O velho fechou a porta do escritório e afundou em sua poltrona de couro. Girou o assento na direção da janela, apoiando os pés num banquinho. Eles doíam mais que o normal naquele momento. Com a idade avançada, ele já não apreciava mais as longas caminhadas.
De baixo vinha o som abafado do trânsito, os gritos frustrados dos motoristas, os berros alucinados dos vendedores ambulantes na calçada. Um lembrete constante do verdadeiro e desesperado sentido da vida: velocidade, desejo, posse. Ele estava cansado daquilo tudo. Mas não ia demorar muito mais. O caminho certo finalmente estava desimpedido.
Ele ligou o aparelho de som. Morte e transfiguração, de Richard Strauss. Bizarramente apropriado, depois do que acontecera.
Um dia estressante. O necessário a ser feito nem sempre era agradável.
Enfim. Primeiro a morte. Depois a transfiguração.
Ele apertou um botão no interfone.
— Eun-hee, por favor, faça contato com o senhor McIntyre. Tenho uma notícia para ele.
O velho esperou um instante, mas não obteve resposta. Que estranho. Eun-hee estava ali quando ele entrara, havia alguns minutos. Ela nunca saía de sua mesa na antessala.
— Eun-hee...? — ele tentou outra vez.
O interfone fez um ruído. Mas a resposta não foi de modo algum a que ele estava esperando.
— Olá, tio — disse uma voz grave, sedosa, que lhe deu um calafrio cortante na espinha. — Foi agradável seu passeio no parque?
O dedo ossudo de Bae Oh começou a tremer.
— Quem... quem é?
— Ora, é o seu herdeiro — respondeu a voz. — Que foi, estraguei seu dia? E que lindo dia deve ter sido: você me viu morrer e achou que não ia mais precisar fazer você mesmo o serviço.
— Mas... — Bae Oh cuspiu. — Como você pode ter sobrevivido...?
— Muita gente está se perguntando isso. Mas eu garanto que, quando eu tiver dado um jeito em você, ninguém vai fazer essa pergunta.
Bae Oh podia estar em sua nona década, mas seus reflexos ainda eram inigualáveis. Ele pulou da cadeira e abriu a porta que dava acesso à antessala.
Estava vazia.
Ouviu-se o som distante de passos lá fora, depois fez-se silêncio. Ele tinha fugido.
Bae Oh sentiu seus joelhos fraquejarem. Ele se apoiou na beira da mesa, sentindo o coração bater a mil enquanto, atrás dele, a música crescia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário