quinta-feira, 17 de abril de 2014

Capítulo 21

Para os moradores de Salzburgo, na Áustria, William Mclntyre parecia ser só mais um turista. Talvez com roupas muito formais, com seu terno escuro de executivo, mas apenas um visitante estrangeiro passeando pela praça pública. Ninguém pareceu notar o pequeno monitor portátil, nem ouvir os bipes fracos que o aparelho emitia enquanto se aproximava do transmissor de sinal.
Durante quase uma semana, o senhor Mclntyre usara seu equipamento para não perder o rastro de Amy e Dan enquanto eles viajavam de Paris para Viena e depois para Salzburgo. Porém o sinal tinha parado de se mexer. Na verdade, fazia dois dias que não se mexia. Alguma coisa estava errada.
Conforme ele atravessava a praça apinhada de gente, os bipes se consolidaram num som contínuo, o que significava que o transmissor estava muito próximo.
Mclntyre ficou olhando. Lá estava ele, preso como um alfinete de lapela na estátua de Mozart no meio da praça.
Uma mão forte pousou em seu ombro e o fez se virar. Era Alistair Oh, espumando de raiva.
— Então foi você! — acusou o idoso. — Não quero que você se meta na busca! Cadê minha pista?
O advogado deu de ombros, confuso.
— Eu não tenho nada que pertença ao senhor.
— Eu tinha uma pista que achei no túnel na arquiabadia de São Pedro — disse friamente Alistair. — Quando fui pegá-la para mandar traduzir, descobri que tinha sumido e o seu localizador estava na ponta da minha bengala. Exijo que o senhor se explique.
— Não tenho explicação.
— Então o senhor confessa que estava tentando manipular a caça ao tesouro. — Seus olhos se estreitaram. — Ou quem sabe o seu plano é sabotar tudo e ficar com o prêmio.
O senhor Mclntyre endireitou o corpo.
— Lamento por isso. Não há dúvida de que alguém ludibriou o senhor, mas não fui eu. O senhor deveria saber que, com um prêmio tão valioso, é de esperar que haja traições. E os Cahill são capazes de quase qualquer coisa.
— O senhor ainda me paga. Quando eu vencer a busca, vou tomar providências para que o senhor nunca mais trabalhe! — Alistair girou nos calcanhares e foi embora.
Mclntyre deu um profundo suspiro enquanto retirava o localizador da lapela de Mozart. Tinha sido grudado ali com chiclete. Enfiando o microaparelho no bolso, ele deixou a praça e andou três quarteirões até um café ao ar livre num pátio afastado. Sentou-se numa mesa, tranquilo, diante de um homem vestido inteiramente de preto.
— Você não vai acreditar — o advogado anunciou em tom de desolação. — Eles encontraram o localizador embaixo da coleira do gato e o plantaram em Alistair Oh.
O homem de preto esfregou a testa franzida.
— Então você está querendo dizer que perdemos o rastro das crianças?
Mclntyre confirmou com a cabeça, soturno.
— As crianças é que nos despistaram. Talvez eles sejam ainda mais espertos do que madame Grace imaginava.
Muito acima da mesa onde os dois homens se encontravam, o rastro de um avião traçou uma faixa branca no céu azul e limpo, rumo ao Oriente.

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