Eu rolo sobre o meu colchão e suspiro. Faz dois dias desde a minha luta
com Peter, e meus machucados estão virando roxo-azulados. Eu me acostumei com a
dor cada vez que me movo, então agora me movo mais facilmente, embora ainda
esteja longe de estar curada.
Mesmo que ainda esteja machucada, tive que lutar novamente hoje.
Felizmente desta vez, fui emparelhada contra Myra, que não poderia dar um bom
soco nem se alguém controlasse seu braço por ela. Eu dou um bom golpe nos
primeiros dois minutos. Ela caiu e estava muito tonta para se levantar. Eu
deveria sentir triunfo, mas não há triunfo em bater em alguém como Myra.
No segundo em que coloco a cabeça no travesseiro, a porta do dormitório
se abre, e pessoas entram no quarto com lanternas. Eu sento, quase batendo a
cabeça no beliche acima de mim, e olho através do escuro para ver o que está
acontecendo.
— Todo mundo de pé! — Alguém ruge.
Uma lanterna ilumina a parte de trás da sua cabeça, fazendo os anéis em
suas orelhas brilharem. Eric. Cercando-o há outros integrantes da Audácia,
alguns deles que já vi na Caverna, alguns que nunca vi antes. Quatro está entre
eles.
Seus olhos se movem para os meus e ficam ali. Eu encaro de volta e
esqueço que ao meu redor os transferidos estão saindo de suas camas.
— Ficou surda, Careta? — exige Eric.
Eu saio do meu torpor e deslizo debaixo dos meus cobertores. Estou feliz
por estar completamente vestida, porque Christina para próxima ao nosso beliche
usando somente uma camiseta, suas longas pernas nuas. Ela cruza seus braços e
encara Eric. Desejo, de repente, que eu pudesse encarar alguém tão
audaciosamente usando tão poucas roupas, mas eu nunca seria capaz de fazer
isso.
— Vocês tem cinco minutos para se vestir e nos encontrar nos trilhos — diz
Eric. — Nós vamos para outra viagem de campo.
Enfio meus pés dentro dos meus tênis e corro, estremecendo, atrás de
Christina no caminho para o trem. Uma gota de suor rola na parte de trás do meu
pescoço conforme nós corremos pelas trilhas ao longo da parede da Caverna,
empurrando membros passando na nossa subida. Eles não parecem surpresos em nos
ver. Eu me pergunto quantas pessoas correndo freneticamente eles veem
semanalmente.
Nós chegamos aos trilhos logo após os iniciantes nascidos na Audácia.
Próximo ao trilho há uma pilha negra. Eu consigo ver um conjunto de grandes
barris de armas e proteção de gatilho.
— Nós vamos atirar em algo? — Christina assobia na minha orelha.
Próxima à pilha, estão caixas que parecem munição. Eu me aproximo para
ler uma das caixas. Está escrito “PAINTBALLS.”
Eu nunca ouvi algo assim antes, mas o nome é autoexplicativo – paint =
tinta e balls = bola em inglês. Eu dou risada.
— Todo mundo agarre uma arma! — grita Eric.
Nós corremos em direção à pilha. Estou mais próxima a ela, então pego a
primeira arma que acho, que é pesada, mas não pesada demais para eu carregar, e
pego uma caixa de bolas de tinta. Enfio a caixa no meu bolso e lanço a arma nas
minhas costas, de modo que a alça cruza o meu peito.
— Tempo estimado? — Eric pergunta a Quatro.
Quatro verifica o seu relógio.
— A qualquer minuto agora. Quanto tempo vai levar para você memorizar o
horário do trem?
— Por que eu deveria, quando tenho você para me lembrar? — diz
Eric, empurrando o ombro de Quatro.
Um círculo de luz aparece à minha esquerda, muito longe. Ele fica maior
conforme se aproxima, brilhando contra o lado do rosto de Quatro, criando uma
sombra na cavidade abaixo da sua bochecha.
Ele é o primeiro a entrar no trem, e eu corro atrás dele, sem esperar
por Christina, Will ou Al me seguirem. Quatro se vira quando eu caio em passos
largos ao lado do vagão, e estende uma mão. Eu agarro seu braço e ele me puxa
para dentro. Até mesmo os músculos do seu antebraço são firmes, definidos.
Eu largo rapidamente, sem olhar para ele, e sento-me do outro lado do
vagão.
— Nós seremos divididos em dois times para jogar captura da bandeira. Cada
time terá uma mistura de seis membros, iniciantes nascidos na Audácia e
transferidos. Um time irá sair primeiro e achará um lugar para esconder a sua
bandeira. Em seguida, o segundo time irá descer e fazer o mesmo — o
vagão balança e Quatro agarra o vão da porta para equilíbrio. — Esta é
uma tradição da Audácia, então sugiro que a levem seriamente.
— O que nós ganhamos se vencermos? — Alguém grita.
— Não parece o tipo de pergunta que um integrante da Audácia perguntaria — Quatro
diz, levantando uma sobrancelha. — Você ganha, é claro.
— Quatro e eu seremos os líderes dos times — Eric continua. Ele olha para Quatro. — Vamos
dividir os transferidos primeiro, não?
Eu inclino minha cabeça para trás. Eles vão nos escolher, serei
escolhida por último; posso sentir.
— Você primeiro — Quatro diz.
Eric dá de ombros.
— Edward.
Quatro inclina-se contra o vão da porta e acena. A luz da lua faz os
seus olhos brilharem. Ele olha o grupo de transferidos brevemente, sem
cálculos, e diz:
— Eu quero a Careta.
Uma corrente fraca de risadas enche o carro. Calor corre pelas minhas
bochechas. Eu não sei se deveria ficar brava com o fato das pessoas rindo de
mim ou lisonjeada pelo fato de ele ter me escolhido primeiro.
— Tem algo a provar? — pergunta Eric, com seu sorriso registrado. — Ou está escolhendo os mais fracos
para o caso de você perder, terá alguém para botar a culpa?
Quatro dá de ombros.
— Algo assim.
Raiva. Eu devia definitivamente estar com raiva. Faço careta para as
minhas mãos. Qualquer que seja a estratégia de Quatro, ela é baseada na ideia
de que eu sou mais fraca que os outros iniciantes. Isso traz um sabor amargo na
minha boca. Eu tenho que provar que ele está errado – tenho.
— Sua vez — diz Quatro.
— Peter.
— Christina.
Isso muda a sua estratégia. Christina não é uma das mais fracas. O que
exatamente ele está fazendo?
— Molly.
— Will — Quatro escolhe, mordendo sua unha do polegar.
— Al.
— Drew.
— A única que sobrou é Myra. Então ela é minha — diz
Eric. — Próximo, iniciantes nascidos na Audácia.
Eu paro de ouvir uma vez que eles terminaram com a gente. Se Quatro não
está tentando provar algo com escolher a fraca, o que ele está fazendo? Eu olho
para cada pessoa que ele escolheu. O que nós temos em comum?
Uma vez que eles estão na metade dos nascidos na Audácia, tenho uma
ideia do que é. Com a exceção de Will e um casal de outros, todos nós
compartilhamos o mesmo tipo físico: ombros estreitos, estrutura pequena. Todas
as pessoas no time do Eric são largas e fortes. Ontem, Quatro me disse que eu era
rápida. Nós seremos mais rápidos que o time do Eric, o que provavelmente vai
ser bom para capturar a bandeira – nunca joguei antes, mas sei que é um jogo de
velocidade em vez de força bruta. Eu cubro um sorriso com a mão. Eric é mais
cruel que Quatro, mas Quatro é mais esperto.
Eles terminam de escolher os times, e Eric sorri para Quatro.
— O seu time pode sair em segundo — diz Eric.
— Não me faça nenhum favor — Quatro replica, e sorri um pouco. — Você sabe que eu não preciso deles
para vencer.
— Não, eu sei que você irá perder não importa quando você desça — Eric
fala, mordendo brevemente um dos anéis no seu lábio. — Pegue
seu time magricela e desça primeiro, então.
Todos nós levantamos. Al me dá um olhar desamparado, e eu sorrio para
ele no que espero ser uma forma tranquilizadora. Se algum de nós quatro tivesse
que acabar no mesmo time que Eric, Peter e Molly, pelo menos é ele. Eles
geralmente o deixam em paz.
O trem está prestes a mergulhar no chão. E estou determinada a pousar
nos meus pés.
Logo antes de eu pular, alguém sacode o meu ombro e eu quase caio do
trem. Não olho para trás para ver quem é – Molly, Drew, ou Peter, não importa
qual deles. Antes que eles possam tentar novamente, eu pulo. Desta vez estou
pronta para o impulso que o trem me dá, e corro mais alguns passos para
difundi-lo e ganhar equilíbrio. Um forte prazer passa através de mim e eu
sorrio. É um pequeno feito, mas me faz me sentir Audaciosa.
Um dos iniciados nascidos lá toca o ombro do Quatro e pergunta:
— Quando o seu time ganhou, onde vocês colocaram a bandeira?
— Dizer a você não estaria realmente dentro do espírito do jogo, Marlene — ele diz
friamente.
— Vamos lá, Quatro — ela lamenta.
Ela lhe dá um sorriso paquerador. Ele tira a mão dela do seu braço, e
por alguma razão eu me encontro sorrindo.
— Porto da Marinha — outro iniciante nascido na Audácia grita. Ele é alto, com pele marrom e
olhos escuros. Bonito. — Meu irmão esteve no time vencedor. Eles deixaram a bandeira no
carrossel.
— Vamos lá, então — sugere Will.
Ninguém objeta, então nós andamos para leste, em direção ao brejo que
uma vez foi um lago. Quando eu era jovem, tentei imaginar o que pareceria se
fosse um lago, sem cercas construídas na lama para tentar manter a cidade
segura. Mas é difícil imaginar tanta água num só lugar.
— Nós estamos mais próximos do quartel-general da Erudição, certo? — pergunta
Christina, batendo no ombro do Will com seu próprio.
— Sim. É ao sul daqui.
Ele olha por cima do seu ombro, e por um segundo sua expressão é de pura
saudade. Então se foi.
Estou a menos de um quilômetro de distância do meu irmão. Faz uma semana
desde que nós estivemos tão perto um do outro. Balanço a cabeça um pouco para
tirar o pensamento da mente. Não posso pensar sobre ele hoje, não quando tenho
que me focar em passar do estágio um. Não posso pensar nele em nenhum dia.
Nós andamos sobre a ponte. Ainda precisamos das pontes porque a lama
embaixo delas é muito molhada para caminharmos. Eu me pergunto há quanto tempo
o rio secou.
Uma vez que nós atravessamos a ponte, a cidade muda. Atrás de nós, a
maior parte dos prédios estava em uso, e até aqueles que não estavam, pareciam
bem-conservados. Em nossa frente está um mar de prédios desmoronando e vidro
quebrado. O silêncio nessa parte da cidade é sinistra; parece um pesadelo. É
difícil ver para onde estou indo, porque é depois da meia-noite e todas as
luzes da cidade foram apagadas.
Marlene pega uma lanterna e ilumina a rua em nossa frente.
— Com medo do escuro, Mar? — O iniciante nascido na Audácia de olhos escuros, provoca.
— Se você quer pisar em vidro quebrado, Uriah, fique à vontade — ela
vocifera. Mas ela desliga, de qualquer forma.
Percebi que parte de ser da Audácia é estar disposto a fazer as coisas
mais difíceis para si mesmo, a fim de ser autossuficiente. Não há algo
especialmente corajoso em vagar em ruas escuras sem lanternas, mas nós não
devemos precisar de ajuda, até mesmo da luz. Devemos ser capazes de qualquer
coisa. Eu gosto disso. Porque poderá vir um dia quando não há lanternas, não há
armas, não há nenhuma mão orientadora. E quero estar pronta para isso.
Os prédios acabam logo antes do brejo. Uma tira de terra sai do brejo, e
nascendo dele há uma roda branca gigante com dúzias de carros vermelhos
pendurados em intervalos regulares. A roda gigante.
— Penso nisso. Pessoas costumavam andar naquela coisa. Por diversão — Will fala, balançando sua cabeça.
— Eles devem ter sido Audaciosas — eu falo.
— Sim, mas uma versão lamentável de Audácia — Christina ri. — Uma
roda-gigante da Audácia não teria carros. Você seguraria fortemente com as suas
mãos, e boa sorte para você.
Nós caminhamos ao lado do cais. Todos os prédios a minha esquerda estão
vazios, suas placas demolidas e as janelas fechadas, mas é um tipo limpo de
vazio. Quem quer que tenha deixado esses lugares, o deixaram por escolha e
vontade. Alguns lugares na cidade não são assim.
— Eu te desafio a pular no pântano — Christina diz para Will.
— Você primeiro.
Nós chegamos ao carrossel. Alguns dos cavalos estão riscados e
desgastados, suas caudas quebradas e celas lascadas. Quatro tira a bandeira do
bolso.
— Em dez minutos o outro time irá escolher a sua localização — ele diz. — Sugiro
que vocês tomem esse tempo para formar uma estratégia. Nós podemos não ser
integrantes da Erudição, mas preparação mental é um dos aspectos do treinamento
da Audácia. Provavelmente é o aspecto mais importante.
Ele está certo sobre isso. O que há de bom num corpo preparado se você
tem uma mente dispersa?
Will pega a bandeira de Quatro.
— Algumas pessoas deviam ficar aqui e guardar, e algumas pessoas deviam
sair e vigiar a localização do outro time — Will fala.
— Sim? Você acha? — Marlene arranca a bandeira dos dedos de Will.
— Quem colocou você no comando, transferido?
— Ninguém — Will responde — mas alguém tem que fazê-lo.
— Talvez nós devêssemos desenvolver uma estratégia mais defensiva. Esperar
eles virem até nós, então nós os tiramos — sugere Christina.
— Essa é uma saída de maricas — diz Uriah. — Eu voto
em todos nós irmos. Esconder a bandeira bem o bastante para que eles não a
achem.
Todos disparam em conversação de uma vez, suas vozes mais altas a cada
segundo. Christina defende o plano do Will; os iniciantes nascidos na Audácia
votam na ofensiva; todos argumentam sobre quem deveria tomar a decisão. Quatro
senta na beirada do carrossel, se inclinando contra o casco de plástico do
cavalo. Seus olhos se elevam para o céu, onde não há estrelas, somente uma lua
redonda espiando através de uma fina camada de nuvens. Os músculos dos seus
braços estão relaxados; suas mãos descansam na parte de trás do pescoço. Ele
parece quase confortável, segurando aquela arma no seu ombro.
Eu fecho meus olhos brevemente. Por que ele me distrai tão facilmente?
Eu preciso me focar.
O que eu diria se pudesse gritar acima da discussão atrás de mim? Nós
não podemos agir até descobrir a localização do outro time. Eles poderiam estar
em qualquer lugar num raio de dois quilômetros, embora eu tenha que excluir o
pântano como uma opção. O melhor jeito de achá-los não é argumentar sobre como
procurar por eles, ou quantas pessoas mandar numa equipe de busca.
É escalar o mais alto possível.
Eu olho por cima do meu ombro para ter certeza de que ninguém está
assistindo. Nenhum deles olha para mim, então ando na direção da roda-gigante
com passos silenciosos e leves, pressionando a minha arma nas costas com uma
mão para impedi-la de fazer barulho.
Quando olho para a roda-gigante do chão, minha garganta fica apertada. É
mais alta do que pensei, tão alta que eu mal consigo ver os carros balançando
no topo. A única coisa boa sobre a sua altura é que ela é feita para suportar
peso. Se eu escalar, não irá desmoronar abaixo de mim.
Meu coração bate mais rapidamente. Eu realmente irei arriscar minha vida
para vencer um jogo que os Audaciosos gostam de jogar?
Está tão escuro que eu mal consigo vê-los, mas quando olho para os
grandes suportes enferrujados segurando a roda no lugar, vejo os degraus de uma
escada. Cada suporte tem somente a largura dos meus ombros, e não há grades nas
quais me segurar, mas escalar uma escada é melhor que escalar os aros da roda.
Eu agarro um suporte. É enferrujado, fino e parece poder desfazer-se em
minhas mãos. Mas coloco peso no degrau mais baixo, testo-o e pulo para ter
certeza de que ele irá me manter. O movimento machuca minhas costelas, e eu
estremeço.
— Tris — uma voz baixa diz atrás de mim.
Eu não sei por que isso não me assusta. Talvez porque eu finalmente
esteja me tornando Audaciosa, e prontidão é uma coisa que eu deveria
desenvolver. Talvez porque a sua voz é baixa, suave e quase reconfortante.
Qualquer que seja a razão, eu olho por cima do meu ombro. Quatro está
parado atrás de mim com a sua arma jogada sobre suas costas, assim como a
minha.
— Sim?
— Eu vim para descobrir o que você acha que está fazendo.
— Estou procurando por um ponto mais alto — respondo. — Eu não acho que estou fazendo nada.
Eu vejo o seu sorriso no escuro.
— Tudo bem. Eu estou indo.
Eu paro por um segundo. Ele não olha para mim do mesmo modo que Will,
Christina e Al olham algumas vezes – como se eu fosse muito pequena e muito
fraca para ser útil para algo, e eles tem pena de mim por isso. Mas se ele insiste
em vir comigo, provavelmente é porque duvida de mim.
— Eu ficarei bem — eu falo.
— Sem dúvidas — ele replica.
Eu não ouço o sarcasmo, mas sei que está lá. Tem que estar.
Eu escalo, e quando estou a alguns metros do chão, ele vem atrás de mim.
Ele se move mais rapidamente do que eu, e logo as suas mãos acham o degrau
quando os meus pés o deixam.
— Então me diga... — ele sussurra enquanto nós escalamos. Ele soa sem fôlego. — Para
você, qual o propósito desse exercício? O jogo, eu quero dizer, não a escalada.
Eu olho para baixo, para o pavimento. Parece distante agora, mas não
estou nem a um terço da subida. Acima de mim há uma plataforma, bem abaixo do
centro da roda. Esse é o meu destino. Eu nem penso em como vou descer. A brisa
que roçava as minhas bochechas mais cedo agora pressiona a minha lateral.
Quanto mais alto nós vamos, mais forte ela fica. Preciso estar pronta.
— Aprender sobre estratégia — eu falo — trabalho em equipe, talvez.
— Trabalho em equipe — ele diz.
Uma risada sai de sua garganta. Soa como uma respiração apavorada.
— Talvez não — eu falo. — Trabalho em equipe não parece ser uma prioridade da Audácia.
O vento está mais forte agora. Eu pressiono mais próximo ao suporte
branco para que eu não caia, mas isso torna a escalada difícil. Abaixo de mim,
o carrossel parece pequeno. Mal posso ver meu time debaixo daquela tenda.
Alguns deles estão faltando – uma equipe de busca deve ter saído.
Quatro fala:
— Deve ser uma prioridade. Costumava ser.
Mas eu não estou realmente escutando, porque a altura é vertiginosa.
Minhas mãos doem por segurar os degraus, e minhas pernas estão tremendo, mas
não tenho certeza do porquê. Não é a altura que me assusta – a altura me faz
sentir viva; com energia, órgãos, veias e músculos, todos cantando no mesmo
tom.
E então eu percebo o que é. É ele. Algo sobre ele me faz sentir como se
eu estivesse prestes a cair. Me tornar líquida. Ou explodir em chamas.
Minha mão quase perde o próximo degrau.
— Agora me diga... — ele diz sob uma respiração resfolegante. — O que você acha que aprender
estratégia tem a ver com... bravura?
A pergunta me lembra que ele é o meu instrutor, e eu devo aprender algo
de tudo isso. Uma nuvem passa sobre a lua, e a luz muda sobre as minhas mãos.
— Isso... isso te prepara para a ação — eu falo finalmente. — Você
aprende estratégia para que possa usá-la — eu o ouço respirar atrás de mim,
alto e rápido. — Você está bem, Quatro?
— Você é humana, Tris? Estar a essa altura... — ele
traga por ar. — Isso não te assusta?
Eu olho por cima do ombro para o chão. Se eu cair, vou morrer. Mas não
acho que vou cair.
Uma rajada de vento pressiona meu lado esquerdo, jogando o peso do meu
corpo para a direita. Eu engasgo e me agarro a um degrau, meu equilíbrio
incerto. A mão fria do Quatro segura um dos meus quadris, um dos seus dedos
achando uma tira de pele nua debaixo da bainha da minha camiseta.
Ele aperta, me estabilizando e me empurrando gentilmente para a
esquerda, restaurando meu equilíbrio.
Agora eu não consigo respirar. Eu paro, olhando para as minhas mãos, minha boca
seca. Sinto o fantasma de onde as suas mãos estavam, seus dedos longos e
estreitos.
— Você está bem? — ele pergunta baixinho.
— Sim — eu falo, minha voz tensa.
Continuo escalando, quietamente, até eu alcançar a plataforma. A julgar
pelas pontas cegas das hastes de metal, isso tinha grades, mas não mais. Eu me
sento e me arrasto para o fim dela para que Quatro tenha um lugar para sentar.
Sem pensar, coloco minhas pernas para o lado. Quatro, no entanto, agacha-se e
pressiona suas costas no suporte de metal, respirando pesadamente.
— Você tem medo de altura — eu falo. — Como sobrevive no complexo da Audácia?
— Eu ignoro o meu medo. Quando tomo decisões, finjo que ele não existe.
Eu o encaro por um segundo. Não posso evitar. Para mim há uma diferença
entre não estar com medo e agir apesar do medo, como ele faz.
Eu o encarei por muito tempo.
— O quê?
— Nada.
Olho para longe dele em direção à cidade. Tenho que me focar. Eu escalei
aqui por uma razão.
A cidade é negra como tinta, e mesmo que não fosse, eu não seria capaz
de ver muito mais longe. Um prédio está no meu caminho.
— Nós não estamos alto o bastante — eu falo.
Olho para cima. Acima de mim há um emaranhado de barras brancas, o
andaime da roda. Se eu escalar cuidadosamente, posso encaixar meus pés entre os
suportes e as barras e ficar a salvo. Ou tão a salvo quanto possível.
— Eu vou escalar — digo, ficando de pé.
Eu seguro uma das barras acima da minha cabeça e me empurro para cima.
Dor lancinante atravessa meu lado machucado, mas eu a ignoro.
— Pelo amor de Deus, Careta — diz Quatro.
— Você não tem que me seguir — respondo, olhando para o labirinto
de barras acima de mim.
Coloco meu pé no lugar onde duas barras se cruzam e me empurro para
cima, agarrando outra barra no processo. Eu oscilo por um segundo, meu coração
batendo tão forte que não posso sentir mais nada – embora eu tenha me misturado
com batida do meu coração, me movendo no mesmo ritmo.
— Sim, eu preciso — ele diz.
É loucura, e eu sei disso. Uma fração de centímetro de erro, meio
segundo de hesitação, e minha vida está acabada. Calor se espalha pelo meu
peito e eu sorrio conforme agarro a próxima barra. Me empurro para cima, meus
braços tremendo, e forço a minha perna abaixo de mim, então estou em outra barra.
Quando me sinto estável, olho para baixo, para Quatro. Mas ao invés de vê-lo,
eu vejo o chão.
Eu não posso respirar.
Imagino meu corpo em queda livre, batendo nas barras enquanto ele cai, e
meus membros em ângulos quebrados no asfalto, assim como a irmã de Rita quando
ela não conseguiu chegar ao telhado. Quatro agarra uma barra com cada mão e se
impulsiona para cima, facilmente, como se estivesse se sentando na cama. Mas
ele não está confortável ou natural aqui – cada músculo no seu braço está estendido.
É uma coisa estúpida para pensar quando estou a trinta metros do chão.
Eu agarro outra barra, acho outro lugar para colocar meu pé. Quando olho
para a cidade novamente, o prédio não está no meu caminho. Estou alta o
bastante para ver o horizonte. A maior parte dos prédios é negra contra o céu
marinho, mas as luzes vermelhas no topo estão acesas. Elas piscam quase tão
rapidamente quanto as batidas do meu coração.
Abaixo dos prédios, as ruas parecem túneis. Por alguns segundos eu só
vejo um cobertor negro em cima da terra na minha frente, somente algumas
diferenças tênues entre prédios e céu, rua e chão. Então vejo uma pequena luz
pulsante no chão.
— Vê aquilo? — eu falo, apontando.
Quatro para de escalar quando ele está bem atrás de mim e olha por cima
do meu ombro, seu queixo próximo à minha cabeça. Seu fôlego treme contra minha
orelha, e eu me sinto trêmula de novo, como quando estava subindo a escada.
— Sim — ele diz. Um sorriso se espalhando pelo seu rosto.
— Está vindo do parque, no fim do cais — ele diz. — Imaginei.
Está cercado por espaço aberto, mas as árvores providenciam alguma camuflagem.
Obviamente não o bastante.
— Certo — eu falo.
Eu olho por cima do meu ombro para ele. Nós estamos tão próximos que eu
me esqueço onde estou; ao invés disso, noto que os cantos da sua boca
declinam-se naturalmente, assim como os meus, e que ele tem uma cicatriz no
queixo.
— Hum... — eu limpo minha garganta. — Comece a descer. Eu te seguirei.
Quatro acena e começa a descer. Sua perna é tão longa que ele acha um
lugar facilmente para colocar o pé e guia seu corpo pelas barras. Até na
escuridão, eu vejo que suas mãos estão brilhantes e vermelhas, tremendo.
Eu desço um pé, colocando meu peso em uma das barras. A barra quebra
abaixo de mim e se solta, tilintando contra meia dúzia de outras barras no seu
caminho e batendo contra o pavimento. Eu estou pendurada no andaime com meus
dedos balançando no ar. Um suspiro estrangulado escapa de mim.
— Quatro!
Eu tento achar outro lugar para colocar meu pé, mas o próximo ponto de
apoio está a muitos centímetros de distância, mais longe do que eu possa
alcançar. Minhas mãos estão suadas. Eu me lembro de limpá-las nas minhas calças
antes da Cerimônia de Escolha, antes do teste de aptidão, antes de cada momento
importante, e suprimo um grito. Eu vou escorregar. Eu vou escorregar.
— Segure-se! — ele grita. — Só segure-se, eu tenho uma ideia.
Ele continua descendo. Está se movendo na direção errada; ele deveria
vir na minha direção, não se afastar de mim. Eu encaro as minhas mãos, que
estão apertando a barra estreita, tão firmemente que minhas juntas estão
brancas. Meus dedos estão num tom vermelho escuro, quase roxo. Eles não vão
durar muito.
Eu não vou durar muito.
Fecho meus olhos. Melhor não olhar. Melhor fingir que nada disso existe.
Eu ouço os tênis de Quatro rangerem contra o metal e passos rápidos nos degraus
da escada.
— Quatro! — eu grito.
Talvez ele tenha ido embora. Talvez ele tenha me abandonado. Talvez isso
seja um teste da minha força, da minha coragem. Eu inspiro pelo meu nariz e
expiro pela minha boca. Conto minhas respirações para me acalmar. Um, dois.
Inspira, expira. Vamos lá, Quatro, é tudo que eu posso pensar. Vamos lá, faça algo.
Então eu ouço algo chiar e ranger. A barra que estou segurando estremece,
e eu grito pelos meus dentes fechados e luto para manter meu aperto.
A roda está se movendo.
Ar envolve meus tornozelos e pulsos conforme o vento brota, como um
gêiser. Eu abro meus olhos. Estou me movendo – em direção ao chão. Dou risada,
tonta e histérica conforme o chão se aproxima mais e mais. Mas eu estou
ganhando velocidade. Se não pular na hora certa, os carros se movendo e os
andaimes de metal irão arrastar meu corpo e me levar com eles, e então eu
realmente vou morrer.
Cada músculo do meu corpo fica tenso enquanto eu me precipito contra o
chão. Quando consigo ver as rachaduras na calçada, eu largo, e meu corpo bate
no chão, pés primeiro. Minhas penas desabam debaixo de mim e eu puxo meus
braços, rolando o mais rápido que posso para o lado. O cimento arranha meu
rosto, e eu me viro a tempo de ver um carro vindo na minha direção, como um
sapato gigante prestes a me esmagar. Eu rolo novamente, e o fundo do carro
desliza sobre meu ombro.
Estou salva.
Pressiono minhas mãos no rosto. Eu não tento me levantar. Se eu
tentasse, tenho certeza de que cairia de volta no chão. Eu ouço passos, e as
mãos de Quatro envolvem os meus pulsos. Eu o deixo tirar as minhas mãos dos
meus olhos.
Ele envolve uma das minhas mãos perfeitamente entre as suas. O calor da
sua pele sobrecarrega a dor dos meus dedos por segurar as barras.
— Você está bem? — ele pergunta, pressionando nossas mãos juntas.
— Sim.
Ele começa a rir.
Depois de um segundo, eu também dou risada. Com minha mão livre, me
empurro para sentar. Estou ciente do pouco espaço entre a gente – quinze
centímetros, no máximo. Aquele espaço parece carregado com eletricidade. Eu
sinto que deveria ser menor.
Ele fica de pé, me puxando junto com ele. A roda continua se movendo,
criando um vento que joga meu cabelo para trás.
— Você deveria ter me falado que a roda ainda funcionava — tento
soar casual — não teríamos que escalá-la em primeiro lugar.
— Eu teria, se soubesse — ele diz. — Eu não poderia te deixar pendurada lá, então arrisquei. Vamos lá, hora
de pegar a bandeira deles.
Quatro hesita por um momento e então pega o meu braço, as pontas dos
seus dedos pressionando a parte interna do meu cotovelo. Nas outras facções,
ele teria me dado tempo para recuperar, mas ele é da Audácia, então sorri para
mim e começa a andar para o carrossel, onde os membros do nosso time guardam a
nossa bandeira. E eu meio corro, meio coxeio ao lado dele. Ainda me sinto
fraca, mas minha mente está acordada, especialmente com as mãos dele em mim.
Christina está empoleirada num dos cavalos, suas longas pernas cruzadas
e suas mãos ao redor da vara de que segura o animal de plástico no lugar. Nossa
bandeira está atrás dela, um triângulo brilhante no escuro. Três iniciantes
nascidos na Audácia estão parados entre os animais sujos e desgastados. Um
deles tem uma de suas mãos na cabeça do cavalo, e um olho riscado do cavalo me
encara pelos seus dedos. Sentada na outra ponta do carrossel há uma Audaciosa
mais velha, coçando a sua sobrancelha quatro vezes perfurada com o seu polegar.
— Para onde os outros foram? — pergunta Quatro.
Ele parece tão animado quanto eu, seus olhos arregalados com energia.
— Você ligou a roda? — a garota mais velha diz. — Que diabos você estava pensando? Você também poderia ter gritado Nós estamos aqui! Venha nos pegar! — ela balança a cabeça. — Se eu
perder novamente esse ano, a vergonha será insuportável. Três anos
consecutivos?
— A roda não importa — diz Quatro. — Nós sabemos onde eles estão.
— Nós? — Christina pergunta, olhando do Quatro para mim.
— Sim, enquanto o resto de vocês estava girando seus polegares, Tris
escalou a roda-gigante para ver o outro time — ele diz.
— O que nós fazemos agora, então? — pergunta um iniciante nascido na
Audácia através de um bocejo.
Quatro olha para mim. Lentamente, os olhos dos outros iniciantes,
incluindo Christina, mudam dele para mim. Meus ombros ficam tensos, a ponto de
dar de ombros e dizer que eu não sei, e então uma imagem do cais se estendendo
abaixo de mim vem na minha mente. Eu tenho uma idéia.
— Dividir ao meio — eu falo. — Quatro de nós vão para o lado direito do cais, três para o esquerdo. O
outro time está no parque no final do cais, então o grupo de quatro irá atacar
enquanto o grupo de três se esgueira por trás do outro time e pega a sua
bandeira.
Christina olha para mim como se ela não me reconhecesse. Eu não a culpo.
— Parece bom — diz a garota mais velha, batendo as suas mãos juntas. — Vamos
acabar com isso, não?
Christina se junta a mim no grupo indo pela direita, junto com Uriah,
cujo sorriso parece branco contra a sua pele de bronze. Eu não notei antes, mas
ele tem uma tatuagem de cobra atrás de sua orelha. Eu encaro a cauda curvada ao
redor do seu lóbulo por um momento, mas então Christina começa a correr e eu
tenho que segui-la.
Tenho que correr duas vezes mais rápido para combinar os meus passos
curtos com os seus longos. Conforme corro, percebo que somente um de nós irá
pegar a bandeira, e não importa se é meu plano e minha informação que nos
trouxe aqui, se eu não pegar a bandeira. Embora eu mal possa respirar como estou
eu corro mais rápido, e estou nos calcanhares de Christina.
Empurro a minha arma contra o meu corpo, segurando o dedo sob o gatilho.
Nós chegamos ao fim do cais e eu mantenho minha boca fechada para manter minha
respiração alta presa. Desaceleramos para que nossos passos não sejam tão
altos, e eu procuro pela luz oscilante novamente. Agora que estou no chão, é
maior e mais fácil de ver. Eu aponto, e Christina acena, liderando o caminho na
direção da luz.
Então ouço um coro de gritos, tão altos que eles me fazem pular. Ouço
sopros de ar conforme as bolas de tinta saem voando e respingam quando acham
seus alvos. Nosso time atacou, o outro time corre para nos enfrentar, e sua
bandeira fica quase desprotegida. Uriah pega munição e atira no último guarda
na coxa. A guarda, uma garota baixa com cabelo roxo, atira a a arma no chão
numa birra.
Eu corro para encontrar Christina. A bandeira está pendurada no galho de
uma árvore, alto sobre a minha cabeça. Eu tento pegá-la, e Christina também.
— Vamos lá, Tris — ela diz. — Você já é a heroína do dia. E sabe que não pode alcançá-la de qualquer
maneira.
Ela me dá um olhar paternalista, o jeito como as pessoas olham de vez em
quando para crianças quando elas agem como adultas, e pega a bandeira do galho.
Sem olhar para mim, ela se vira e dá um pulo de vitória. A voz de Uriah se
junta a dela e então eu ouço um coro de gritos à distância.
Uriah bate no meu ombro, e eu tento esquecer o olhar que Christina me
deu. Talvez ela esteja certa; eu já me provei hoje. Não quero ser gananciosa;
não quero ser como Eric, assustada com a força das outras pessoas.
Os gritos de triunfo são contagiantes, e eu levanto a minha voz para
participar, correndo em direção aos meus colegas de time. Christina segura a
bandeira para cima, e todos se aglomeram ao seu redor, agarrando seu braço para
levantar a bandeira ainda mais alto. Eu não posso alcançá-la. Então fico de
lado, sorrindo.
Uma mão toca meu ombro.
— Bom trabalho — Quatro diz baixinho.
+ + +
— Eu não acredito que perdi isso! — Will diz novamente, balançando a
cabeça.
O vento vindo do vão da porta do trem joga seu cabelo para todas as
direções.
— Você estava desempenhando o papel muito importante de ficar fora do
caminho — diz Christina, radiante.
Al resmunga:
— Por que eu tinha que ficar no outro time?
— Porque a vida não é justa, Albert. E o mundo está conspirando contra
você — Will responde.
— Ei, eu posso ver a bandeira novamente?
Peter, Molly e Drew sentam entre os membros no canto. Seus peitos e
costas estão salpicados com tinta azul e rosa, e eles parecem abatidos. Eles
falam baixo, jogando olhares para o resto de nós, especialmente Christina.
Esse é o benefício de não segurar a bandeira agora – eu não sou o alvo
de ninguém. Ou pelo menos, não mais do que o usual.
— Então você escalou a roda-gigante, hein — diz Uriah.
Ele tropeça através do carro e se senta perto de mim. Marlene, a garota
com o sorriso paquerador, o segue.
— Sim — respondo.
— Muito esperto de você. Esperto como... Erudição — Marlene
diz. — Eu sou Marlene.
— Tris — eu falo.
Em casa, ser comparada com um Erudito seria um insulto, mas ela diz como
um elogio.
— Sim, eu sei quem você é. O primeiro a pular costuma ficar na sua cabeça.
Faz anos desde que pulei de um prédio com o meu uniforme de Abnegação;
faz anos.
Uriah pega uma das bolinhas de tinta de sua arma e a espreme entre seu
polegar e dedo indicador. O trem guina para a esquerda e Uriah cai em cima de
mim, seus dedos beliscando a bolinha até que um fluxo de tinta rosa malcheirosa
pulveriza meu rosto.
Marlene cai em risadas. Eu limpo parte da tinta no meu rosto,
lentamente, e então esfrego na bochecha dele. O cheiro de óleo de peixe flui
através do trem.
— Eca! — ele aperta a bola para mim novamente, mas a abertura está do ângulo
errado e ele espirra tinta em sua boca ao invés. Ele tosse e faz um som
exagerado de risadas.
Eu limpo meu rosto com a manga. Estou rindo tanto que meu estômago dói.
Se toda a minha vida fosse assim, altas risadas, ações ousadas e o tipo
de exaustão depois de um dia difícil mas gratificante, eu ficarei contente.
Conforme Uriah raspa sua língua com as pontas dos dedos, percebo que tudo o que
tenho que fazer é passar pela iniciação, e então essa vida será minha.
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