sábado, 29 de março de 2014

Capítulo 14

Amy era a favor de correr para a ilha de Saint-Louis, mas seu estômago tinha outras ideias. Eles passaram por uma boulangerie, que devia ser uma padaria, a julgar pelo cheiro apetitoso, e trocaram olhares entre si.
— Só uma paradinha — disseram juntos.
Alguns minutos depois estavam sentados no cais do rio, compartilhando a melhor refeição que já tinham comido. Era apenas um pão, mas Amy nunca provara nada tão gostoso.
— Está vendo aquilo? — Amy apontou para o topo de uma igreja ali perto, onde uma haste de ferro preto se erguia da torre do sino. — É um para-raios.
— Ahã — Dan respondeu de boca cheia.
— Os franceses foram os primeiros a testar as teorias de Franklin sobre os para-raios. Muitos prédios antigos ainda têm modelos originais de Franklin.
— Mmm! — Dan disse entusiasmado, mas Amy não teve certeza se ele estava gostando da história ou do pão.
O sol estava se pondo atrás de uma muralha de nuvens negras. Trovões ressoavam ao longe, mas os parisienses não pareciam muito preocupados. A beira do rio estava lotada de gente correndo e andando de patins. Um barco cheio de turistas seguia roncando pelo Sena.
Amy tentou ligar para Nellie do celular dos Starling, mas o telefone estava mudo. Pelo jeito, não estava programado para receber sinal na França.
Seus nervos ainda estavam afetados pela invasão da base Lucian. Apesar de toda aquela segurança, ainda parecia que eles tinham entrado e saído dali com muita facilidade e ela não sabia direito por quê. Ela também não gostava daquelas coisas que Dan tinha roubado – a pilha de Franklin e a estranha bola de metal. No entanto, não era boba de discutir com ele sobre isso. Quando ele punha as mãos em alguma coisa, quase nunca largava.
Ela se perguntou como Irina Spasky teria tomado o livro do tio Alistair, e por que estaria interessada na ilha de Saint-Louis. Parecia uma armadilha, mas era a única pista que Amy tinha, ou pelo menos a única em que queria pensar. A anotação da sua mãe no Almanaque do Pobre Richard – Sigam Franklin. O Labirinto dos Ossos – ainda a deixava arrepiada.
Amy tentou imaginar o que a mãe ou Grace fariam em seu lugar. Elas seriam mais corajosas. Saberiam com mais clareza o que fazer. A mãe dela uma vez já havia procurado as mesmas pistas. Amy agora tinha certeza disso. Grace queria que a neta enfrentasse o desafio, mas e se ela não estivesse à altura?
Até agora, ela tinha a sensação de estar fazendo um péssimo serviço. Sempre que precisava falar em voz altanão conseguia. As outras equipes provavelmente a achavam patética,  gaguejando daquele jeito. Se não fosse por Dan, ela estaria perdida. Só de pensar nisso, sentia um nó se formar na garganta.
Eles terminaram de comer o pão. Amy sabia que precisavam ir logo. Ela olhou para o céu que escurecia e tentou lembrar detalhes dos guias turísticos de Paris.
— Não tem linhas de metrô para a ilha de Saint-Louis. Vamos ter que ir a pé.
— Vamos lá! — Dan ficou de pé num pulo.
Amy não acreditou na rapidez com que ele tinha recuperado o ânimo. Alguns minutos atrás, estava reclamando de dor nos pés e da mochila pesada. Agora, só com um pedaço de pão, estava novinho em folha. Amy queria ser assim. Ela tinha vontade de se deitar e dormir por um século, mas não ia dizer isso a Dan.
Já estava escuro quando eles chegaram à ponte Louis-Philippe. A velha ponte de pedra era ladeada de postes de luz que brilhavam refletidos na água. Do outro lado, erguia-se um amontoado de árvores e mansões, a ilha de Saint-Louis. Ao norte havia uma ilha maior, com uma enorme catedral iluminada em amarelo.
— Aquela ali é a ilha de la Cité. — Amy disse enquanto eles atravessavam a ponte, mais para se manter calma do que para outra coisa. — E aquela é a catedral de Notre-Dame.
— Legal! Será que dá pra ver o corcunda?
— Hmmm... talvez mais tarde. — Amy decidiu não contar que o corcunda de Notre-Dame era só um personagem de um livro. — Enfim, essa ilha menor aonde nós vamos, a Saint-Louis... os guias turísticos não diziam quase nada sobre ela. A maior parte da ilha são casas antigas, lojas e coisas assim. Não sei por que Irina estaria procurando alguma coisa aqui.
— Nada a ver com a história de Ben Franklin?
Amy fez que não com a cabeça.
— Antigamente era chamada de Ilha das vacas, pois só vacas viviam aqui. Então a transformaram num bairro.
— Vacas — disse Dan. — Emocionante.
Depois das outras partes de Paris que eles tinham visto, a ilha de Saint-Louis parecia uma cidade-fantasma. As ruas estreitas eram ladeadas de velhos prédios elegantes de cinco andares e telhados pretos. A maioria das janelas estava escura. Muitas lojas estavam fechadas. Postes de luz lançavam sombras estranhas por entre os galhos das árvores, desenhando monstros nas paredes. Amy era crescida o suficiente para não acreditar em monstros, mas mesmo assim ficou perturbada com as sombras.
Um casal de idosos atravessou a rua na frente deles. Amy se perguntou se seria sua imaginação ou se eles de fato tinham lançado um olhar suspeito na sua direção antes de sumir numa viela. No quarteirão seguinte, um homem de boina estava passeando com um labrador. Ele sorriu ao passar pelos dois irmãos, mas seu rosto fez Amy pensar em Ian Kabra – como se ele soubesse um segredo
Você só está ficando paranoica, ela disse a si mesma. Ou seria possível que outras pessoas estivessem procurando as pistas, pessoas que nem faziam parte das sete equipes? Ela olhou para Dan, mas decidiu não falar nada a respeito... ainda não. Já bastava a competição para eles se preocuparem.
Depois de mais uns cem metros, eles acharam a Rua des Jardins. Era mais estreita que as ruas em volta, com prédios de pedra antiga que talvez estivessem ali havia séculos.
Amy estava contando os números da rua, quando parou de repente.
— Dan... Rua des Jardins, 23. Tem certeza?
— Tenho. Por quê?
Amy apontou. Não havia prédio nenhum no número 23. Em vez disso, rodeado por uma cerca de ferro enferrujado, havia um minúsculo cemitério. Nos fundos, erguia-se um mausoléu de mármore. Na frente, uma dúzia de lápides castigadas pelo tempo, inclinadas em várias direções, como dentes tortos.
O cemitério ficava entre dois prédios altos. No da direita se lia a palavra “MUSÉE”. O da esquerda devia ter sido algum tipo de loja em outra época, mas as janelas estavam pintadas de preto e havia tábuas de madeira bloqueando a porta. A única luz era o leve brilho alaranjado do céu da cidade, que tornava o lugar ainda mais sinistro.
— Não gosto disso — disse Amy. — Esse lugar não pode ter nenhuma conexão com Franklin.
— Como você sabe? Nem procuramos ainda. E estes túmulos parecem legais!
— Não, Dan. Você não pode fazer decalques das lápides com carvão.
— Ah... — Ele passou pelo portão do cemitério, e Amy não teve escolha senão segui-lo.
Os túmulos não diziam nada aos dois. Em outros tempos talvez tivessem epitáfios, porém os séculos alisaram as superfícies. O pulso de Amy estava acelerado. Havia alguma coisa errada. Ela mexeu e remexeu no cérebro, tentando entender por que aquele lugar teria sido importante para Ben Franklin, entretanto não conseguiu pensar em nada.
Com cuidado, aproximou-se do mausoléu. Ela sempre detestou túmulos acima do chão. Lembravam casas de boneca para gente morta.
As portas de ferro estavam abertas. Amy hesitou em se aproximar. A três metros de distância, não conseguia ver nada de especial lá dentro – apenas velhas placas com nomes forrando as paredes. No entanto, uma placa de mármore jazia no chão em frente à porta. Com um susto, Amy percebeu que a inscrição era muito mais nova que o resto do cemitério. Parecia recém-entalhada.


— Opa — disse Dan. — Por que os nossos nomes...
— É algum tipo de mensagem... — Amy nunca quis tanto saber francês como naquele momento. Se conseguisse voltar para o hotel, prometeu a si mesma que faria Nellie lhe dar aulas.
— Vamos entrar, né? — disse Dan.
— Não, é uma armadilha!
Mas ele deu um passo à frente e o chão desabou. A placa de mármore despencou no vazio e Dan foi junto.
— Dan!
Ela correu até a borda do buraco, só que o chão não tinha terminado de desmoronar. Pedra e terra se rasgaram feito pano sob os pés dela, e Amy também caiu na escuridão.
Por um segundo ficou tonta demais para pensar. Tossiu, e seus pulmões se encheram de pó. Ela estava sentada em alguma coisa macia e quente...
— Dan! — Em pânico, ela saiu de cima do irmão e sacudiu os braços dele, mas estava escuro demais para enxergar. — Dan, por favor, esteja vivo!
— Uf — ele resmungou.
— Você está bem?
— Minha irmã sentou em cima de mim com a bunda ossuda dela. É claro que não estou bem.
Amy deu um suspiro de alívio. Se ele estava reclamando é porque devia estar bem. Ela ficou de pé, meio cambaleando, com terra e pedras deslizando sob seus pés. Olhou para cima e viu a boca do buraco tosco onde eles tinham caído.
— O chão era oco — ela disse em voz baixa. — A terra aqui é de calcário. Tem várias cavernas e túneis no subterrâneo de Paris. Acho que caímos em um deles por acidente.
— Acidente? A Irina nos atraiu pra cá de propósito!
Amy sabia que provavelmente ele tinha razão, mas não queria pensar nisso... nem no que podia acontecer depois. Eles precisavam sair dali. Ela tateou as paredes do buraco, mas era só aquilo mesmo: um buraco. Não havia túneis, nenhuma saída a não ser por cima. E eles tinham caído a mais de três metros de profundidade. Era um milagre não terem quebrado nenhum osso.
De repente, uma luz veio de cima e ofuscou a visão de Amy e Dan.
— Ora, ora — disse uma voz de homem.
— Arf! — fez um cachorro.
Quando os olhos de Amy se ajustaram à luz, ela viu cinco figuras de agasalho esportivo roxo sorrindo para eles, e um pit bull muito empolgado.
— Os Holt! — disse Dan. — Faz sentido. Vocês ajudaram Irina a armar isso pra nós!
— Ah, não vem com essa, fracote — Madison gritou. — Nós não armamos nada.
— É isso mesmo — disse Reagan. — Vocês caíram sozinhos.
Ela e Madison trocaram um “toca aqui” e caíram na gargalhada.
As mãos de Amy começaram a tremer. Era igualzinho aos seus pesadelos... presa num buraco, um monte de gente rindo dela. Mas aquilo era real.
— Então — Eisenhower Holt gritou. — É isso que vocês estavam procurando, pirralhos? Esse é o Labirinto dos Ossos?
O coração dela vacilou.
— Do que... do que você está falando?
— Ora, vamos, mocinha! Nós sabemos tudo sobre o Labirinto dos Ossos. Nós lemos oAlmanaque.
— Vocês estão com o livro? Mas Irina...
— Roubou de nós — rosnou Eisenhower. — Depois que nós roubamos do coreano. Então fomos vigiar o quartel-general dela, mas vocês entraram lá antes que conseguíssemos atacar. Agora vocês estão com o livro e vieram para cá, o que significa que sabem de alguma coisa que nós não sabemos.
— Mas nós não estamos com o livro! — Amy disse. — Nem tivemos chance de...
— Ora, vamos — disse Hamilton. O gel em seu cabelo loiro brilhava na noite. — Estava bem ali na página 52. BF: Labirinto dos Ossos, coordenadas no quadrado. Era a letra da sua mãe. Meu pai reconheceu.
Todo o corpo de Amy tremia. Ela odiava aquilo, contudo não conseguia evitar. Os Holt tinham lido mais do livro do que ela. Tinham encontrado outra mensagem de sua mãe:Labirinto dos Ossos, coordenadas no quadrado. Ela entendia a parte do Labirinto dos Ossos, ou pelo menos temia entender, mas coordenadas num quadrado?
— Eu... eu não sei o que isso quer dizer. Não estamos com o livro. Mas se vocês nos tirarem daqui, quem sabe podemos...
— Ah, lógico! — caçoou Madison. — Até parece que vamos ajudar vocês!
Eles começaram a rir de novo. Toda a família Holt estava tirando sarro dela.
— Por favor, parem — ela sussurrou. — Não...
— Ó, ela vai chorar. — Hamilton sorriu. — Cara, vocês dois são patéticos. Nem acredito que escaparam do incêndio e da bomba.
— O quê? — Dan gritou. — Foram vocês que botaram fogo na mansão da Grace? Vocêsdetonaram aquela bomba no museu?
— Para atrasar vocês — Eisenhower admitiu. — Devíamos ter dado uma surra em vocês pessoalmente. Desculpem-nos por isso.
Dan jogou uma pedra, mas ela passou voando inofensiva por entre as pernas de Reagan.
— Seus cretinos! Tirem a gente DAQUI!
Reagan franziu a testa, mas Madison e Hamilton começaram a gritar com Dan. Arnold latia. Amy sabia que aquilo não ia dar em nada. Eles precisavam convencer os Holt a tirá-los dali, mas ela não conseguia fazer sua voz funcionar. Tinha vontade de se encolher e se esconder.
Então sentiu o chão tremer. Ouviu-se um ronco forte como o de um grande motor. Os Holt viraram na direção da rua e pareceram perplexos com o que viram.
— Seus... espertinhos! — Eisenhower olhou feio para eles. — Isso foi uma emboscada, não foi?
— Do que você está falando? — Dan perguntou.
— Tem um caminhão bloqueando o portão! — disse Mary-Todd. — Uma betoneira.
— Pai, olhe — Reagan disse, nervosa. — Eles trouxeram pás.
O sensor de perigo de Amy começou a apitar. Dan olhou para ela, e ela soube que ele estava pensando a mesma coisa.
— Eles vão encher o buraco de cimento — disse Dan. — Não vão?
Ela fez que sim com a cabeça.
— Senhor Holt! — Dan pulava como Arnold, o cão, mas não conseguia alcançar o topo do buraco. — Vamos, vocês precisam nos tirar daqui! Vamos ajudar vocês!
O senhor Holt deu um bufo de desprezo.
— Vocês nos arrastaram para esta cilada! Além disso, vocês, fracotes não sabem brigar.
— Pai — disse Reagan. — Talvez seja melhor...
— Quieta — rosnou Hamilton. — Deixa isso com a gente!
— Reagan! — gritou Dan. — Vamos! Fala pra eles tirarem a gente daqui.
Reagan apenas franziu as sobrancelhas e ficou olhando para o chão.
Dan olhou para Amy, desesperado.
— Você precisa fazer alguma coisa. Diga a eles que entende o que o livro diz!
As palavras, porém, não vinham. A sensação de Amy era de que já estava coberta de cimento. Seu irmão precisava dela. Ela tinha que dizer alguma coisa. Mas apenas ficou ali paralisada, indefesa, se odiando por ser tão medrosa.
— EEEI! — Dan gritou para cima. — Amy sabe o que a pista significa! Ela vai contar pra vocês se nos tirarem daqui!
O senhor Holt fez uma careta. Amy sabia que ele não ia engolir aquilo. Eles ficariam presos ali para sempre, cobertos de cimento. Então o senhor Holt tirou a jaqueta do agasalho e a baixou para dentro do buraco.
— Segurem a manga — ele disse.
Em segundos, Amy e Dan estavam fora do buraco. De fato, uma betoneira tinha bloqueado os portões do cemitério. Seis brutamontes de macacão e capacete de segurança estavam enfileirados na cerca, carregando pás como se estivessem prontos para lutar.
— Muito bem, time — disse o senhor Holt com satisfação. — Vamos mostrar pra eles como é que se faz... no estilo Holt!
A família inteira correu para a frente. O senhor Holt agarrou a pá do primeiro brutamontes e a arremessou, com o homem ainda segurando nela, em direção à lateral da betoneira. JOIN!
As meninas, Madison e Reagan, deram uma cabeçada tão forte num brutamontes que ele voou para o outro lado da rua e quebrou a vitrine de uma floricultura. Arnold mordeu a perna do terceiro e a manteve presa com mandíbulas de ferro. Mary-Todd e Hamilton derrubaram o quarto na rampa atrás do caminhão. A cabeça dele bateu numa alavanca e começou a derramar cimento.
Infelizmente, ainda sobraram dois brutamontes, que correram direto para cima de Amy e Dan. O medo apertou a garganta de Amy. Ela reconheceu o rosto deles – eram os seguranças da base dos Lucian. Antes que ela tivesse tempo de pensar num plano, Dan abriu a mochila e tirou sua esfera prateada piscante.
— Dan, não! Você não pode fazer...
Mas ele fez.
Por mais que adorasse beisebol, Dan era o pior arremessador do mundo. A esfera passou voando pelos dois atacantes e explodiu aos pés do senhor Holt com um clarão amarelo ofuscante. O som foi como uma marreta acertando o maior tambor do mundo. Amy ficou vesga. Quando recuperou os sentidos, viu a família Holt inteira e os caras com quem eles estiveram brigando caídos no chão, nocauteados – exceto justamente os dois brutamontes que Dan tentara acertar. Eles só estavam atordoados, cambaleando e balançando a cabeça.
Amy olhou para Dan, horrorizada.
— O que você fez?
Dan parecia surpreso.
— Hmmm, acho que era uma granada de concussão. Como a que tinha no museu! Eu nocauteei eles.
Os dois brutamontes que ainda estavam de pé piscaram algumas vezes, depois focaram novamente em Dan e Amy. Eles não pareciam contentes.
— Corra!
Dan puxou Amy para trás do mausoléu, porém não havia para onde ir, apenas outra cerca de ferro e, uns poucos metros atrás, os fundos de um prédio. Eram paredes de tijolos, com quase 10 metros de altura.
Desesperados, eles escalaram a cerca assim mesmo. A camisa de Amy ficou enganchada no topo, porém Dan a soltou. Juntos eles se espremeram contra a parede dos fundos. Havia um beco. Não havia saída. Estavam encurralados. Se ao menos tivessem uma arma... e então Amy percebeu que o cérebro dela não estava mais paralisado pelo medo. A explosão a trouxera de volta a si. Ela sabia do que eles precisavam.
— Dan, a pilha de Franklin!
— De que isso vai servir?
Ela abriu a mochila dele e tirou a pilha. Os dois brutamontes avançaram com receio, provavelmente se perguntando se Dan tinha mais alguma granada. Amy desenrolou os fios de cobre da pilha e conferiu se as pontas estavam descascadas.
— Espero que esteja carregada.
— O que você está fazendo? — Dan perguntou.
— Franklin costumava fazer isso por diversão! Para assustar os amigos. Talvez se tiver fluído suficiente...
Os homens tinham chegado à cerca. Um deles rosnou alguma coisa em francês. Soou como uma ordem para os dois se renderem. Amy fez que não com a cabeça.
Os seguranças começaram a escalar a cerca, e Amy pulou para a frente. Ela encostou os fios na cerca e os homens gritaram de surpresa. Voaram faíscas azuis das barras de metal. Saiu fumaça das mãos dos brutamontes e eles caíram para trás, atordoados. Amy soltou a pilha.
— Vamos! — ela berrou.
Num piscar de olhos, eles pularam a cerca e saíram correndo do cemitério, passando pelos Holt inconscientes, pelos brutamontes e pela betoneira capotada.
Amy sentiu uma ponta de remorso por deixar os Holt nocauteados para trás, mas não havia escolha.
Os dois não pararam de correr até que chegaram à metade da ponte Louis-Philippe. Amy dobrou o corpo para a frente, fazendo esforço para respirar. Pelo menos eles estavam em segurança. Tinham sobrevivido à armadilha.
Mas, quando ela olhou para trás, viu uma coisa que a assustou mais que o cemitério. Parado nas sombras ao pé da ponte, uns cem metros atrás no caminho por onde eles tinham vindo, estava um homem alto de cabelo grisalho e sobretudo preto.
E Amy tinha certeza de que o homem estava olhando para eles.

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