sábado, 29 de março de 2014

Capítulo 10

Alistair Oh tinha acabado de sair da alfândega quando seus inimigos o espreitaram.
— Bonjour, tio. — Ian Kabra apareceu à direita dele. — Teve um bom voo?
Alistair virou para a esquerda, no entanto Natalie Kabra impediu que ele escapasse.
— Eu não tentaria fugir, tio Alistair — ela disse numa voz meiga. — É incrível quantas armas eu consigo carregar num aeroporto.
Ela mostrou uma boneca de porcelana de vestido azul de cetim. Natalie era velha demais para ter uma boneca daquelas, mas sem dúvida conseguiria convencer os seguranças do contrário.
— Que é isso? — Alistair perguntou, tentando manter a calma. — Uma pistola? Uma bomba?
Natalie sorriu.
— Espero que você não precise descobrir. Ia fazer muita sujeira.
— Continue andando, tio. — Ian disse a palavra com o máximo de sarcasmo possível. — Não queremos levantar suspeitas.
Eles andaram a passos largos pelo terminal. O coração de Alistair batia forte. Ele sentia o Almanaque do Pobre Richard, no bolso do paletó, batendo em seu peito a cada passo.
— Então — Alistair disfarçou. — Quando vocês chegaram?
— Oh, nós pegamos nosso próprio jato — disse Ian. — Usamos uma pista de aterrissagem particular, onde a segurança é muito mais... relaxada. Achamos que seria legal vir lhe dar as boas-vindas!
— Que gentil! Mas não tenho nada que possa interessar a vocês.
— Não foi isso que ouvi dizer — disse Natalie. — Entregue o livro.
A garganta de Alistair ficou seca.
— Como... como é que você sabe que...
— As notícias se espalham depressa. Temos informantes... — disse Natalie.
— Natalie — Ian cortou a irmã. — Deixe que eu falo, muito obrigado. Você segura a boneca.
Ela fez uma careta, o que a deixou com uma cara um pouco menos linda.
— Eu posso falar se eu quiser, Ian! Mamãe e papai disseram...
— Que se dane o que eles disseram! Quem manda sou eu!
Natalie parecia pronta para gritar de volta, mas engoliu a raiva. Alistair não gostou do jeito como a menina apertava a boneca, com força. Ele imaginou que a coisa devia ter um botão em algum lugar e não queria descobrir para que servia.
— Vocês com certeza não querem outra guerra entre nossos clãs — disse Alistair, tentando parecer diplomático. — Basta um telefonema e consigo mobilizar ajuda de Tóquio ao Rio de Janeiro.
— Nós também conseguimos. E eu li a história da família, Alistair. Da última vez em que nossos clãs brigaram, não foi muito bom pro lado de vocês, não é? — disse Ian.
Alistair continuou andando, com a cabeça a mil. Um guarda estava parado junto a um posto de segurança logo à frente, a uns 20 metros. Se Alistair conseguisse fazer alguma coisa para chamar atenção...
— A explosão de 1908 na Sibéria — ele disse para Ian. — Sim, aquilo foi impressionante. Mas desta vez o que está em jogo é muito maior.
— Exatamente — concordou Ian. — Então entregue esse livro, velhote, antes que sejamos obrigados a machucar você.
Natalie riu.
— As coisas que você diz, Ian. Francamente.
O irmão dela franziu a testa.
— Como é?
Cinco metros para o guarda, pensou AlistairFique calmo.
— Oh, nada — Natalie disse ao irmão num tom distraído. — É só que você é um tédio. Sem mim, você não conseguiria assustar nem esse velho patético.
O rosto de Ian endureceu.
— Eu conseguiria muito bem, sua inútil, sua...
Natalie entrou na frente de Alistair, insistindo em confrontar o irmão, e Alistair aproveitou a chance. Ele deu um passo para trás, depois outro para o lado, e, antes que os Kabra conseguissem se reagrupar, estava ao lado do guarda, falando o mais alto que conseguia em francês.
— Mercí, sobrinho e sobrinha! — ele gritou para os Kabra. — Mas seus pais vão ficar preocupados. É melhor vocês irem na frente e dizerem a eles que eu saio daqui a pouco. Preciso perguntar umas coisas para este oficial. Acho que me esqueci de declarar minhas frutas frescas na alfândega!
— Frutas frescas? — disse o oficial. — Senhor, isso é muito importante. Venha comigo, por favor!
— Com a sua licença. — Alistair deu de ombros, como se estivesse pedindo desculpas aos Kabra.
Os olhos de Ian estavam tomados de tanta fúria que pareciam que iam pegar fogo, mas ele conseguiu dar um sorriso duro.
— É claro, tio. Não se preocupe. Com certeza encontramos você depois. Vamos, Natalie. — Ele disse o nome dela por entre os dentes cerrados. — Precisamosconversar.
— Ai! — ela gritou quando ele agarrou o braço dela, mas Ian a puxou pelo corredor para um lugar fora da vista do guarda.
Alistair deu um suspiro de alívio e seguiu o oficial de bom grado de volta até a alfândega, onde, após 20 minutos de perguntas e de revista nas malas, ele percebeu –quelle surprise! – que não havia fruta nenhuma em sua bagagem. Alistair fingiu ser um velho confuso e o oficial da alfândega, irritado, deixou que ele fosse embora.
De volta ao terminal, Alistair se permitiu um sorriso. Ian e Natalie Kabra talvez fossem adversários mortais, mas ainda eram crianças. Alistair nunca deixaria dois molecotes passarem a perna nele, não enquanto seu futuro e o futuro de seu clã estivessem em jogo.
Deu um tapinha no Almanaque do Pobre Richard, ainda em segurança no bolso do paletó. Alistair duvidava que qualquer outra equipe soubesse mais sobre as 39 pistas do que ele. Afinal, fazia anos que ele espionava Grace, estudando as intenções dela. Ainda havia muita coisa que ele não entendia – segredos que esperava que Grace tivesse transmitido aos netos. Mas logo descobriria.
Alistair tinha uma excelente vantagem. Agora entendia o verdadeiro significado da primeira pista: REF. DO SEGREDO: RESOLUÇÃO, de Richard SEle não se conteve e deu uma risadinha. Nem mesmo Amy e Dan tinham percebido o que realmente significava.
Enquanto andava pelo terminal, ficou atento para ver se avistava os Kabra, mas eles pareciam ter sumido. Saiu do aeroporto e estava arrastando as malas em direção ao ponto de táxi, quando uma van roxa parou na sarjeta.
A porta lateral deslizou e se abriu. Uma voz alegre de homem disse:
— Olá, amigo!
A última coisa que Alistair Oh viu foi um soco enorme vindo na direção de seu rosto.

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