É meio dia. Hora do almoço.
Sento em um corredor que não conheço. Andei até aqui por que precisava ficar longe do dormitório. Talvez se eu trouxer minha cama aqui, nunca vou ter que voltar para lá novamente. Pode ser minha imaginação, mas ainda cheira a sangue lá, mesmo depois de esfregar o chão até minhas mãos estarem feridas e alguém ter derramado água sanitária no chão esta manhã.
Eu aperto a ponta do meu nariz. Esfregar o chão quando ninguém mais queria era algo que minha mãe teria feito. Se eu não posso estar com ela, o mínimo que posso fazer é agir como ela às vezes.
Ouço pessoas se aproximando, seus passos ecoando no chão de pedra, e olho para os meus sapatos. Eu mudei de tênis cinza para tênis pretos há uma semana, mas os sapatos cinza estão guardados em uma das minhas gavetas. Não posso suportar ter que jogá-los fora, embora eu saiba que é tolice se ligar a um par de tênis, como se eles pudessem me levar para casa.
— Tris?
Eu olho para cima. Uriah para na minha frente. Ele acena para que os nascidos na Audácia sigam a caminhada sem ele. Eles se olham, mas seguem em frente.
— Você está bem? — ele pergunta.
— Eu tive uma noite difícil.
— É, ouvi sobre aquele cara, o Edward — Uriah olha para o corredor. Os nascidos na Audácia desaparecem em uma curva do corredor. Então ele sorri um pouco. — Você quer sair daqui?
— O quê? Aonde você vai?
— A um pequeno ritual de iniciação — ele diz. — Vamos, temos que nos apressar.
Eu considero brevemente as minhas opções. Posso ficar sentada aqui. Ou eu posso deixar o Complexo da Audácia.
Me levanto e me forço a correr com Uriah para alcançarmos os iniciados nascidos na Audácia.
— Os únicos iniciados que eles geralmente deixam vir são aqueles com irmãos mais velhos na Audácia — ele diz. — Mas eles nunca prestam atenção. Basta agir como se você fizesse parte de lá.
— O que exatamente nós estamos fazendo?
— Alguma coisa perigosa.
Um olhar que eu só posso descrever como uma mania Audaciosa entra em seus olhos, mas ao invés de recuar como eu faria semanas atrás, eu capturo esse olhar, como se ele fosse contagioso. Excitação substitui a sensação de peso dentro de mim. Nós andamos lentamente quando chegamos perto dos iniciados nascidos na Audácia.
— O que a Careta está fazendo aqui? — pergunta um menino com um anel de metal entre suas narinas.
— Ela só viu aquele cara ser esfaqueado no olho, Gabe — diz Uriah. — Dê a ela um tempo, ok?
Gabe encolhe os ombros e se afasta. Ninguém mais diz nada, embora alguns deles me olhem de soslaio como se estivessem me avaliando. Os iniciados nascidos Audácia são como uma matilha de cães. Se eu agir de forma errada, eles não vão me deixar correr com eles. Mas, por agora, eu estou segura.
Nós fomos para outro canto, e um grupo de outros membros ficaram na outra extremidade do lado do corredor. Há muitos deles para todos estarem relacionados com algum iniciante nascido na Audácia, mas começo a ver algumas semelhanças entre as faces.
— Vamos — um dos membros diz.
Ele se vira e entra por uma porta escura. Os outros membros o seguem, e nós seguimos também. Eu fico logo atrás de Uriah, e enquanto ando na escuridão, o meu pé tropeça em um passo. Eu me contenho antes de cair para frente e começo a subir.
— Escada dos fundos — diz Uriah, quase sussurrando. — Normalmente trancada.
Concordo, embora ele não possa me ver. Subo até que todos os degraus já se foram. Então, uma porta na parte superior da escadaria é aberta, deixando a luz do dia entrar. Nós emergimos do solo a algumas centenas de metros do edifício de vidro acima da Caverna, perto dos trilhos do trem.
Sinto como se tivesse feito isso mil vezes antes. Ouço a buzina do trem. Sinto vibrações do solo. Vejo a luz ligada para o carro chefe. Estalo meus dedos e salto uma vez na ponta dos pés.
Nós corremos como se fosse um único bloco ao lado do trem, e em ondas, membros e iniciados igualmente se empilham no trem. Uriah chega antes de mim, e pessoas se imprensam atrás de mim. Não posso cometer nenhum erro; eu me jogo de lado, pegando a alça do lado do trem, e iço-me para dentro. Uriah agarra meu braço para me firmar.
O trem pega velocidade. Uriah e eu sentamos contra uma das paredes.
Eu grito sobre o vento:
— Para onde nós estamos indo?
Uriah encolhe os ombros.
— Zeke nunca me disse.
— Zeke?
— Meu irmão mais velho — ele aponta para um menino do outro lado da sala sentado na porta com as pernas balançando para fora do trem.
— Você não precisa saber. Isso estraga a surpresa! — A menina à esquerda diz. Ela estende sua mão. — Eu sou Shauna.
Eu agito a mão dela, mas não pego forte o suficiente e solto demasiado depressa. Duvido que eu vá melhorar o meu aperto de mão. É uma sensação anormal apertar a mão de estranhos.
— Eu sou... — começo a dizer.
— Eu sei quem você é — ela interrompe — você é a Careta. Quatro me contou sobre você.
Oro para que o calor no meu rosto não seja visível.
— Oh? O que ele disse?
Ela se desfaz em risos para mim.
— Ele disse que você era Careta. Por que você pergunta?
— Se o meu instrutor está falando de mim — eu digo, tão firmemente quanto posso — quero saber o que está dizendo — espero ter dito uma mentira convincente. — Ele não está vindo, não é?
— Não. Ele nunca vem para isso.
— Provavelmente perdeu seu encanto. Muito pouco o assusta, você sabe.
Ele não está vindo. Algo em mim se esvaziou como um balão desamarrado. Eu ignorei e acenei com a cabeça. Sei que Quatro não é um covarde. Mas também sei de pelo menos uma coisa que o assusta: altura. Qualquer coisa que ele faça, começa com ele caindo fora de alturas. Ela não deve saber que quando ela fala dele sai como uma reverência em sua voz.
— Você o conhece bem? — pergunto.
Eu sou muito curiosa, sempre fui.
— Todo mundo conhece Quatro — diz ela. — Nós estávamos juntos na mesma iniciação. Eu era ruim em combate, então ele me ensinou todas as noites depois que todos estavam dormindo — ela arranha a nuca, sua expressão repentinamente séria. — Gentil da parte dele.
Ela se levanta e fica atrás dos membros efetivos na porta. E em um segundo, a sua expressão séria vai embora, mas eu ainda me sinto abalada com o que ela disse, meio confusa com a ideia de Quatro sendo bom e a outra metade querendo dar um soco nela sem motivo aparente.
— Aqui vamos nós! — grita Shauna.
O trem não abranda, mas ela se joga para fora do vagão. Os outros membros a seguem, uma corrente de roupas pretas. As pessoas não são muito mais velhas que eu. Eu estou na porta ao lado de Uriah. O trem está indo muito mais rápido do que em todas as outras vezes que pulei, mas não posso perder os meus nervos agora, em frente de todos estes membros. Então eu salto batendo no chão duro e tropeçando alguns passos à frente antes de recuperar o meu equilíbrio.
Uriah e eu corremos para chegar até os membros, juntamente com os outros iniciados, que mal olham em minha direção.
Olho em volta enquanto ando. O centro está atrás de nós, negro contra as nuvens, mas os edifícios em torno de mim são escuros e silenciosos. Isso significa que devemos estar ao norte da ponte, onde a cidade está abandonada.
Nós viramos uma esquina e espalhamos, enquanto caminhamos pela Avenida Michigan. Ao sul da ponte, a Avenida Michigan é uma rua movimentada, amontoada com pessoas, mas aqui está vazia.
Assim que levanto meus olhos analiso os edifícios, sei para onde estamos indo: o vazio edifício Hancock, um pilar negro com vigas entrecruzadas, o edifício mais alto ao norte da ponte.
Mas o que vamos fazer? Escalar?
À medida que nos aproximamos, os membros começam a correr, e Uriah e eu corremos para alcançá-los. Empurrando uns aos outros com os cotovelos, eles empurram através de um conjunto de portas na base de edifício. O vidro em uma delas está quebrado, ficando apenas a moldura. Eu avanço através dela em vez de abri-la e sigo os membros através de uma estranha e escura via de entrada, esmagando vidro quebrado debaixo dos meus pés.
Espero que a gente vá até as escadas, mas paramos no elevador.
— Os elevadores funcionam? — eu pergunto a Uriah, o mais silenciosamente possível.
— Claro que eles funcionam — diz Zeke, revirando os olhos. — Você acha que eu sou estúpido o suficiente para não entrar aqui mais cedo e ligar o gerador de emergência?
— Sim — responde Uriah. — Eu meio que acho.
Zeke olha para seu irmão, então o prende pela cabeça e esfrega seus cabelos. Zeke pode ser menor que Uriah, mas deve ser mais forte. Ou, pelo menos, mais rápido. Uriah beija seu braço pela lateral e Zeke o solta.
Sorrio com a visão de cabelo desgrenhado de Uriah, e as portas do elevador se abrem. Nós amontoamos em membros de um lado e iniciados no outro. Uma menina com a cabeça raspada pisa em meu sapato e não pede desculpas. Eu pego meu pé, estremecendo, e considero chutar suas canelas. Uriah olha para seu reflexo nas portas do elevador e tenta colocar seu cabelo para baixo.
— Que andar? — a garota com a cabeça raspada diz.
— Centésimo — eu digo.
— Como você sabe disso?
— Lynn, vamos lá — diz Uriah. — Seja legal.
— Estamos em um edifício abandonado com cem andares, com um monte de integrantes da Audácia — eu replico. — Como você não sabe disso?
Ela não responde. Ela simplesmente encrava o dedo no botão direito.
O elevador sobe tão rápido que meu estômago afunda e meus ouvidos estouram. Eu agarro o corrimão na parte lateral do elevador, observando a subida dos números. Passamos o vigésimo andar, o trigésimo andar, e os cabelos de Uriah finalmente estão normais. Cinquenta, sessenta, e os meus dedos estão latejando. Noventa e oito, 99, e o elevador para no cem. Fico feliz por não subir as escadas.
— Eu me pergunto como vamos chegar ao telhado daqui... — a voz de Uriah foi diminuindo.
Zeke aponta para uma escada de alumínio diante da beirada e começa a subir. A escada range e balança sob seus pés, mas ele continua a subir, e assobiar como só ele faz. Quando atinge o telhado, ele se vira e segura o topo da escada para a próxima pessoa.
Parte de mim pergunta se esta é uma missão suicida disfarçada de jogo.
Essa não é a primeira vez que eu me pergunto isso desde a Cerimônia de Escolha.
Subo a escada depois de Uriah. Isso me lembra de subir os degraus na roda-gigante com Quatro perto dos meus calcanhares. Lembro-me de seus dedos no meu quadril novamente, e como ele me segurou para não cair, e eu quase erro um degrau da escada. Estúpida.
Mordendo meu lábio, chego ao topo e fico no telhado do edifício Hancock. O vento é tão poderoso que eu o ouço e não sinto mais nada. Tenho que me encostar em Uriah para não cair. No início, tudo o que vejo é o pântano, amplo e marrom e em toda parte, tocando o horizonte, sem vida. Na outra direção é a cidade, e em muitos aspectos, é a mesma, sem vida e com os limites que eu não sei onde terminam.
Uriah aponta para algo. Ligado a um dos polos na parte superior da torre está um cabo de aço tão grosso como meu pulso. No terreno, uma pilha de corda negra resistente, grande o suficiente para segurar um ser humano. Zeke pega uma e anexa a uma roldana que trava no cabo de aço.
Eu sigo com os olhos o cabo que desce através do conjunto de edifícios e ao longo do Lago Shore Drive. Eu não sei onde ele termina. Uma coisa é clara: se eu passar por isso, vou descobrir.
Vamos deslizar num cabo de aço em uma corda negra a mil metros de altura.
— Oh meu Deus — diz Uriah.
Tudo o que posso fazer é assentir.
Shauna é a primeira pessoa a chegar na corda. Ela se mexe para frente sobre o seu estômago até que a maior parte do seu corpo é suportada pelo tecido preto. Em seguida, Zeke puxa uma alça através de seus ombros, sobre suas costas, e na parte superior das coxas. Ele a puxa, na corda, para a borda do edifício e faz a contagem regressiva a partir do cinco. Shauna dá um polegar para cima enquanto ele a empurra para frente, para o nada.
Lynn suspira quando Shauna desce em direção ao chão em uma ladeira íngreme, de cabeça. Eu passo do seu lado para ver melhor. Shauna permanece segura na corda, por enquanto eu posso vê-la, e então ela está muito longe, apenas uma manchinha preta ao longo do Lago Shore Drive.
Os membros gritam e se formam em linha reta, às vezes empurrando um ao outro para fora do caminho para conseguir um lugar melhor. De alguma forma eu sou a primeira iniciada em linha, bem em frente a Uriah. Apenas sete pessoas permanecem entre mim e a tirolesa.
Ainda assim, há uma parte de mim que geme, eu tenho que esperar por sete pessoas? É uma estranha mistura de terror e ânsia, desconhecido por mim até agora.
O próximo membro, um rapaz de aparência jovem com cabelos até os ombros, salta para a corda de costas, em vez de barriga. Ele estende os braços quando Zeke o empurra para baixo do cabo de aço.
Nenhum dos membros me parece de todo ter medo. Eles agem como se tivessem feito isso mil vezes antes, e talvez tenham. Mas quando olho por cima do meu ombro, vejo que a maioria dos iniciados está pálida ou preocupada, mesmo que conversem animadamente um com o outro. O que acontece entre o início e a adesão que transforma o pânico em prazer? Ou as pessoas simplesmente ficam melhores em esconder seu medo?
Três pessoas na minha frente. Outra corda, um membro fica no pé de primeira e cruza os braços sobre o peito. Duas pessoas. Um rapaz alto e grosso salta para cima e para baixo como uma criança antes de subir na corda e solta um grito alto enquanto ele desaparece, fazendo a menina na minha frente rir. Uma pessoa. Ela salta para a corda de cara e mantém as mãos na frente dela quando Zeke aperta os cintos. E então é a minha vez.
Tremo quando Zeke trava minha corda no cabo. Eu tento entrar, mas tenho dificuldade; minhas mãos estão tremendo muito.
— Não se preocupe — Zeke diz ao lado da minha orelha.
Ele toma o meu braço e me ajuda a entrar, voltada para baixo.
As alças apertam em volta da minha barriga, e Zeke me desliza para frente, até a borda do telhado. Olho para baixo as vigas do edifício de aço e janelas negras, todo o caminho da calçada quebrada. Eu sou uma idiota por fazer isso. E uma tola por desfrutar da sensação do meu coração batendo contra o meu esterno e linhas de suor aparecer em minhas mãos.
— Pronta, Careta? — Zeke me pergunta. — Eu tenho que dizer, estou impressionado por você não estar gritando e chorando agora.
— Eu disse a você — diz Uriah. — Ela é completamente Audaciosa. Agora vá em frente.
— Irmão, cuidado, ou eu poderia não apertar suas correias o suficiente — Zeke replica. Ele golpeia seu joelho. — E então, splat!
— Sim, sim — concorda Uriah. — E então a nossa mãe iria fervê-lo vivo.
Ouvi-lo falar de sua mãe, sobre sua família intacta, faz meu peito se incomodar por alguém, como se alguém me perfurasse com uma agulha.
— Só se ela descobrisse — Zeke puxa a roldana ligada ao cabo de aço. Ele a mantém, o que é uma sorte, porque se ela quebrar, minha morte será rápida e certa. Ele olha para mim e diz: — Preparar, apontar, v...
Antes que ele possa terminar a palavra vai, ele libera a corda e eu me esqueço dele, eu esqueço Uriah, família, e todas as coisas que poderiam funcionar mal e levar a minha morte. Eu ouço o deslizar de metal contra metal e sinto o vento tão intenso que lágrimas surgem em meus olhos enquanto desço em direção ao chão.
Eu sinto que estou sem substância, sem peso. Diante de mim o pântano parece enorme, com as suas manchas marrons se espalhando mais do que consigo ver, mesmo dessa altura. O ar é tão frio e tão rápido que chega a doer meu rosto. Eu ganho velocidade e dou um grito devido ao aumento de alegria dentro de mim, parado apenas pelo vento que enche minha boca e depois parte dos meus lábios.
Mantida segura pelas alças, eu largo meus braços para o lado e imagino que estou voando. Mergulho em direção à rua, que está rachada e irregular e acompanho perfeitamente a curva do pântano. Posso imaginar daqui o pântano quando olhei e ele estava cheio de água, como aço líquido refletindo a cor do céu.
Meu coração bate tão forte que dói, e eu não posso gritar e não posso respirar, mas também sinto tudo, cada veia e cada fibra, cada osso e cada nervo, tudo acordado e zumbindo no meu corpo como se estivesse carregado de eletricidade. Eu sou pura adrenalina.
É meio dia. Hora do almoço.
Sento em um corredor que não conheço. Andei até aqui por que precisava ficar longe do dormitório. Talvez se eu trouxer minha cama aqui, nunca vou ter que voltar para lá novamente. Pode ser minha imaginação, mas ainda cheira a sangue lá, mesmo depois de esfregar o chão até minhas mãos estarem feridas e alguém ter derramado água sanitária no chão esta manhã.
Eu aperto a ponta do meu nariz. Esfregar o chão quando ninguém mais queria era algo que minha mãe teria feito. Se eu não posso estar com ela, o mínimo que posso fazer é agir como ela às vezes.
Ouço pessoas se aproximando, seus passos ecoando no chão de pedra, e olho para os meus sapatos. Eu mudei de tênis cinza para tênis pretos há uma semana, mas os sapatos cinza estão guardados em uma das minhas gavetas. Não posso suportar ter que jogá-los fora, embora eu saiba que é tolice se ligar a um par de tênis, como se eles pudessem me levar para casa.
— Tris?
Eu olho para cima. Uriah para na minha frente. Ele acena para que os nascidos na Audácia sigam a caminhada sem ele. Eles se olham, mas seguem em frente.
— Você está bem? — ele pergunta.
— Eu tive uma noite difícil.
— É, ouvi sobre aquele cara, o Edward — Uriah olha para o corredor. Os nascidos na Audácia desaparecem em uma curva do corredor. Então ele sorri um pouco. — Você quer sair daqui?
— O quê? Aonde você vai?
— A um pequeno ritual de iniciação — ele diz. — Vamos, temos que nos apressar.
Eu considero brevemente as minhas opções. Posso ficar sentada aqui. Ou eu posso deixar o Complexo da Audácia.
Me levanto e me forço a correr com Uriah para alcançarmos os iniciados nascidos na Audácia.
— Os únicos iniciados que eles geralmente deixam vir são aqueles com irmãos mais velhos na Audácia — ele diz. — Mas eles nunca prestam atenção. Basta agir como se você fizesse parte de lá.
— O que exatamente nós estamos fazendo?
— Alguma coisa perigosa.
Um olhar que eu só posso descrever como uma mania Audaciosa entra em seus olhos, mas ao invés de recuar como eu faria semanas atrás, eu capturo esse olhar, como se ele fosse contagioso. Excitação substitui a sensação de peso dentro de mim. Nós andamos lentamente quando chegamos perto dos iniciados nascidos na Audácia.
— O que a Careta está fazendo aqui? — pergunta um menino com um anel de metal entre suas narinas.
— Ela só viu aquele cara ser esfaqueado no olho, Gabe — diz Uriah. — Dê a ela um tempo, ok?
Gabe encolhe os ombros e se afasta. Ninguém mais diz nada, embora alguns deles me olhem de soslaio como se estivessem me avaliando. Os iniciados nascidos Audácia são como uma matilha de cães. Se eu agir de forma errada, eles não vão me deixar correr com eles. Mas, por agora, eu estou segura.
Nós fomos para outro canto, e um grupo de outros membros ficaram na outra extremidade do lado do corredor. Há muitos deles para todos estarem relacionados com algum iniciante nascido na Audácia, mas começo a ver algumas semelhanças entre as faces.
— Vamos — um dos membros diz.
Ele se vira e entra por uma porta escura. Os outros membros o seguem, e nós seguimos também. Eu fico logo atrás de Uriah, e enquanto ando na escuridão, o meu pé tropeça em um passo. Eu me contenho antes de cair para frente e começo a subir.
— Escada dos fundos — diz Uriah, quase sussurrando. — Normalmente trancada.
Concordo, embora ele não possa me ver. Subo até que todos os degraus já se foram. Então, uma porta na parte superior da escadaria é aberta, deixando a luz do dia entrar. Nós emergimos do solo a algumas centenas de metros do edifício de vidro acima da Caverna, perto dos trilhos do trem.
Sinto como se tivesse feito isso mil vezes antes. Ouço a buzina do trem. Sinto vibrações do solo. Vejo a luz ligada para o carro chefe. Estalo meus dedos e salto uma vez na ponta dos pés.
Nós corremos como se fosse um único bloco ao lado do trem, e em ondas, membros e iniciados igualmente se empilham no trem. Uriah chega antes de mim, e pessoas se imprensam atrás de mim. Não posso cometer nenhum erro; eu me jogo de lado, pegando a alça do lado do trem, e iço-me para dentro. Uriah agarra meu braço para me firmar.
O trem pega velocidade. Uriah e eu sentamos contra uma das paredes.
Eu grito sobre o vento:
— Para onde nós estamos indo?
Uriah encolhe os ombros.
— Zeke nunca me disse.
— Zeke?
— Meu irmão mais velho — ele aponta para um menino do outro lado da sala sentado na porta com as pernas balançando para fora do trem.
— Você não precisa saber. Isso estraga a surpresa! — A menina à esquerda diz. Ela estende sua mão. — Eu sou Shauna.
Eu agito a mão dela, mas não pego forte o suficiente e solto demasiado depressa. Duvido que eu vá melhorar o meu aperto de mão. É uma sensação anormal apertar a mão de estranhos.
— Eu sou... — começo a dizer.
— Eu sei quem você é — ela interrompe — você é a Careta. Quatro me contou sobre você.
Oro para que o calor no meu rosto não seja visível.
— Oh? O que ele disse?
Ela se desfaz em risos para mim.
— Ele disse que você era Careta. Por que você pergunta?
— Se o meu instrutor está falando de mim — eu digo, tão firmemente quanto posso — quero saber o que está dizendo — espero ter dito uma mentira convincente. — Ele não está vindo, não é?
— Não. Ele nunca vem para isso.
— Provavelmente perdeu seu encanto. Muito pouco o assusta, você sabe.
Ele não está vindo. Algo em mim se esvaziou como um balão desamarrado. Eu ignorei e acenei com a cabeça. Sei que Quatro não é um covarde. Mas também sei de pelo menos uma coisa que o assusta: altura. Qualquer coisa que ele faça, começa com ele caindo fora de alturas. Ela não deve saber que quando ela fala dele sai como uma reverência em sua voz.
— Você o conhece bem? — pergunto.
Eu sou muito curiosa, sempre fui.
— Todo mundo conhece Quatro — diz ela. — Nós estávamos juntos na mesma iniciação. Eu era ruim em combate, então ele me ensinou todas as noites depois que todos estavam dormindo — ela arranha a nuca, sua expressão repentinamente séria. — Gentil da parte dele.
Ela se levanta e fica atrás dos membros efetivos na porta. E em um segundo, a sua expressão séria vai embora, mas eu ainda me sinto abalada com o que ela disse, meio confusa com a ideia de Quatro sendo bom e a outra metade querendo dar um soco nela sem motivo aparente.
— Aqui vamos nós! — grita Shauna.
O trem não abranda, mas ela se joga para fora do vagão. Os outros membros a seguem, uma corrente de roupas pretas. As pessoas não são muito mais velhas que eu. Eu estou na porta ao lado de Uriah. O trem está indo muito mais rápido do que em todas as outras vezes que pulei, mas não posso perder os meus nervos agora, em frente de todos estes membros. Então eu salto batendo no chão duro e tropeçando alguns passos à frente antes de recuperar o meu equilíbrio.
Uriah e eu corremos para chegar até os membros, juntamente com os outros iniciados, que mal olham em minha direção.
Olho em volta enquanto ando. O centro está atrás de nós, negro contra as nuvens, mas os edifícios em torno de mim são escuros e silenciosos. Isso significa que devemos estar ao norte da ponte, onde a cidade está abandonada.
Nós viramos uma esquina e espalhamos, enquanto caminhamos pela Avenida Michigan. Ao sul da ponte, a Avenida Michigan é uma rua movimentada, amontoada com pessoas, mas aqui está vazia.
Assim que levanto meus olhos analiso os edifícios, sei para onde estamos indo: o vazio edifício Hancock, um pilar negro com vigas entrecruzadas, o edifício mais alto ao norte da ponte.
Mas o que vamos fazer? Escalar?
À medida que nos aproximamos, os membros começam a correr, e Uriah e eu corremos para alcançá-los. Empurrando uns aos outros com os cotovelos, eles empurram através de um conjunto de portas na base de edifício. O vidro em uma delas está quebrado, ficando apenas a moldura. Eu avanço através dela em vez de abri-la e sigo os membros através de uma estranha e escura via de entrada, esmagando vidro quebrado debaixo dos meus pés.
Espero que a gente vá até as escadas, mas paramos no elevador.
— Os elevadores funcionam? — eu pergunto a Uriah, o mais silenciosamente possível.
— Claro que eles funcionam — diz Zeke, revirando os olhos. — Você acha que eu sou estúpido o suficiente para não entrar aqui mais cedo e ligar o gerador de emergência?
— Sim — responde Uriah. — Eu meio que acho.
Zeke olha para seu irmão, então o prende pela cabeça e esfrega seus cabelos. Zeke pode ser menor que Uriah, mas deve ser mais forte. Ou, pelo menos, mais rápido. Uriah beija seu braço pela lateral e Zeke o solta.
Sorrio com a visão de cabelo desgrenhado de Uriah, e as portas do elevador se abrem. Nós amontoamos em membros de um lado e iniciados no outro. Uma menina com a cabeça raspada pisa em meu sapato e não pede desculpas. Eu pego meu pé, estremecendo, e considero chutar suas canelas. Uriah olha para seu reflexo nas portas do elevador e tenta colocar seu cabelo para baixo.
— Que andar? — a garota com a cabeça raspada diz.
— Centésimo — eu digo.
— Como você sabe disso?
— Lynn, vamos lá — diz Uriah. — Seja legal.
— Estamos em um edifício abandonado com cem andares, com um monte de integrantes da Audácia — eu replico. — Como você não sabe disso?
Ela não responde. Ela simplesmente encrava o dedo no botão direito.
O elevador sobe tão rápido que meu estômago afunda e meus ouvidos estouram. Eu agarro o corrimão na parte lateral do elevador, observando a subida dos números. Passamos o vigésimo andar, o trigésimo andar, e os cabelos de Uriah finalmente estão normais. Cinquenta, sessenta, e os meus dedos estão latejando. Noventa e oito, 99, e o elevador para no cem. Fico feliz por não subir as escadas.
— Eu me pergunto como vamos chegar ao telhado daqui... — a voz de Uriah foi diminuindo.
Zeke aponta para uma escada de alumínio diante da beirada e começa a subir. A escada range e balança sob seus pés, mas ele continua a subir, e assobiar como só ele faz. Quando atinge o telhado, ele se vira e segura o topo da escada para a próxima pessoa.
Parte de mim pergunta se esta é uma missão suicida disfarçada de jogo.
Essa não é a primeira vez que eu me pergunto isso desde a Cerimônia de Escolha.
Subo a escada depois de Uriah. Isso me lembra de subir os degraus na roda-gigante com Quatro perto dos meus calcanhares. Lembro-me de seus dedos no meu quadril novamente, e como ele me segurou para não cair, e eu quase erro um degrau da escada. Estúpida.
Mordendo meu lábio, chego ao topo e fico no telhado do edifício Hancock. O vento é tão poderoso que eu o ouço e não sinto mais nada. Tenho que me encostar em Uriah para não cair. No início, tudo o que vejo é o pântano, amplo e marrom e em toda parte, tocando o horizonte, sem vida. Na outra direção é a cidade, e em muitos aspectos, é a mesma, sem vida e com os limites que eu não sei onde terminam.
Uriah aponta para algo. Ligado a um dos polos na parte superior da torre está um cabo de aço tão grosso como meu pulso. No terreno, uma pilha de corda negra resistente, grande o suficiente para segurar um ser humano. Zeke pega uma e anexa a uma roldana que trava no cabo de aço.
Eu sigo com os olhos o cabo que desce através do conjunto de edifícios e ao longo do Lago Shore Drive. Eu não sei onde ele termina. Uma coisa é clara: se eu passar por isso, vou descobrir.
Vamos deslizar num cabo de aço em uma corda negra a mil metros de altura.
— Oh meu Deus — diz Uriah.
Tudo o que posso fazer é assentir.
Shauna é a primeira pessoa a chegar na corda. Ela se mexe para frente sobre o seu estômago até que a maior parte do seu corpo é suportada pelo tecido preto. Em seguida, Zeke puxa uma alça através de seus ombros, sobre suas costas, e na parte superior das coxas. Ele a puxa, na corda, para a borda do edifício e faz a contagem regressiva a partir do cinco. Shauna dá um polegar para cima enquanto ele a empurra para frente, para o nada.
Lynn suspira quando Shauna desce em direção ao chão em uma ladeira íngreme, de cabeça. Eu passo do seu lado para ver melhor. Shauna permanece segura na corda, por enquanto eu posso vê-la, e então ela está muito longe, apenas uma manchinha preta ao longo do Lago Shore Drive.
Os membros gritam e se formam em linha reta, às vezes empurrando um ao outro para fora do caminho para conseguir um lugar melhor. De alguma forma eu sou a primeira iniciada em linha, bem em frente a Uriah. Apenas sete pessoas permanecem entre mim e a tirolesa.
Ainda assim, há uma parte de mim que geme, eu tenho que esperar por sete pessoas? É uma estranha mistura de terror e ânsia, desconhecido por mim até agora.
O próximo membro, um rapaz de aparência jovem com cabelos até os ombros, salta para a corda de costas, em vez de barriga. Ele estende os braços quando Zeke o empurra para baixo do cabo de aço.
Nenhum dos membros me parece de todo ter medo. Eles agem como se tivessem feito isso mil vezes antes, e talvez tenham. Mas quando olho por cima do meu ombro, vejo que a maioria dos iniciados está pálida ou preocupada, mesmo que conversem animadamente um com o outro. O que acontece entre o início e a adesão que transforma o pânico em prazer? Ou as pessoas simplesmente ficam melhores em esconder seu medo?
Três pessoas na minha frente. Outra corda, um membro fica no pé de primeira e cruza os braços sobre o peito. Duas pessoas. Um rapaz alto e grosso salta para cima e para baixo como uma criança antes de subir na corda e solta um grito alto enquanto ele desaparece, fazendo a menina na minha frente rir. Uma pessoa. Ela salta para a corda de cara e mantém as mãos na frente dela quando Zeke aperta os cintos. E então é a minha vez.
Tremo quando Zeke trava minha corda no cabo. Eu tento entrar, mas tenho dificuldade; minhas mãos estão tremendo muito.
— Não se preocupe — Zeke diz ao lado da minha orelha.
Ele toma o meu braço e me ajuda a entrar, voltada para baixo.
As alças apertam em volta da minha barriga, e Zeke me desliza para frente, até a borda do telhado. Olho para baixo as vigas do edifício de aço e janelas negras, todo o caminho da calçada quebrada. Eu sou uma idiota por fazer isso. E uma tola por desfrutar da sensação do meu coração batendo contra o meu esterno e linhas de suor aparecer em minhas mãos.
— Pronta, Careta? — Zeke me pergunta. — Eu tenho que dizer, estou impressionado por você não estar gritando e chorando agora.
— Eu disse a você — diz Uriah. — Ela é completamente Audaciosa. Agora vá em frente.
— Irmão, cuidado, ou eu poderia não apertar suas correias o suficiente — Zeke replica. Ele golpeia seu joelho. — E então, splat!
— Sim, sim — concorda Uriah. — E então a nossa mãe iria fervê-lo vivo.
Ouvi-lo falar de sua mãe, sobre sua família intacta, faz meu peito se incomodar por alguém, como se alguém me perfurasse com uma agulha.
— Só se ela descobrisse — Zeke puxa a roldana ligada ao cabo de aço. Ele a mantém, o que é uma sorte, porque se ela quebrar, minha morte será rápida e certa. Ele olha para mim e diz: — Preparar, apontar, v...
Antes que ele possa terminar a palavra vai, ele libera a corda e eu me esqueço dele, eu esqueço Uriah, família, e todas as coisas que poderiam funcionar mal e levar a minha morte. Eu ouço o deslizar de metal contra metal e sinto o vento tão intenso que lágrimas surgem em meus olhos enquanto desço em direção ao chão.
Eu sinto que estou sem substância, sem peso. Diante de mim o pântano parece enorme, com as suas manchas marrons se espalhando mais do que consigo ver, mesmo dessa altura. O ar é tão frio e tão rápido que chega a doer meu rosto. Eu ganho velocidade e dou um grito devido ao aumento de alegria dentro de mim, parado apenas pelo vento que enche minha boca e depois parte dos meus lábios.
Mantida segura pelas alças, eu largo meus braços para o lado e imagino que estou voando. Mergulho em direção à rua, que está rachada e irregular e acompanho perfeitamente a curva do pântano. Posso imaginar daqui o pântano quando olhei e ele estava cheio de água, como aço líquido refletindo a cor do céu.
Meu coração bate tão forte que dói, e eu não posso gritar e não posso respirar, mas também sinto tudo, cada veia e cada fibra, cada osso e cada nervo, tudo acordado e zumbindo no meu corpo como se estivesse carregado de eletricidade. Eu sou pura adrenalina.
É meio dia. Hora do almoço.
Sento em um corredor que não conheço. Andei até aqui por que precisava ficar longe do dormitório. Talvez se eu trouxer minha cama aqui, nunca vou ter que voltar para lá novamente. Pode ser minha imaginação, mas ainda cheira a sangue lá, mesmo depois de esfregar o chão até minhas mãos estarem feridas e alguém ter derramado água sanitária no chão esta manhã.
Eu aperto a ponta do meu nariz. Esfregar o chão quando ninguém mais queria era algo que minha mãe teria feito. Se eu não posso estar com ela, o mínimo que posso fazer é agir como ela às vezes.
Ouço pessoas se aproximando, seus passos ecoando no chão de pedra, e olho para os meus sapatos. Eu mudei de tênis cinza para tênis pretos há uma semana, mas os sapatos cinza estão guardados em uma das minhas gavetas. Não posso suportar ter que jogá-los fora, embora eu saiba que é tolice se ligar a um par de tênis, como se eles pudessem me levar para casa.
— Tris?
Eu olho para cima. Uriah para na minha frente. Ele acena para que os nascidos na Audácia sigam a caminhada sem ele. Eles se olham, mas seguem em frente.
— Você está bem? — ele pergunta.
— Eu tive uma noite difícil.
— É, ouvi sobre aquele cara, o Edward — Uriah olha para o corredor. Os nascidos na Audácia desaparecem em uma curva do corredor. Então ele sorri um pouco. — Você quer sair daqui?
— O quê? Aonde você vai?
— A um pequeno ritual de iniciação — ele diz. — Vamos, temos que nos apressar.
Eu considero brevemente as minhas opções. Posso ficar sentada aqui. Ou eu posso deixar o Complexo da Audácia.
Me levanto e me forço a correr com Uriah para alcançarmos os iniciados nascidos na Audácia.
— Os únicos iniciados que eles geralmente deixam vir são aqueles com irmãos mais velhos na Audácia — ele diz. — Mas eles nunca prestam atenção. Basta agir como se você fizesse parte de lá.
— O que exatamente nós estamos fazendo?
— Alguma coisa perigosa.
Um olhar que eu só posso descrever como uma mania Audaciosa entra em seus olhos, mas ao invés de recuar como eu faria semanas atrás, eu capturo esse olhar, como se ele fosse contagioso. Excitação substitui a sensação de peso dentro de mim. Nós andamos lentamente quando chegamos perto dos iniciados nascidos na Audácia.
— O que a Careta está fazendo aqui? — pergunta um menino com um anel de metal entre suas narinas.
— Ela só viu aquele cara ser esfaqueado no olho, Gabe — diz Uriah. — Dê a ela um tempo, ok?
Gabe encolhe os ombros e se afasta. Ninguém mais diz nada, embora alguns deles me olhem de soslaio como se estivessem me avaliando. Os iniciados nascidos Audácia são como uma matilha de cães. Se eu agir de forma errada, eles não vão me deixar correr com eles. Mas, por agora, eu estou segura.
Nós fomos para outro canto, e um grupo de outros membros ficaram na outra extremidade do lado do corredor. Há muitos deles para todos estarem relacionados com algum iniciante nascido na Audácia, mas começo a ver algumas semelhanças entre as faces.
— Vamos — um dos membros diz.
Ele se vira e entra por uma porta escura. Os outros membros o seguem, e nós seguimos também. Eu fico logo atrás de Uriah, e enquanto ando na escuridão, o meu pé tropeça em um passo. Eu me contenho antes de cair para frente e começo a subir.
— Escada dos fundos — diz Uriah, quase sussurrando. — Normalmente trancada.
Concordo, embora ele não possa me ver. Subo até que todos os degraus já se foram. Então, uma porta na parte superior da escadaria é aberta, deixando a luz do dia entrar. Nós emergimos do solo a algumas centenas de metros do edifício de vidro acima da Caverna, perto dos trilhos do trem.
Sinto como se tivesse feito isso mil vezes antes. Ouço a buzina do trem. Sinto vibrações do solo. Vejo a luz ligada para o carro chefe. Estalo meus dedos e salto uma vez na ponta dos pés.
Nós corremos como se fosse um único bloco ao lado do trem, e em ondas, membros e iniciados igualmente se empilham no trem. Uriah chega antes de mim, e pessoas se imprensam atrás de mim. Não posso cometer nenhum erro; eu me jogo de lado, pegando a alça do lado do trem, e iço-me para dentro. Uriah agarra meu braço para me firmar.
O trem pega velocidade. Uriah e eu sentamos contra uma das paredes.
Eu grito sobre o vento:
— Para onde nós estamos indo?
Uriah encolhe os ombros.
— Zeke nunca me disse.
— Zeke?
— Meu irmão mais velho — ele aponta para um menino do outro lado da sala sentado na porta com as pernas balançando para fora do trem.
— Você não precisa saber. Isso estraga a surpresa! — A menina à esquerda diz. Ela estende sua mão. — Eu sou Shauna.
Eu agito a mão dela, mas não pego forte o suficiente e solto demasiado depressa. Duvido que eu vá melhorar o meu aperto de mão. É uma sensação anormal apertar a mão de estranhos.
— Eu sou... — começo a dizer.
— Eu sei quem você é — ela interrompe — você é a Careta. Quatro me contou sobre você.
Oro para que o calor no meu rosto não seja visível.
— Oh? O que ele disse?
Ela se desfaz em risos para mim.
— Ele disse que você era Careta. Por que você pergunta?
— Se o meu instrutor está falando de mim — eu digo, tão firmemente quanto posso — quero saber o que está dizendo — espero ter dito uma mentira convincente. — Ele não está vindo, não é?
— Não. Ele nunca vem para isso.
— Provavelmente perdeu seu encanto. Muito pouco o assusta, você sabe.
Ele não está vindo. Algo em mim se esvaziou como um balão desamarrado. Eu ignorei e acenei com a cabeça. Sei que Quatro não é um covarde. Mas também sei de pelo menos uma coisa que o assusta: altura. Qualquer coisa que ele faça, começa com ele caindo fora de alturas. Ela não deve saber que quando ela fala dele sai como uma reverência em sua voz.
— Você o conhece bem? — pergunto.
Eu sou muito curiosa, sempre fui.
— Todo mundo conhece Quatro — diz ela. — Nós estávamos juntos na mesma iniciação. Eu era ruim em combate, então ele me ensinou todas as noites depois que todos estavam dormindo — ela arranha a nuca, sua expressão repentinamente séria. — Gentil da parte dele.
Ela se levanta e fica atrás dos membros efetivos na porta. E em um segundo, a sua expressão séria vai embora, mas eu ainda me sinto abalada com o que ela disse, meio confusa com a ideia de Quatro sendo bom e a outra metade querendo dar um soco nela sem motivo aparente.
— Aqui vamos nós! — grita Shauna.
O trem não abranda, mas ela se joga para fora do vagão. Os outros membros a seguem, uma corrente de roupas pretas. As pessoas não são muito mais velhas que eu. Eu estou na porta ao lado de Uriah. O trem está indo muito mais rápido do que em todas as outras vezes que pulei, mas não posso perder os meus nervos agora, em frente de todos estes membros. Então eu salto batendo no chão duro e tropeçando alguns passos à frente antes de recuperar o meu equilíbrio.
Uriah e eu corremos para chegar até os membros, juntamente com os outros iniciados, que mal olham em minha direção.
Olho em volta enquanto ando. O centro está atrás de nós, negro contra as nuvens, mas os edifícios em torno de mim são escuros e silenciosos. Isso significa que devemos estar ao norte da ponte, onde a cidade está abandonada.
Nós viramos uma esquina e espalhamos, enquanto caminhamos pela Avenida Michigan. Ao sul da ponte, a Avenida Michigan é uma rua movimentada, amontoada com pessoas, mas aqui está vazia.
Assim que levanto meus olhos analiso os edifícios, sei para onde estamos indo: o vazio edifício Hancock, um pilar negro com vigas entrecruzadas, o edifício mais alto ao norte da ponte.
Mas o que vamos fazer? Escalar?
À medida que nos aproximamos, os membros começam a correr, e Uriah e eu corremos para alcançá-los. Empurrando uns aos outros com os cotovelos, eles empurram através de um conjunto de portas na base de edifício. O vidro em uma delas está quebrado, ficando apenas a moldura. Eu avanço através dela em vez de abri-la e sigo os membros através de uma estranha e escura via de entrada, esmagando vidro quebrado debaixo dos meus pés.
Espero que a gente vá até as escadas, mas paramos no elevador.
— Os elevadores funcionam? — eu pergunto a Uriah, o mais silenciosamente possível.
— Claro que eles funcionam — diz Zeke, revirando os olhos. — Você acha que eu sou estúpido o suficiente para não entrar aqui mais cedo e ligar o gerador de emergência?
— Sim — responde Uriah. — Eu meio que acho.
Zeke olha para seu irmão, então o prende pela cabeça e esfrega seus cabelos. Zeke pode ser menor que Uriah, mas deve ser mais forte. Ou, pelo menos, mais rápido. Uriah beija seu braço pela lateral e Zeke o solta.
Sorrio com a visão de cabelo desgrenhado de Uriah, e as portas do elevador se abrem. Nós amontoamos em membros de um lado e iniciados no outro. Uma menina com a cabeça raspada pisa em meu sapato e não pede desculpas. Eu pego meu pé, estremecendo, e considero chutar suas canelas. Uriah olha para seu reflexo nas portas do elevador e tenta colocar seu cabelo para baixo.
— Que andar? — a garota com a cabeça raspada diz.
— Centésimo — eu digo.
— Como você sabe disso?
— Lynn, vamos lá — diz Uriah. — Seja legal.
— Estamos em um edifício abandonado com cem andares, com um monte de integrantes da Audácia — eu replico. — Como você não sabe disso?
Ela não responde. Ela simplesmente encrava o dedo no botão direito.
O elevador sobe tão rápido que meu estômago afunda e meus ouvidos estouram. Eu agarro o corrimão na parte lateral do elevador, observando a subida dos números. Passamos o vigésimo andar, o trigésimo andar, e os cabelos de Uriah finalmente estão normais. Cinquenta, sessenta, e os meus dedos estão latejando. Noventa e oito, 99, e o elevador para no cem. Fico feliz por não subir as escadas.
— Eu me pergunto como vamos chegar ao telhado daqui... — a voz de Uriah foi diminuindo.
Zeke aponta para uma escada de alumínio diante da beirada e começa a subir. A escada range e balança sob seus pés, mas ele continua a subir, e assobiar como só ele faz. Quando atinge o telhado, ele se vira e segura o topo da escada para a próxima pessoa.
Parte de mim pergunta se esta é uma missão suicida disfarçada de jogo.
Essa não é a primeira vez que eu me pergunto isso desde a Cerimônia de Escolha.
Subo a escada depois de Uriah. Isso me lembra de subir os degraus na roda-gigante com Quatro perto dos meus calcanhares. Lembro-me de seus dedos no meu quadril novamente, e como ele me segurou para não cair, e eu quase erro um degrau da escada. Estúpida.
Mordendo meu lábio, chego ao topo e fico no telhado do edifício Hancock. O vento é tão poderoso que eu o ouço e não sinto mais nada. Tenho que me encostar em Uriah para não cair. No início, tudo o que vejo é o pântano, amplo e marrom e em toda parte, tocando o horizonte, sem vida. Na outra direção é a cidade, e em muitos aspectos, é a mesma, sem vida e com os limites que eu não sei onde terminam.
Uriah aponta para algo. Ligado a um dos polos na parte superior da torre está um cabo de aço tão grosso como meu pulso. No terreno, uma pilha de corda negra resistente, grande o suficiente para segurar um ser humano. Zeke pega uma e anexa a uma roldana que trava no cabo de aço.
Eu sigo com os olhos o cabo que desce através do conjunto de edifícios e ao longo do Lago Shore Drive. Eu não sei onde ele termina. Uma coisa é clara: se eu passar por isso, vou descobrir.
Vamos deslizar num cabo de aço em uma corda negra a mil metros de altura.
— Oh meu Deus — diz Uriah.
Tudo o que posso fazer é assentir.
Shauna é a primeira pessoa a chegar na corda. Ela se mexe para frente sobre o seu estômago até que a maior parte do seu corpo é suportada pelo tecido preto. Em seguida, Zeke puxa uma alça através de seus ombros, sobre suas costas, e na parte superior das coxas. Ele a puxa, na corda, para a borda do edifício e faz a contagem regressiva a partir do cinco. Shauna dá um polegar para cima enquanto ele a empurra para frente, para o nada.
Lynn suspira quando Shauna desce em direção ao chão em uma ladeira íngreme, de cabeça. Eu passo do seu lado para ver melhor. Shauna permanece segura na corda, por enquanto eu posso vê-la, e então ela está muito longe, apenas uma manchinha preta ao longo do Lago Shore Drive.
Os membros gritam e se formam em linha reta, às vezes empurrando um ao outro para fora do caminho para conseguir um lugar melhor. De alguma forma eu sou a primeira iniciada em linha, bem em frente a Uriah. Apenas sete pessoas permanecem entre mim e a tirolesa.
Ainda assim, há uma parte de mim que geme, eu tenho que esperar por sete pessoas? É uma estranha mistura de terror e ânsia, desconhecido por mim até agora.
O próximo membro, um rapaz de aparência jovem com cabelos até os ombros, salta para a corda de costas, em vez de barriga. Ele estende os braços quando Zeke o empurra para baixo do cabo de aço.
Nenhum dos membros me parece de todo ter medo. Eles agem como se tivessem feito isso mil vezes antes, e talvez tenham. Mas quando olho por cima do meu ombro, vejo que a maioria dos iniciados está pálida ou preocupada, mesmo que conversem animadamente um com o outro. O que acontece entre o início e a adesão que transforma o pânico em prazer? Ou as pessoas simplesmente ficam melhores em esconder seu medo?
Três pessoas na minha frente. Outra corda, um membro fica no pé de primeira e cruza os braços sobre o peito. Duas pessoas. Um rapaz alto e grosso salta para cima e para baixo como uma criança antes de subir na corda e solta um grito alto enquanto ele desaparece, fazendo a menina na minha frente rir. Uma pessoa. Ela salta para a corda de cara e mantém as mãos na frente dela quando Zeke aperta os cintos. E então é a minha vez.
Tremo quando Zeke trava minha corda no cabo. Eu tento entrar, mas tenho dificuldade; minhas mãos estão tremendo muito.
— Não se preocupe — Zeke diz ao lado da minha orelha.
Ele toma o meu braço e me ajuda a entrar, voltada para baixo.
As alças apertam em volta da minha barriga, e Zeke me desliza para frente, até a borda do telhado. Olho para baixo as vigas do edifício de aço e janelas negras, todo o caminho da calçada quebrada. Eu sou uma idiota por fazer isso. E uma tola por desfrutar da sensação do meu coração batendo contra o meu esterno e linhas de suor aparecer em minhas mãos.
— Pronta, Careta? — Zeke me pergunta. — Eu tenho que dizer, estou impressionado por você não estar gritando e chorando agora.
— Eu disse a você — diz Uriah. — Ela é completamente Audaciosa. Agora vá em frente.
— Irmão, cuidado, ou eu poderia não apertar suas correias o suficiente — Zeke replica. Ele golpeia seu joelho. — E então, splat!
— Sim, sim — concorda Uriah. — E então a nossa mãe iria fervê-lo vivo.
Ouvi-lo falar de sua mãe, sobre sua família intacta, faz meu peito se incomodar por alguém, como se alguém me perfurasse com uma agulha.
— Só se ela descobrisse — Zeke puxa a roldana ligada ao cabo de aço. Ele a mantém, o que é uma sorte, porque se ela quebrar, minha morte será rápida e certa. Ele olha para mim e diz: — Preparar, apontar, v...
Antes que ele possa terminar a palavra vai, ele libera a corda e eu me esqueço dele, eu esqueço Uriah, família, e todas as coisas que poderiam funcionar mal e levar a minha morte. Eu ouço o deslizar de metal contra metal e sinto o vento tão intenso que lágrimas surgem em meus olhos enquanto desço em direção ao chão.
Eu sinto que estou sem substância, sem peso. Diante de mim o pântano parece enorme, com as suas manchas marrons se espalhando mais do que consigo ver, mesmo dessa altura. O ar é tão frio e tão rápido que chega a doer meu rosto. Eu ganho velocidade e dou um grito devido ao aumento de alegria dentro de mim, parado apenas pelo vento que enche minha boca e depois parte dos meus lábios.
Mantida segura pelas alças, eu largo meus braços para o lado e imagino que estou voando. Mergulho em direção à rua, que está rachada e irregular e acompanho perfeitamente a curva do pântano. Posso imaginar daqui o pântano quando olhei e ele estava cheio de água, como aço líquido refletindo a cor do céu.
Meu coração bate tão forte que dói, e eu não posso gritar e não posso respirar, mas também sinto tudo, cada veia e cada fibra, cada osso e cada nervo, tudo acordado e zumbindo no meu corpo como se estivesse carregado de eletricidade. Eu sou pura adrenalina.
O chão aumenta e incha abaixo de mim, e eu posso ver as pessoas minúsculas de pé na calçada abaixo. Eu deveria gritar, como qualquer ser humano racional faria, mas quando abro minha boca novamente, eu canto apenas com alegria. Eu grito mais alto, e as figuras no chão pulsam os punhos e gritam de volta, mas eles estão tão longe que eu mal consigo ouvi-los.
Olho para baixo e para as manchas de terra abaixo de mim, tudo cinza, branco e preto, vidro e asfalto e aço. Cachos de vento, suaves como cabelo, envolvem em torno de meus dedos e empurram os meus braços para trás. Tento puxar meus braços para o meu peito de novo, mas eu não sou forte o suficiente. O solo cresce mais e mais.
Eu não desacelero por mais um minuto, pelo menos, mas navego paralelo ao chão, como um pássaro.
Quando diminuo, corro meus dedos sobre o meu cabelo. O vento o encheu de nós. Travo a aproximadamente vinte metros acima do solo, mas essa altura parece nada agora. Coloco minhas mãos nas costas e trabalho para desfazer as tiras que me seguram. Os meus dedos tremem, mas continuo tentando separar. Uma multidão de membros está abaixo. Eles entendem os braços um do outro, formando uma rede de membros abaixo de mim.
Para começar, tenho que confiar neles para me pegar. Tenho que aceitar que estas pessoas são minhas, e eu sou deles. É um corajoso ato de deslizar para baixo da linha fechada.
Eu me remexo para frente e caio. Deixei os braços rígidos. Ossos do pulso e antebraços estão pressionados em minhas costas, e então coloco as palmas das mãos em volta dos meus braços e me puxo para os meus pés. Eu não sei qual mão me segura, qual mão que não, vejo sorrisos e ouço gargalhadas.
— O que você achou? — pergunta Shauna, batendo no meu ombro.
— Hum...
Todos os membros olham para mim. Eles parecem tão arrepiados quanto eu, o frenesi de adrenalina em seus olhos e seus cabelos assanhados. Eu sei por que meu pai disse que a Audácia era um bando de loucos. Ele não pode entender o tipo de camaradagem. Ele não poderia entender o tipo de camaradagem que se forma somente depois que vocês arriscam suas vidas juntos.
— Quando posso ir outra vez? — pergunto.
Meu sorriso se estende largo o suficiente para mostrar os dentes, e quando eles riem, eu sorrio. Pensei na subida das escadas da Abnegação, nossos pés encontrando o mesmo ritmo, todos nós o mesmo. Isto não é como aquilo. Nós não somos os mesmos. Mas nós somos, de alguma forma, um.
Eu olho para o edifício Hancock, que está tão longe de onde estou que não posso ver as pessoas em seu telhado.
— Olhe! Lá está ele! — alguém diz, apontando para cima do meu ombro.
Eu sigo a ponta do dedo em direção a uma forma pequena e escura que desliza para baixo do fio de aço. Alguns segundos depois eu ouço um grito de gelar o sangue.
— Eu aposto que ele vai chorar.
— O irmão de Zeke, chorar? De jeito nenhum. Ele iria levar um soco tão forte.
— Seus braços estão batendo! Ele soa como um gato estrangulado — eu digo.
Todo mundo ri de novo. Sinto uma pontada de culpa por provocar Uriah quando ele não pode me ouvir, mas eu teria dito a mesma coisa se ele estivesse aqui. Espero.
Quando Uriah finalmente chega a parar, eu sigo os membros para encontrá-lo. Nós alinhamos abaixo dele e atravessamos nossos braços para o espaço entre nós. Shauna engata uma mão em volta do meu cotovelo. Eu pego outro braço e não tenho certeza de quem ele pertence, há muitas mãos entrelaçadas e eu olho para ela.
— Tenho certeza que não podemos mais chamá-la de Careta — diz Shauna. Ela acena com a cabeça. — Tris.
+ + +
Eu ainda cheiro como vento quando entro no refeitório naquela noite. No segundo depois que entro, estou entre uma multidão de Audácia, e me sinto como um deles. Em seguida, Shauna acena para mim e a multidão se divide, e eu ando em direção à mesa onde Christina, Al e Will estão sentados, boquiabertos comigo.
Eu não pensei sobre eles quando aceitei o convite de Uriah. De certa forma, é gratificante ver os olhares atordoados em seus rostos. Mas eu não quero que eles fiquem com raiva de mim também.
— Onde você estava? — pergunta Christina. — O que você estava fazendo com eles?
— Uriah... vocês sabem, o nascido na Audácia que estava na nossa equipe que capturou a bandeira? — digo. — Ele estava saindo com alguns dos membros e pediu para eles me deixarem ir junto. Eles realmente não me queriam lá. Alguma garota chamada Lynn pisou no meu pé.
— Eles podem não querer que você fosse lá — Will diz calmamente — mas eles parecem gostar de você agora.
— Sim — concordo. Eu não posso negar. — Estou contente por estar de volta, apesar de tudo.
Espero que eles não possam perceber que estou mentindo, mas eu suspeito que podem. Me olhei em uma janela no caminho para o complexo, e minhas bochechas e olhos estavam brilhantes, meu cabelo embaraçado. Parece que eu experimentei algo poderoso.
— Bem, você perdeu Christina quase socando um Erudito — diz Al.
Sua voz soa ansiosa. Eu posso contar com Al para tentar quebrar a tensão.
— Ele estava aqui pedindo opiniões sobre a liderança da Abnegação, e Christina disse a ele que havia coisas mais importantes para ele fazer.
— No que ela estava completamente certa — acrescenta Will. — E ele ficou irritado com ela. Grande erro.
— Enorme — eu digo, balançando a cabeça.
Se eu sorrir bastante, talvez eu possa fazê-los esquecer seus ciúmes ou mágoa, ou qualquer outra coisa que esteja se formando atrás dos olhos de Christina.
— Sim — diz ela. — Enquanto você estava fora se divertindo, eu estava fazendo o trabalho sujo de defender a sua antiga facção, eliminando conflitos interfacção...
— Vamos lá, você sabe que gostou — diz Will, empurrando-a com seu cotovelo. — Se você não vai contar a história toda, eu vou. Ele estava de pé...
Will inicia a sua história, e eu aceno de um jeito que parece que estou ouvindo, mas tudo em que posso pensar é estar olhando fixamente abaixo o lado do edifício Hancock e a imagem completa que tenho do pântano de água, restaurado à sua antiga glória. Eu olho por cima do ombro de Will para os membros, que agora estão passando rapidamente pedaços de comida um para o outro com seus garfos.
É a primeira vez que estou realmente ansiosa para ser um deles.
O que significa que eu tenho que sobreviver a próxima fase da iniciação.
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