro. Amy olhou para Dan, mas, antes que pudesse dizer qualquer coisa, o senhor McIntyre tocou um sininho. Aos poucos, as brigas e discussões no Salão Principal cessaram. As pessoas retomaram seus assentos.
— Chegou a hora — disse o senhor McIntyre. — Devo advertir que, uma vez feita a escolha, não há como voltar atrás. Não é possível mudar de ideia.
— Espere um momento, William — disse Alistair Oh. — Isso não é justo. Não sabemos quase nada sobre o desafio. Como vamos julgar se vale a pena?
O senhor McIntyre comprimiu os lábios.
— Há coisas que não posso contar, senhor. O senhor sabe que a família Cahill é muito grande... muito antiga. Tem diversos clãs. Até hoje alguns de vocês nem faziam ideia de que eram Cahill. Mas como madame Grace disse em seu discurso no vídeo, esta família teve um papel importantíssimo na formação da civilização. Algumas das figuras históricas mais importantes foram Cahill.
Sussurros entusiasmados preencheram o salão.
A mente de Amy estava a mil. Ela sempre soube que os Cahill eram importantes. Muitos eram ricos. Eles estavam espalhados por todo o mundo. Mas formação da civilização? Ela não sabia ao certo o que o senhor McIntyre queria dizer com aquilo.
— Figuras históricas? — berrou o senhor Holt. — Como quem?
O senhor McIntyre limpou a garganta.
— O senhor teria dificuldade em citar uma grande figura histórica dos últimos séculos que não tenha sido membro desta família.
— Abraham Lincoln — gritou a prima Ingrid. — Eleanor Roosevelt.
— Sim — o senhor McIntyre respondeu apenas. — E sim.
Um silêncio impressionante tomou conta do salão.
— Harry Houdini! — gritou Madison Holt.
— Lewis e Clark! — sugeriu Reagan, sua irmã.
— Sim, sim e sim — disse o senhor McIntyre.
— Ora, vamos! — berrou o senhor Holt. — Isso é impossível!
— Concordo! — disse o tio José. — Você está caçoando de nós, McIntyre.
— Estou falando muito sério — o velho advogado garantiu. — E, mesmo assim, todas as conquistas da família Cahill até agora não são nada em comparação com o desafio que está diante de vocês neste momento. Chegou a hora de vocês descobrirem o maior segredo dos Cahill, de se tornarem os membros mais poderosos da família em toda a história... ou morrerem tentando.
Amy sentiu uma coisa fria e pesada no estômago, como se tivesse engolido uma bala de canhão. Como ela podia ser parente de todas aquelas pessoas famosas? Como Grace podia ter pensado que Amy se tornaria mais poderosa que elas? Ela ficou nervosa só de pensar naquilo. Nem sonhando teria coragem de se meter numa aventura perigosa.
Mas se ela e Dan não aceitassem o desafio... Ela lembrou da tia Beatrice apertando os braços deles, mandando que ficassem com o dinheiro. A tia daria um jeito de roubar os 2 milhões de dólares deles. Amy não seria capaz de enfrentá-la. Eles voltariam ao seu pequeno apartamento escuro e nada mudaria, a não ser o fato de que Grace estava morta. Não haveria mais viagens aos fins de semana, nada para se lembrar dela. Amy nunca pensara que algo pudesse ser pior que a morte de seus pais, mas aquilo era. Ela e Dan estavam completamente sós. A única saída era aquela ideia maluca de que eles eram parte de uma grande família da história... parte de alguma busca misteriosa. As mãos de Amy começaram a suar.
— Embarcando nessa busca — o senhor McIntyre continuou — vocês serão levados ao tesouro. Mas apenas um de vocês vai chegar a ele. Um único indivíduo — seus olhos passaram pelo rosto de Amy — ou uma única equipe vai encontrá-lo. Não posso dizer mais nada. Eu mesmo não sei até onde a busca vai levar. Só posso indicar o começo da jornada, monitorar seus avanços e oferecer uma pequena orientação. Agora... quem vai decidir primeiro?
Tia Beatrice ficou de pé.
— Isto é ridículo. Quem entrar nesse jogo imbecil é um idiota. Eu vou ficar com o dinheiro!
O senhor McIntyre assentiu com a cabeça.
— Como quiser, senhora. Assim que sair deste salão, os números de seu comprovante bancário serão ativados. A senhora pode sacar seu dinheiro no Banco Real da Escócia quando quiser. Quem é o próximo?
Vários outros se levantaram e escolheram o dinheiro. O tio José. A prima Ingrid. Uma dúzia de outras pessoas que Amy não reconheceu. Cada um deles ficou com o papel verde e virou instantaneamente um milionário.
Então Ian e Natalie Kabra se levantaram.
— Nós aceitamos o desafio — Ian anunciou. — Vamos formar uma equipe de dois. Nos dê a pista.
— Muito bem — disse o senhor McIntyre. — Seus comprovantes, por favor.
Ian e Natalie andaram até a mesa. O senhor McIntyre pegou um isqueiro prateado e queimou os papéis que valiam 1 milhão de dólares cada. Em troca, entregou a Ian e Natalie um envelope pardo lacrado com cera vermelha.
— Sua primeira pista. Vocês não podem ler até que eu os instrua a fazer isso. Vocês, Ian e Natalie Kabra, serão a Equipe 1.
— Ei! — objetou o senhor Holt. — Nossa família inteira vai aceitar o desafio! Nós queremos ser a Equipe 1!
— Nós somos o número 1! — as crianças da família Holt começaram a repetir em coro, e seu pit bull Arnold pulava no ar e latia junto com elas.
O senhor McIntyre ergueu a mão, pedindo silêncio.
— Muito bem, senhor Holt. Os comprovantes da sua família, por favor. Vocês serão a Equipe... enfim, vocês também serão uma equipe.
Os Holt fizeram a troca: cinco comprovantes de 1 milhão de dólares por um envelope com uma pista, e eles nem hesitaram. Enquanto eles voltavam marchando para seus assentos, Reagan deu um esbarrão no ombro de Amy.
— Pra vencer tem que sofrer, sua banana!
Então, Alistair Oh ficou de pé com esforço.
— Está bem. Não consigo resistir a uma boa charada. Acho que você pode me chamar de Equipe 3.
Então os trigêmeos Starling correram para a frente. Eles puseram seus comprovantes na mesa e mais 3 milhões de dólares arderam em chamas.
— Da — disse Irina Spasky. — Também vou entrar nesse jogo. Eu trabalho sozinha.
— Ei, guenta aí — Jonah Wizard gingava como se fosse da periferia, assim como fazia no programa Quem quer ser um gangsta?, o que era meio ridículo, já que ele valia 1 bilhão de dólares e morava em Beverly Hills. — Tô topando essa parada — ele bateu o comprovante na mesa. — Descola essa pista aí, maluco.
— Gostaríamos de filmar a busca — seu pai falou.
— Não — disse o senhor McIntyre.
— Porque ia ficar ótimo na tevê — continuou o pai. — Eu podia falar com o estúdio sobre uma porcentagem de comissão...
— Não — o senhor McIntyre insistiu. — Isto não é entretenimento, senhor. É uma questão de vida ou morte.
O senhor McIntyre vasculhou o salão com os olhos e os fixou em Amy.
— Quem mais? — ele chamou. — Agora é a hora de escolher.
Amy percebeu que ela e Dan eram os últimos indecisos. A maioria dos quarenta convidados havia ficado com o dinheiro. Seis equipes tinham aceitado o desafio – todas mais velhas, ou mais ricas, ou parecendo ter mais chances de sucesso do que Amy e Dan. Tia Beatrice olhou feio para eles, advertindo-os de que estavam prestes a ser deserdados. Ian tinha um sorriso arrogante no rosto. Talvez vocês não fossem tão importantes para a velha quanto acharam, não é? Amy lembrou o que sua irritante irmã, Natalie, tinha dito: Talvez Grace apenas soubesse que eles não eram páreo para o desafio.
O rosto de Amy ficou quente de vergonha. Talvez os Kabra tivessem razão. Quando os Holt viraram o irmão dela de cabeça para baixo, ela não os enfrentara. Quando os Kabra a insultaram, ela apenas ficara ali imóvel e calada. Como poderia se meter numa busca perigosa? Mas então ela ouviu outra vez em sua mente: Você vai me deixar orgulhosa, Amy.
E de repente ela soube. Era disso que Grace estava falando. Era essa a aventura que Amy deveria viver. Se ela não fizesse isso, só lhe restava rastejar para baixo de uma pedra e se esconder para o resto da vida.
Ela olhou para o irmão. Por mais chato que ele fosse, eles sempre tinham conseguido se comunicar só com olhares. Não era telepatia nem nada, mas ela sabia o que o irmão estava pensando.
É muito dinheiro, Dan disse a ela. Muitos cards incríveis de beisebol.
A mamãe e o papai iam querer que a gente tentasse, Amy respondeu com os olhos. Era isso que Grace queria que a gente fizesse.
Pois é, mas um Babe Ruth e um Mickey Mantle...
Ian e Natalie vão odiar, Amy insistiu. E a tia Beatrice provavelmente vai ficar furiosa.
Um sorriso se espalhou no rosto dele. Acho que o Babe Ruth pode esperar.
Amy pegou o comprovante de Dan. Eles andaram até a mesa juntos e ela pegou o isqueiro do senhor McIntyre.
— Vamos participar — ela disse, e transformou 2 milhões de dólares em fumaça.

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