Os olhos de Amy se cravaram atrás da popa, onde ela sabia que Jonah e os Janus despontariam a qualquer segundo.
No último instante, Dan soltou o acelerador. A lancha deslizou para dentro da sombra do iate bem quando a embarcação de Jonah surgiu no canal aberto.
Postado na proa, o jovem astro varreu com os olhos o Grande Canal, em ambas as direções. Os irmãos Cahill não estavam à vista.
O pai dele desligou o celular com um gesto contrariado de desgosto.
— Tentei todos os nossos contatos nas rádios de Veneza. Ninguém tem um helicóptero de trânsito voando agora.
— O barco deles é devagar — comentou o homem do rabo de cavalo. — Eles não podem estar longe.
Jonah concordou com a cabeça.
— Vamos nos dividir, galera. A gente vai passar por baixo da ponte e procurar naquela direção. Mande os outros irem pro outro lado.
O homem de rabo de cavalo repassou as instruções para seus colegas Janus e os dois barcos partiram em disparada rumo à curva no canal que dava na baía de São Marco. Então ele engatou o motor e passou por baixo dos arcos de pedra sob a ponte di Rialto.
***
Um olho espiou por cima da amurada da lancha e observou Jonah e companhia sumirem ao longe.
— Eles foram embora — sussurrou Amy. — E agora?
Dan apareceu ao lado dela.
— Não sei. Sinceramente, eu não estava esperando que esse plano fosse funcionar.
— Vamos pegar as páginas do diário e encontrar Nellie — disse Amy num tom de urgência. — Os Janus não vão ficar longe para sempre.
Dan ligou o motor e pilotou a lancha, saindo de trás do iate.
— Acho que estou ficando bom. Faz tipo uns dez minutos que eu não bato em nada.
— Esse é o verdadeiro milagre.
O estrondo de um poderoso motor alcançou seus ouvidos, e a água atrás da embarcação de luxo começou a se agitar.
— Eles estão dando partida — comentou Amy. — Sorte eles não terem se mexido enquanto os Janus estavam aqui.
Conforme a lancha se aventurava no centro do canal, o iate começou a se mexer também, embicando atrás deles. A sombra da proa pontuda assomou sobre a pequena embarcação.
Dan acelerou bastante.
— Melhor irmos mais depressa. Esses caras podem passar por cima da gente e achar que atropelaram um peixinho.
Os dois voltaram pela larga via aquática e pegaram o canal mais estreito, que levava ao Royal Saladin atracado, onde tinham escondido as páginas do diário de Nannerl.
— Dan, olhe!
Os irmãos Cahill ficaram estupefatos, observando o iate high-tech fazer uma exímia manobra e também entrar no canal menor.
— Por que alguém ia querer pilotar um barco enorme que nem esse num canalzinho tão estreito? — perguntou Amy, consternada. — Ele pode entalar.
— Só tem um motivo — concluiu Dan, preocupado. — Ele está seguindo a gente.
— Por quê? Ele não é um Janus.
— Talvez não, mas está bem na nossa cola.
Dan empurrou o manete quase até o fim, porém o iate acompanhou o ritmo sem dificuldade. Não havia dúvida de que a embarcação de luxo podia ultrapassá-los quando quisesse.
Os irmãos Cahill passaram pela velha igreja de Santa Lucia e por sob a pequena ponte onde o Royal Saladin estava atracado. Amy olhou para trás, trêmula, e ficou surpresa ao ver o iate bem atrás, quase parando no meio da água.
— O que eles estão fazendo? — Dan se perguntou. — Nós estávamos no papo!
Foi Amy quem entendeu primeiro.
— A embarcação é muito alta! O convés superior não consegue passar por baixo da ponte!
— É! — Dan fez um gesto deselegante para o iate, que estava voltando de ré pelo canal. — Toma essa, seu trambolhão!
— Não podemos pegar as páginas do diário agora — avisou Amy. — Jonah não está nos vendo, mas as pessoas do iate estão.
Dan não soltou o acelerador.
— Sem problema. Vamos só despistar esses caras e voltar para pegar. — Em velocidade máxima, ele pilotou a lancha por afluentes que eram estreitos demais para uma embarcação maior. — Saiam da frente, marinheiros de primeira viagem! O capitão Dan está na área! — A lancha deu um tranco quando eles bateram num píer de pedra. — Ops.
— Espero que você saiba onde estamos — disse Amy, aflita.
— Relaxa.
Dan conduziu a lancha por outro canal apertado, e ali diante deles estava o Grande Canal.
— Assim que chegarmos à via principal, vai ser fácil achar a entrada certa que dá no Royal Saladin.
O motor deu um gemido em protesto, mas Dan não teve dó. Empurrou o manete até o fim, exigindo tudo o que a pequena lancha podia acelerar. O vento no cabelo dele aumentava seu delírio. Em mais uns poucos segundos, estariam no Grande Canal.
— Rá! — ele comemorou. — Uma canoa de 1 milhão de dólares não é suficiente para vencer um Cahill!
De repente, uma parede de metal brilhante bloqueou a passagem. Apenas um segundo antes, ali reluziam as águas abertas do vasto canal, mas agora todo o comprimento do iate high-tech atravessava o caminho deles.
Desesperado, Dan engatou a marcha a ré, porém não havia como parar. O motor deu um grito e morreu. Os irmãos Cahill continuaram em rota direta de colisão.
Amy ouviu alguém gritando e reconheceu a própria voz. Dan fechou os olhos. Era sua única opção.
A lancha bateu com força no casco de aço e se estraçalhou feito um brinquedo de madeira.
Tudo ficou escuro.
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