— Aaaahh! — exclamou Alistair, alçando-se para cima.
Tóimmmm!
Dan sentiu um tranco na escada. Ele a segurou com mais força, enquanto assistia à incrível cena que se desenrolava embaixo dele.
Com um golpe ágil e preciso, Alistair bateu a bengala com força, derrubando a faca da mão do agressor. Então, na volta, acertou o cara da Yakuza na lateral da cabeça, fazendo o homem cair rodopiando até os trilhos.
— Vai logo, Dan! — Alistair mandou, gritando para cima.
— Como você aprendeu a fazer isso? — perguntou Dan, surpreso.
— Sou cheio de surpresas... agora mexa-se!
Amy conseguira afastar para o lado a grade no topo da escada. Dan saiu para a rua, puxando os objetos atrás de si. Um instante depois, dando um grunhido alto, Alistair se içou até a calçada. Uma mãe empurrando um carrinho de bebê desviou deles. Na mesma hora, Dan começou a recolocar a grade no lugar; ele havia coberto três quartos do buraco quando Alistair o puxou para longe.
— Não há tempo para isso! — afirmou, levando Dan consigo enquanto atravessava a rua.
— Espere! Cadê a Amy?
Amy estava tentando alcançar os dois, caminhando com dificuldade na direção deles.
Cliiiiinch.... CLIIINCH!
Dedos manchados de fuligem brotavam do chão na tentativa de empurrar a grade.
— Com licença — pediu Alistair, correndo de volta até o buraco.
Como um jogador de golfe, ele tomou impulso com a bengala e deu uma cacetada nos dedos que emergiam. Bem forte.
— AAAAAAA.AAAAAIIII! — ouviu-se um grito atormentado.
Dan ouviu as batidas de vários corpos despencando no chão, escada abaixo.
Alistair se ajoelhou, dando as costas para Amy.
— Pode subir — ele disse.
Amy pulou em cima do tio, que cruzou os braços embaixo dos joelhos dela, fazendo careta enquanto atravessava a rua mancando atrás de Dan. As sombras deles alongavam-se ao sol poente, lembrando a silhueta de um monstro deformado.
FOOOOM!
Um carro desviou na última hora. O motorista esbravejou.
— Os objetos... — Alistair gritou entre os dentes cerrados. — Deixe naquele beco. Depois voltamos para buscá-los!
Dan avistou um lugar escuro e estreito entre dois prédios e ali jogou o paletó embolado do tio Alistair. Eles dobraram a esquina apressadamente e subiram um morro entre construções baixas de tijolos, onde o cheiro de shoyu e camarão frito brotava de janelas térreas em forma de vapor. Alistair encaminhou-se para o topo do morro e entrou por um portão aberto nos fundos de um vasto playground vazio.
— Aonde estamos indo? — gritou Dan.
— Eu tenho amigos! Só precisamos arranjar um táxi...
Como por magia, um táxi surgiu na rua. Alistair soltou uma das mãos que seguravam Amy e acenou loucamente, gritando em japonês.
Quando o veículo virou na direção dele, porém, começou a acelerar, com o motor roncando.
— Cuidado! — Dan berrou.
Alistair pulou para longe. Amy foi arremessada no asfalto enquanto os pneus do táxi raspavam no meio-fio, não os acertando por um triz. O carro freou ruidosamente e girou.
As quatro portas se abriram de uma vez só.
— Yakuza! — gritou Alistair.
Agora até Amy estava andando depressa. Correndo atrás dela, Dan ouviu um assobio agudo.
— Amy, agache!
Um disco metálico prateado com bordas serrilhadas cortou o ar. O projétil passou sibilando rente à cabeça de Dan enquanto ele saltava em cima da irmã, agarrando-a pela cintura e a derrubando no chão.
Ela gritou quando os dois caíram no asfalto novamente.
— Que foi isso? — disse Amy, recuperando o fôlego.
— Um shuriken — gritou Dan. — Aquela estrelinha mortal dos ninjas!
— Por aqui! — ordenou Alistair.
Dan sentiu a mão do velho tio agarrar seu pulso e puxá-lo para cima. Numa fração de segundo eles estavam entrando num grande túnel de aço, que fazia parte do playground.
Tum! Tum! Tum-tum-tum-tum-tum!
Dan contraía o rosto conforme cada shuriken atingia o lado de fora do túnel, a poucos centímetros da cabeça deles.
Os três saíram pelo outro lado e foram parar num complexo equipamento de escalada feito de madeira grossa. Alistair corria agachado, com a cabeça baixa e a bengala sob o braço. Faíscas caíam feito granizo em volta da cabeça deles.
De trás vinham latidos e instruções furiosas em japonês. Portas de carros bateram. Pneus cantaram. Dan, Amy e Alistair se puseram a correr às cegas saindo do playground, atravessaram um gramado, entraram num quintal e por fim passaram por cima de uma cerquinha.
— Aiiiiiiii! — gritou Amy quando seu pé ficou preso na corrente da cerca.
— Continuem! — insistiu Alistair.
Dan percebeu que as estrelinhas cortantes tinham parado de voar. Os caras da Yakuza não iam usá-las num bairro residencial... ou será que iam?
Eles saíram em outro quarteirão com lojas dos dois lados. À direita, Dan ouviu o motor de um carro em alta velocidade.
— Para a esquerda! — gritou.
A rua era uma ladeira que acabava num grande mercado a céu aberto. Os vendedores estavam guardando seus produtos, limpando as barracas. Dan percebeu que ele, Amy e Alistair poderiam facilmente se perder ali. Os homens da Yakuza estariam procurando encrenca se insistissem na perseguição.
VRUUUUUUUUM!
Dan parou onde estava. Um Porsche vermelho surgiu na rua, bem na frente deles, bloqueando a passagem para o mercado. Dobrando a esquina, o automóvel deu farol alto. Dan se encolheu, cego por um instante.
Agarrando a irmã, ele conseguiu saltar.
— Pule... pule!
Eles saltaram sobre a calçada, rolando por baixo de uma caixa de correio enquanto ouviam barulhos estranhos. Plec! Plec-plec!
Tiros passaram voando por eles, vindos do Porsche morro acima, de onde o táxi da Yakuza agora ameaçava os três.
Poft!
Um dos faróis do táxi estourou.
Plec-plec!
Um projétil trincou o para-brisa do carro, que começou a derrapar para a esquerda, girando. Os pneus bateram no meio-fio e a vasta lateral esquerda do veículo veio a toda velocidade para cima de Dan, Amy e Alistair.
Amy deu um grito. Ou talvez tenha sido o próprio Dan. O menino não soube direito. Só percebeu que estava voando. Sua cabeça bateu na lateral do prédio enquanto um borrão de aço amarelo passava rolando por ele, enorme e amassado.
Com um estrondo ensurdecedor, o táxi atravessou a vitrine de uma floricultura.
O carro foi parar num tapete de buquês destruídos e vidro estilhaçado, com as rodas pro alto. Dois homens meio grogues saíram a custo dos destroços, cambaleando antes de recuperar o equilíbrio. Dan, Amy e Alistair se encolheram na sombra para não serem vistos, porém os homens correram morro acima, olhando por sobre o ombro com o medo e o terror estampados no rosto.
— O que foi isso? — perguntou Amy.
— Participamos de uma briga de ninjas — disse Dan, assombrado. — Pela primeira vez na minha vida real, e não na virtual. E eu detestei.
Um alarido de vozes brotava da direção do mercado, conforme os trabalhadores começavam a subir o morro para se juntar aos outros curiosos, que surgiam de todos os lados.
Devagar, Dan foi se levantando. O Porsche estava semiencoberto pela caixa de correio, mas ele conseguiu ver suas rodas brilhantes de magnésio e as janelas escuras.
— Se eles não tivessem salvado a nossa pele...
— Tomem cuidado — Alistair avisou.
De repente, Dan ouviu as portas se abrirem de supetão. Ele gelou.
— Prrr?
Dan ouviu o miado choramingado. Seu coração bateu mais forte quando um animal sedoso roçou seu tornozelo. Ele olhou para baixo e viu um gato, um Mau Egípcio idêntico a Saladin, exceto pela aparência meio sarnenta.
— Oh... — disse Amy com um sorriso esperançoso.
— Esse gato é igualzinho a você sabe quem — comentou Dan.
O gato se aproximou de Amy, que estendeu os braços para pegá-lo.
— Essa raça é muito comum por aqui — Alistair respondeu numa voz distraída, com os olhos ainda fixos no Porsche. — Será que tem alguém... vivo ali dentro?
Em resposta, uma pessoa saiu cambaleando de trás da caixa de correio. O fôlego de Dan ficou preso na garganta.
— Da próxima vez, moleques, não entreguem as passagens de bandeja — disse Nellie Gomez.
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