quarta-feira, 4 de junho de 2014

Capítulo quarenta e nove

 soro da morte cheira a fumaça e pimenta, e meus pulmões o rejeitam no primeiro fôlego que tomo. Eu tusso e gemo, e sou engolida pela escuridão.
Caio em meus joelhos. Sinto meu corpo como se alguém tivesse trocado meu sangue por melado, e meus ossos por chumbo. Uma ameaça invisível me puxa para o sono, mas quero ficar acordada. É importante que eu queira ficar acordada. Eu imagino esse querer, esse desejo, queimando no meu peito como uma chama.
O fio puxa com mais força, e alimento as chamas com nomes. Tobias. Caleb. Christina. Matthew. Cara. Zeke. Uriah.
Mas não posso suportar o peso do soro. Meu corpo cai para o lado, e meu braço ferido está pressionado no chão gelado. Eu estou flutuando...
Seria bom flutuar para longe, uma voz diz em minha cabeça. Ver para onde eu vou...
Mas o fogo, o fogo. O desejo de viver.
Eu não estou pronta ainda. Não estou.
Sinto como se eu estivesse cavando através da minha própria mente. É difícil me lembrar como eu vim parar aqui e por quê. É difícil saber porque me preocupo em me livrar deste peso. Mas então minhas mãos arranhando encontram a memória do rosto da minha mãe, e os ângulos estranhos de seus membros na calçada, o sangue escorrendo do corpo do meu pai.
Mas eles estão mortos, a voz diz. Você pode se juntar a eles.
Eles morreram por mim, eu respondo. E agora tenho algo a fazer, em retorno. Tenho que impedir outras pessoas de perder tudo. Tenho que salvar a cidade e as pessoas que minha mãe e meu pai amavam. Se eu for me juntar aos meus pais, querocarregar comigo uma boa razão, não esse colapso sem sentido.
O fogo. O fogo. Ele se inflama, uma fogueira e em seguida um inferno, e meu corpo é seu combustível. Sinto isso correndo através de mim, devorando o peso. Não há nada que possa me matar agora; eu sou poderosa, invencível e eterna.
Sinto o soro se espalhando pela minha pele como óleo, mas a escuridão retrocede. Apoio uma mão pesada no chão e me empurro para cima.
Apoiada na cintura, empurro meus ombros contra as portas duplas, e elas rangem no chão enquanto suas fechaduras se quebram. Respiro ar limpo e me levanto ereta. Eu estou , estou .
Mas não estou sozinha.
— Não se mexa — David ordena, erguendo sua arma. — Olá, Tris.

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