quinta-feira, 17 de abril de 2014

Capítulo 13

Amy e Dan pularam para fora do elevador e se agacharam atrás do único esconderijo disponível: uma estátua de bronze de Rodin. Eles espiaram pela dobra do braço da figura. Aquele cômodo era maior que os corredores que os irmãos tinham visto até então. Faixas penduradas mostravam os Janus mais proeminentes de toda a História. Ela ficou boquiaberta ao ver os rostos célebres: Walt Disney, Beethoven, Mark Twain, Elvis Presley, Dr. Seuss, Charlie Chaplin, Snoop Dogg... a lista era interminável.
Um aglomerado de umas trinta pessoas passeava pelo cômodo, focando o olhar não nas faixas, mas em três palcos que rodeavam o espaço. Num deles havia uma apresentação de teatro kabuki japonês. Em outro, um grupo de artistas de avental manchado espirrava tinta spray numa tela montada sobre uma roda giratória. No terceiro, espadachins vestindo macacões corta-fogo duelavam com floretes em chamas.
Dan surgiu ao lado da irmã.
— Que planeta é este?
— É incrível — ela respondeu num sussurro rouco. — Uma sociedade inteira celebrando a arte e a criatividade. Tomara que a gente também seja Janus. O problema é: como vamos passar por toda essa gente?
Dan refletiu.
— Quando você vai ao cinema, em que você presta atenção, na plateia ou na tela?
— Do que você está falando? — ela franziu a testa.
— Talvez nós possamos nos misturar na multidão e sair escondidos pelo outro lado.
Amy não era muito fã de multidões, mesmo quando era super bem-vinda. A ideia de se colocar no meio de trinta inimigos a deixou com enjoo. Por outro lado, era um plano, o único que eles tinham. Ficar dando sopa ali também seria arriscado. Era apenas uma questão de tempo até que alguém percebesse a presença dos dois intrusos.
— Vamos tentar — ela decidiu.
Eles saíram depressa de trás da estátua, quase correndo, tentando transmitir um ar de quem estava à vontade. Dan avançou até a plateia das espadas de fogo. Amy se juntou ao grupo espalhado em volta dos espirradores de tinta, que estavam retirando da roda sua mais recente criação: uma explosão solar de vermelhos e amarelos.
timing dela foi perfeito. Os espectadores irromperam num aplauso entusiasmado, e Amy bateu palmas junto com eles. O nervosismo virou um profundo bem-estar. Ela tinha conseguido! Tinha se misturado à multidão! Um homem que aplaudia bateu em seu ombro e quase a derrubou.
Ela estava se afastando aos poucos do fã empolgado, quando viu a placa:


Mozart! É claro que o clã dos Janus teria uma seção dedicada a seu músico mais famoso.
Amy atraiu a atenção de Dan, inclinando a cabeça muito de leve para indicar a placa. Ele confirmou com a cabeça. Como de costume, Mozart devia ser a chave.
Com todos prestando atenção nas apresentações, foi fácil os dois saírem escondidos do átrio e seguirem por outro corredor repleto de obras de arte.
Os irmãos passaram por duas galerias laterais dedicadas a Janus de renome antes de chegar a uma porta onde se lia MOZART: WOLFGANG, MARIA ANNA, LEOPOLD.
— Quem é Leopold? — Dan quis saber.
— O pai deles — disse Amy. — Ele também foi um músico famoso. Dedicou a vida a cultivar o talento dos filhos, principalmente o de Wolfgang.
A sala era menor, mas poderia muito bem estar num dos museus que eles tinham visitado, com instrumentos musicais e móveis elegantes do século XVIII.
— Aqui tem mais Mozart do que nas casas de Mozart — Dan observou, examinando uma parede coberta do chão ao teto com mostradores de vidro contendo partituras manuscritas. Ele franziu a testa assim que pousou os olhos em um volume grosso da prateleira de baixo. — O que é isso? Parece que este livro foi escrito pelo pai de Mozart.
— Método para violino. No século XVIII, era o manual de violino número 1 no mundo inteiro. — Ela tomou fôlego de repente. — Dan, olhe. É o cravo que Mozart tocava quando tinha 3 anos! Imagine só: você ainda usava fraldas nessa idade, e aquele garotinho estava apertando teclas, procurando “notas que gostam uma das outras”.
— Talvez Mozart usasse fraldas também — disse o irmão, na defensiva. — Só porque você é um gênio não quer dizer que sabe usar o penico.
Os olhos de Amy passearam pelos muitos objetos em exposição e pousaram num mostrador de vidro no centro da sala. Montados de pé dentro da vitrine, havia três papéis amarelados, cobertos de uma caligrafia elaborada. A letra era muito familiar...
— São as páginas que faltam! As que foram arrancadas do diário de Nannerl!
Dan surgiu junto ao seu ombro.
— O que está escrito?
Ela olhou exasperada para o irmão.
— Está em alemão, idiota. Precisamos tirá-las daqui e mostrá-las para Nellie.
— Isso vai ser meio complicado — o irmão comentou com desânimo.
Ele apontou para um estranho aparelho conectado ao mostrador de vidro. Havia uma pequena bandeja de porcelana montada sob uma fonte de luz forte.
— Já vi isso aqui em fotos. É um leitor de retina. Você coloca o queixo nesse suporte aqui embaixo e a luz lê o seu globo ocular.
Amy digeriu aquilo.
— Talvez nossas retinas passem no teste. São quatro clãs na família. Tem uma chance em quatro de nossas retinas serem Janus.
— E três em quatro de virarmos churrasquinho. Amy, esses caras têm quadros de zilhões de dólares dando sopa na parede, e nós vamos tentar pegar a única coisa que eles protegem com segurança pesada. Eu não entendo direito, mas é óbvio que, se tentarmos roubar essas páginas e formos pegos, a reação deles vai ser terrível.
Amy se afastou do leitor de retina. Não havia dúvida de que os Cahill jogavam para valer. Com o poder supremo como prêmio, será que correr um risco significava pôr a vida deles em jogo?
Seus pensamentos aflitos foram interrompidos por uma voz famosa vindo do corredor, quase em frente à sala de Mozart:
— Yo! Este pico é o que há, mano! Minha mãe nunca me contou que todos esses figuras eram Cahill...

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