domingo, 1 de junho de 2014

Capítulo 13

Irina segurou com firmeza no corrimão. Não podia correr o risco de tropeçar naquela escada íngreme. Tinha visto os irmãos Cahill saírem da tumba e sabia que devia ter alguma coisa ali. Com um pequeno explosivo, arrombou a fechadura e entrou. Ainda bem que ninguém viu. Os egípcios ficavam meio sensíveis quando alguém mexia nos seus preciosos sítios arqueológicos.
Irina chegou a uma pequena antecâmara. Estava rodeada por aquelas figuras egípcias todas iguais, algumas com cabeça de pássaro, outras com coroas, algumas segurando cajados curvos feito cobras. Ela enfiou a cabeça na sala ao lado. Mais do mesmo.
Mas as cores...
Ela voltou a se concentrar na tarefa. Mais degraus. Desceu com cuidado, agradecendo por ter vindo de tênis. Aqueles americanos sabiam fazer calçados esportivos, isso ela tinha que admitir. Irina ficou pensando no tênis porque estava ficando um pouco zonza. Era um truque que usava no serviço quando estava cansada ou irritada, sempre que suas emoções ameaçavam dominá-la. Concentrar-se no trivial.
Mas, por que ela estava se sentindo oprimida?
À sua esquerda, um chacal preto oferecia alguma coisa para uma rainha egípcia. Devia ser Nefertari. Irina não sabia nada sobre arte egípcia, mas de algum modo sabia que aquela bela rainha estava sendo acolhida no mundo subterrâneo. Deixaria sua vida para trás. A luz do sol, o rio, o palácio, o marido, os filhos... tudo lhe seria tomado.
Ela entrou na câmara funerária. Ali estava deitada a rainha, entre os pilares. Aquelas figuras de perfil, todas iguais, como uma história em quadrinhos, com seu cabelo preto e seus olhos opacos. Ela nunca tinha percebido antes...
Como são bonitas!
Aquelas pinturas... Ela imaginou os pintores ali, mergulhando os pincéis em potes de tinta dourada, verde e azul. Não estavam apenas pintando a história da morte de uma rainha. Estavam pintando toda vida. Toda morte. Toda alegria, toda perda.
Deslumbrada, Irina girou a cabeça devagar, absorvendo tudo aquilo. Ela sentiu uma coisa estranha no rosto, uma coisa tão fora do comum que no começo não reconheceu o que era. A sensação foi como uma brisa, alguma coisa fria naquele ar carregado. Uma lágrima.
O que estava acontecendo?
Grace, o que você está fazendo comigo?
Pois ela de repente estava sentindo a presença de Grace bem ali. Sua vivacidade, sua inteligência, sua impaciência... sua bondade.
Você foi bondosa comigo, ela disse lembrando de Grace. Quando me chamou de boba, seu tom não foi agressivo. Tinha bondade nos seus olhos. Quem eu não consigo perdoar? Você... ou eu mesma?
Irina olhou fixo para a parede em frente. Renascimento, ela pensou. Aquela não era a câmara da morte. Era a câmara do renascimento.
Era possível aquilo acontecer? Depois de uma vida inteira, depois que escolha após escolha após escolha a conduzia a um lugar pequeno e escuro... era possível mudar?

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