sábado, 29 de março de 2014

Capítulo 8

Amy soube que havia algo errado assim que Nellie saiu da locadora de carros. Ela estava franzindo a testa e segurando um grosso envelope marrom almofadado.
— O que é isso? — perguntou Amy.
— É pra vocês. — Nellie estendeu o envelope. — Alguém deixou isso no balcão hoje de manhã.
— Isso é impossível! Ninguém sabia que íamos estar aqui — disse Amy.
Porém, assim que disse isso, ela sentiu um calafrio na espinha. Eles tinham reservado as passagens de trem e o aluguel do carro pela internet na noite anterior quando estavam no hotel, usando o nome de Nellie. Seria possível que alguém os tivesse rastreado tão depressa?
— O que diz o envelope? — perguntou Dan.
— “Para A. & D. Cahill” — Nellie leu. — “De W. Mclntyre.”
— O senhor Mclntyre! — Dan agarrou o envelope.
— Espere! — Amy gritou. — Isso pode ser uma armadilha.
Dan revirou os olhos.
— Vamos, quem mandou foi o...
— Qualquer pessoa pode ter mandado — insistiu Amy. — Isso pode explodir ou sei lá.
— Opa, peraí — disse Nellie. — Por que alguém mandaria uma bomba pra duas crianças? E quem é esse tal Mclntyre?
— Já sei, vamos deixar Nellie abrir — decidiu Dan com um sorriso.
— Hmmm, não! — disse Nellie.
— Você é a nossa au pairl Não é sua função desarmar explosivos pra gente e coisas assim?
— Eu vou dirigir pra vocês, moleque. Já está bom demais!
Amy deu um suspiro e pegou o envelope. Ela andou até o estacionamento, virou a aba para longe de Nellie e Dan e a descolou com muito cuidado.
Nada aconteceu. Dentro havia um cilindro de metal que parecia uma lanterna, com a diferença de que a lâmpada era uma faixa de vidro roxo. Amarrado ao objeto havia um bilhete em letras toscas, como se quem escreveu estivesse com pressa:


— Achar que informação? — Dan perguntou, lendo por cima do ombro dela.
— A próxima pista, acho.
— Que pista? — Nellie perguntou.
— Nada — Dan e Amy responderam juntos.
Nellie afastou dos olhos uma mecha de cabelo preto e loiro.
— Tanto faz. Não saiam daqui. Vou buscar o carro.
Ela os deixou esperando com as malas e Saladin em sua nova gaiolinha de transporte. Saladin não ficara muito contente com a gaiola – assim como Nellie não ficara contente com o salmão fresco que eles tiveram que comprar para agradá-lo – mas Amy não tivera coragem de deixá-lo para trás.
— Prrr? — Saladin perguntou.
Amy se agachou e acariciou a cabeça de Saladin através das barras.
— Dan, talvez seja melhor não irmos a esse encontro. O senhor Mclntyre nos disse para não confiarmos em ninguém.
— Mas o bilhete é delel
— Pode ser um truque.
— Melhor ainda se for! Nós temos que ir!
Amy torceu o cabelo. Ela odiava quando Dan não a levava a sério. E aquilo podia serperigoso.
— Se nós formos, aqui diz que temos que encontrar uma informação primeiro.
— Mas você sabe onde procurar, né? Você é inteligente e tal.
Inteligente e tal. Como se fosse só disso que eles precisassem para localizar uma pista numa cidade enorme.
Antes de partirem de Boston, ela fizera uma pequena loucura e comprara uns livros sobre Franklin e a Filadélfia no sebo dos amigos dela. Passara a viagem de trem inteira lendo, mas mesmo assim...
— Tenho algumas ideias — ela admitiu. — Mas não sei para onde vamos a longo prazo. Quer dizer... você pensou no que poderia ser esse tesouro maior de todos?
— Alguma coisa legal.
— Ah, isso ajuda muito. Digo, o que seria capaz de tornar um Cahill a pessoa mais poderosa da História? E por que 39 pistas?
Dan deu de ombros.
— Trinta e nove é um número legal. É 13 vezes 3. Também é a soma de cinco números primos seguidos: 3, 5, 7,11, 13. E, além disso, se você somar as primeiras três potências de 3, 3¹ mais 3² mais 3³, a soma dá 39.
— Como você sabe disso? — Amy olhou surpresa para ele.
— Como assim? É óbvio.
Amy balançou a cabeça, sem acreditar. Dan agia como um idiota na maior parte do tempo. Então de repente fazia uma coisa daquelas, somar números primos ou potências de três nas quais ela nunca havia pensado. O pai deles tinha sido professor de matemática, e Dan pelo visto herdara todo o seu jeito para números. Amy já achava muito difícil lembrar números de telefone.
Ela ergueu o estranho cilindro de metal que o senhor Mclntyre havia mandado para eles. Ela ligou, e se acendeu uma luz roxa.
— Que coisa é essa? — Dan perguntou.
— Não sei. Mas sinto que é melhor descobrirmos antes das 8 horas.

***

Amy odiava carros quase tanto quanto odiava multidões. Ela prometeu a si mesma que, quando fosse mais velha, moraria num lugar onde nunca precisasse andar de carro. Em parte era porque ela já tinha andado de carro com Nellie antes.
Nellie tinha alugado um carro híbrido, movido à gasolina e eletricidade. Ela disse que era melhor para o meio ambiente, com o que Amy concordava, mas custava 258 dólares por dia, e o jeito como Nellie fazia curvas bruscas e acelerava não era muito “ecológico”.
Eles estavam na Interestadual 95, rumando para o centro da cidade, quando Amy por acaso olhou para trás. Ela não soube ao certo por que fez isso, sentiu uma coceira na nuca como se estivesse sendo observada. E de fato ela estava.
— Estamos sendo seguidos — ela anunciou.
— O quê? — disse Dan.
— Cinco carros para trás. Um Mercedes cinza. São os Starling.
— Um café Starbucks? — disse Nellie, empolgada. — Onde?
— Starling — Amy corrigiu. — Nossos parentes. Ned, Ted e Sinead.
— Esse não é o nome verdadeiro deles, é? — Nellie bufou.
— Não estou brincando — disse Amy. — É... hã... parte da caça ao tesouro. Nellie, não podemos deixar que eles nos sigam. Precisamos despistá-los.
Ela não precisou falar outra vez. Nellie girou o volante para a direita e o carro deu uma guinada, cortando três pistas de trânsito. Saladin deu um miado agudo. Quando eles estavam prestes a se espatifar nos tambores de proteção, Nellie conseguiu subir por uma rampa de saída.
A última visão que Amy teve dos Starling foi o rosto sardento de Sinead grudado no vidro do carro, de queixo caído vendo Amy e Dan escaparem.
— Despistamos agora? — Nellie perguntou.
— Prrr! — reclamou Saladin.
— Você podia ter matado a gente! — Dan tinha um grande sorriso no rosto. — Faz de novo!
— Não! — disse Amy. — Vamos para a Rua Locust. E rápido!

***

A primeira parada foi na Library Company da Filadélfia, um grande prédio de tijolos vermelhos bem no centro da cidade. Amy e Dan pediram para Nellie esperar no carro com Saladin. Então subiram a escada da frente.
— Puxa, outra biblioteca — disse Dan. — Temos muita sorte com bibliotecas.
— Franklin fundou este lugar — Amy contou a ele. — Tem um monte de livros do acervo pessoal dele. Se conseguirmos convencer as bibliotecárias...
— Que grande coisa fez esse Benjamin Franklin, afinal? Quer dizer, e daí que o cara inventou a eletricidade e tal? Isso foi séculos atrás.
— Ele não inventou a eletricidade — Amy disse, tentando não parecer irritada demais. — Ele descobriu que o relâmpago e a eletricidade eram a mesma coisa. Ele inventou o para-raios para proteger os prédios, fez experiências com pilhas e...
— Eu faço experiências com pilhas. Você já colocou uma na língua?
— Você é um imbecil. Acontece que Franklin foi famoso por vários motivos. Ele começou a ficar rico com seu negócio de impressão. Então virou cientista e inventou várias coisas. Mais tarde ajudou a escrever a Declaração de Independência e a Constituição dos Estados Unidos. Ele até foi embaixador na Inglaterra e na França. Era um homem brilhante. Famoso no mundo inteiro. Todo mundo gostava dele, e ele viveu até tipo uns 80 anos.
— Super-homem — Dan disse.
— Quase isso.
— Então você acha que ele sabia o que era... esse tesouro que estamos procurando?
Amy não tinha pensado naquilo. Franklin tinha sido uma das pessoas mais influentes da história. Se ele era um Cahill e sabia sobre aquele tesouro secreto da família...
— Acho melhor nós descobrirmos — ela disse.
Ela empurrou as portas e Dan entrou atrás.
Por sorte, os funcionários da biblioteca estavam tendo um dia tranquilo, e Amy não ficava nem um pouco tímida perto deles. Ela adorava bibliotecários e bibliotecárias. Quando disse que estava fazendo um trabalho de férias sobre Benjamin Franklin e precisava usar documentos históricos, todos se desdobraram para ajudá-la.
Amy e Dan tiveram que vestir luvas de látex e se sentaram numa sala de leitura com temperatura controlada enquanto os funcionários traziam livros antigos para eles olharem.
Uma bibliotecária pôs o primeiro na mesa e Amy levou um susto.
— É a primeira charge de Franklin!
Dan espremeu os olhos para ver melhor. O desenho mostrava uma cobra, cortada em treze pedaços, cada uma com o nome de uma colônia americana.
— Não achei muita graça.
— Não é para ser engraçado — Amy respondeu. — Naquela época, os cartuns passavam uma mensagem. Tipo, ele está dizendo que, se as colônias não se juntarem, a Inglaterra vai dividi-las em pedaços.
— Ahã.
Dan voltou a atenção para o computador. Fazia uns cinco minutos que eles estavam na biblioteca e lá estava ele, já com cara de tédio, batendo nas teclas do laptop em vez de ajudá-la.
Amy examinou os outros documentos: um jornal que tinha sido impresso na própria prensa de Franklin, uma cópia do livro O peregrino, de propriedade dele. Tantas coisas incríveis... mas, o que ela estava procurando? Amy se sentiu pressionada, e não funcionava direito sob pressão.
— Encontraram o que queriam? — perguntou a bibliotecária.
Ela tinha cabelos encaracolados e óculos bifocais, e meio que parecia uma bruxa simpática.
— Hã, acho que precisamos de mais coisas, por favor. Qualquer coisa que fosse... importante para Franklin.
A bibliotecária pensou por um instante.
— As cartas de Franklin eram importantes para ele. Ele escreveu muitíssimas cartas para os amigos e parentes, pois morou na Europa por muito tempo. Vou trazer algumas para vocês. — Ela ajustou os óculos e saiu da sala.
— Isso também é invenção de Franklin — Amy disse, distraidamente.
— As bibliotecárias? — Dan disse franzindo a testa.
— Não, os óculos bifocais! Ele cortou dois pares de lentes e colou meio a meio, de modo a poder enxergar de longe e de perto com os mesmos óculos.
— Puxa.
Dan não parecia impressionado. Ele voltou a brincar com o laptop. A lanterna misteriosa do senhor Mclntyre estava na frente dele, e ele ficava ligando e desligando.
A bibliotecária trouxe uma nova pilha de material, incluindo velhas cartas protegidas por folhas de plástico. Amy leu todas, no entanto se sentiu mais perdida do que nunca. Nada chamava a sua atenção. Nada gritava “pista”.
De repente, Dan se endireitou na cadeira.
— Achei!
— Achou o quê?
Ela pensou que Dan estivesse distraído com algum joguinho no computador, mas, quando ele virou a tela do laptop para ela ver, havia uma foto de uma lanterna igualzinha à que o senhor Mclntyre enviara para eles.
— É um leitor de luz negra — Dan anunciou.
— Oh! — disse a bibliotecária. — Muito engenhoso. Temos um destes para usar no nosso acervo.
Amy ergueu o olhar.
— Por quê? Para que serve?
— Para revelar mensagens secretas — explicou a bibliotecária. — Durante a Guerra da Independência, os espiões usavam tinta invisível para mandar mensagens em documentos que pareciam inofensivos, como cartas de amor ou pedidos comerciais. O destinatário usava calor ou um produto químico especial para fazer as palavras secretas aparecerem entre as linhas. É claro que não podemos danificar nossos documentos jogando produtos químicos neles, por isso usamos luz negra para procurar mensagens secretas.
Amy segurou o leitor de luz negra.
— Será que podemos...
— Posso poupar o seu tempo, meu bem. Nós sempre checamos todos os documentos coloniais. Não há mensagens secretas, infelizmente.
Amy sentiu um aperto no coração. Eles tinham perdido tempo ali, e ela ainda não sabia o que estava procurando. Ela tinha na cabeça uma lista de outros lugares para visitar, mas era uma lista muito comprida. De jeito nenhum eles conseguiriam visitar todos antes das 8 da noite.
Mensagens secretas. Franklin tinha escrito várias cartas para seus amigos e parentes enquanto morava na Europa. Sigam Franklin. Uma ideia maluca começou a se formar na sua mente.
Amy olhou para a bibliotecária.
— Você disse que as cartas eram importantes para ele. Tem mais algum lugar onde as cartas de Franklin fiquem em exposição?
— Engraçado você perguntar isso — sorriu a bibliotecária. — Alguns dos manuscritos mais famosos de Benjamin estão em exposição este mês no Instituto Franklin, que fica...
— No Museu de Ciências? — Amy ficou de pé num pulo. — Na Rua 20?
— Sim. — A bibliotecária pareceu assustada. — Mas como você...
— Obrigada! — Amy saiu depressa da sala com Dan correndo atrás dela.

***

De carro eles chegaram rápido ao Instituto Franklin. Nellie não ficou muito alegre de ter que esperar no carro com o gato outra vez, mas Dan e Amy a convenceram de que não demorariam muito. Eles correram para dentro e encontraram uma estátua branca de mármore com 6 metros de altura, um Benjamin Franklin que os encarava de uma poltrona gigante no saguão de entrada.
— Santo almanaque — caçoou Dan. — Isso sim é um Big Ben.
Amy confirmou com a cabeça.
— No fim da vida, ele estava tão gordo que precisava ser transportado numa liteira carregada por quatro grandes prisioneiros.
— Legal — Dan disse. — Quero uma liteira.
— Você pesa quarenta quilos.
— RESOLUÇÃO: Começar a comer mais sorvete.
— Vamos logo!
O museu era enorme. Eles passaram pelo monumento e pela bilheteria, então seguiram o mapa e entraram na galeria Franklin. Já era fim de tarde e o lugar estava quase deserto.
— Olha isto! — Dan pegou um braço mecânico e agarrou o pulso de Amy com ele.
— Pare com isso! Franklin inventou isso para pegar coisas em prateleiras altas, não para atazanar a irmã.
— Aposto que se ele tivesse uma irmã...
— Ele tinha uma irmã! Dan, precisamos encontrar as cartas dele. Pare de enrolar.
Eles continuaram andando. Encontraram um mostruário com os para-raios de Franklin, vários óculos bifocais e uma de suas pilhas para gerar eletricidade – um caixote de madeira cheio de potes de vidro, todos ligados por fios.
— Que troço enorme — disse Dan. — Que é isto? Tipo uma pilha ZZ? E caramba, o que é aquilo?
Ele correu até outro mostruário. Dentro havia uma caixa de mogno com uma fileira de pires de vidro encaixados, como se fosse um monte de tigelas.
— É uma harmônica de vidro — disse Amy, lendo a descrição. — Ela faz música quando se esfregam as bordas dos vidros com água.
— Incrível. Franklin inventou isso?
— Sim. Aqui diz que esse instrumento foi muito popular por um tempo. Vários compositores famosos escreveram música para...
Amy congelou. Um homem alto e grisalho acabara de atravessar o corredor na galeria ao lado, indo em direção ao balcão de informações. E estava vestindo um terno preto.
— Que foi? — perguntou Dan.
— O homem de preto — murmurou Amy. — Corra!
Ela agarrou a mão de Dan e eles fugiram, avançando para o interior da galeria. E não pararam de correr até ficarem a duas salas de distância, escondidos atrás de uma grande esfera de vidro que representava o sistema solar.
— O que ele está fazendo aqui? — Amy perguntou, aflita.
— Dã — disse Dan. — O incêndio não funcionou, por isso ele está aqui para nos pegar! Não podemos sair pela porta principal. Ele vai nos esperar para dar o bote assim que sairmos.
Amy olhou ao redor, nervosa, procurando outra saída. Então percebeu o que havia na parede bem ao lado deles. Documentos. Estantes cheias de documentos, todos de pergaminho amarelado, manuscritos em letras rebuscadas.
— As cartas de Franklin! Rápido, pegue o leitor de luz negra.
Dan procurou na mochila e tirou a pequena lanterna de luz negra. Eles a posicionaram na frente da primeira carta e a luz brilhou através do vidro. O documento parecia uma espécie de pedido de material. Começava assim:

Senhor - escrevi-vos recentemente via Nova York, espero que chegue à vossas mãos. Só tenho tempo agora de solicitar que me envie os seguintes itens, a saber:
1 dúzia – Dicionário inglês Cole
3 dúzias – Manual do jovem Mathers
1 quantidade – solução de ferro
2 – atlas marítimo da América Waggoner

Eles passaram a luz roxa pelo papel, porém nada aconteceu.
— A próxima! — disse Amy.
Ela tinha certeza de que o homem de preto ia surpreendê-los a qualquer instante.
— Uau! — disse Dan.
— Encontrou? — disse Amy, agarrando o braço dele.
— Não, mas veja! Este ensaio inteiro... “Para a Real Academia”. Ele escreveu um ensaio inteiro sobre peidos! — Dan sorriu de contentamento. — Ele está propondo um estudo científico dos diferentes cheiros de peido. Você tem razão, Amy. Esse cara era um gênio!
— Dan, você é tão idiota! Continue procurando!
Eles passaram a luz em mais quatro documentos escritos por Franklin. Nada apareceu. Então, no quinto, Dan disse:
— Aqui!
Felizmente não era outro ensaio sobre peidos. A carta fora escrita por Franklin em Paris, em 1785, para alguém chamado Jay. Amy não sabia sobre o que era. Não dava tempo de ler. Mas, brilhando em amarelo sob o facho de luz negra, havia linhas nas entrelinhas – uma mensagem secreta com a letra de Benjamin Franklin:

Devo partir em breve
Deste notável lugar
Porém deixo para trás
O que fez meu clã se separar

Embaixo, desenhado à mão, havia um brasão com duas cobras enroladas em volta de uma espada.
Amy levou um susto.
— Esse é um dos brasões da biblioteca de Grace... O que tem a letra L. Franklin deve ter sido um Lucian!
— Então esta é a segunda pista? — perguntou Dan. — Ou é uma pista para a pista?
Uma câmera fez clique.
— Tanto faz — disse uma voz de menina. — Bom trabalho.
Amy se virou e viu que estava cercada pelos Starling. Como de costume, eles vestiam roupas idênticas de filhinhos de papai: uniforme cáqui, camisa e mocassins. O cabelo acaju de Sinead estava amarrado para trás num rabo de cavalo. Os irmãos dela, Ted e Ned, estavam postados a seu lado, sorrindo de um jeito não muito amigável. Sinead estava segurando seu celular, que obviamente acabara de usar para tirar uma foto da pista deles.
— Vocês nos despistaram muito bem na rodovia — admitiu Sinead. — Ainda bem que não tinha tantos lugares relacionados a Benjamin Franklin para onde vocês pudessem ir. Obrigada pela pista.
Ela arrancou o leitor de luz negra da mão de Dan.
— Agora, prestem atenção. Vocês vão ficar no museu durante meia hora, seus pirralhos. Queremos uma vantagem de 30 minutos, senão seremos obrigados a amarrar vocês. Se vocês saírem antes da hora, juro que Ted e Ned vão ficar sabendo. E não vão achar legal.
Os irmãos dela deram um sorriso maligno.
Sinead se virou para ir embora, mas Amy disse num impulso:
— P-p-peraí!
Sinead ergueu a sobrancelha.
— T-t-tem um homem... — Amy tentou dizer mais, porém os Starling estavam todos olhando feio para ela. Ela sentia como se estivesse submersa em água gelada.
— Que homem? — Sinead perguntou.
— Ele está nos vigiando! — Dan disse. — Nos seguindo! Não é seguro sair pela entrada principal.
Sinead sorriu.
— Vocês estão preocupados com a nossa segurança? Que fofo da sua parte, Dan, mas acontece que... — Sinead se aproximou e o cutucou na barriga ao pronunciar cada palavra... — EU NÃO ACREDITO EM VOCÊS.
Sinead e seus irmãos riram, então se viraram e caminharam depressa até a saída principal.
Antes que Amy conseguisse pensar no que fazer, um ronco baixo e terrível fez tremer o chão. E então: BUUUM!
Mostruários de vidro se estilhaçaram. O prédio inteiro tremeu. Amy foi jogada para cima de Dan e os dois caíram no chão.
Quando ela conseguiu se sentar, sua visão estava embaçada. Não sabia ao certo quanto tempo tinha ficado ali, zonza. Ela ficou em pé com esforço e puxou o braço de Dan.
— Levante! — Amy disse, mas não conseguiu ouvir a própria voz.
— O quê? — ele murmurou.
Ela o ajudou a levantar. Juntos eles correram em direção à saída. Fumaça e pó pairavam no ar. Brilhavam luzes de emergência dos alarmes de incêndio. Uma pilha de entulho bloqueava a saída da galeria Franklin, como se parte do teto tivesse desmoronado. No chão, junto aos pés de Amy, jaziam o leitor de luz negra estilhaçado e o celular de Sinead.
E não havia nenhum sinal dos Starling.

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