Alistair não se importava com estar ficando velho. Mas ficava mordido que seu sobrinho de 11 anos fosse mais esperto que ele.
Ouro.
Claro que o menino tinha razão. O ouro era o “elemento mais elevado” da alquimia. O símbolo alquímico, a “união dos elementos”, era a chave da entrada. Sem dúvida aquilo viera da mente de Hideyoshi. Sendo filho de Thomas Cahill, devia ter estudado alquimia!
Alistair praguejou em silêncio. Devia ter imaginado aquilo desde o começo. Podia ter poupado todo aquele esforço, todo aquele perigo. Todos aqueles riscos desnecessários à vida dos sobrinhos.
Aquilo estava destinado a acontecer.
Ele estava destinado a descobrir uma pista que já conhecia.
Ele tentou sorrir. Para os irmãos Cahill, tudo aquilo era novidade. Eles não tinham passado uma vida inteira procurando, como ele. Agora estavam dançando com os Kabra, fazendo passinhos de uma dança que chamavam de hip-hop. Quando Alistair tentou dançar junto, sentiu dor nos quadris.
Ele ficou de olho em lan Kabra. Com certeza os Kabra também já sabiam daquela pista. Os Lucian vinham colecionando pistas há tanto tempo quanto os Ekat. Talvez apenas atuassem melhor do que ele.
— Bravo! — exclamou Ian, levantando Amy no ar. — Eu sabia que esta cooperação entre os clãs ia valer a pena!
Quando ele desceu Amy com os braços, ela deixou seu rosto roçar de leve no dele.
Alistair sentiu seu sangue gelar. O trato com os Kabra acabara sendo proveitoso. Sem a moeda de lan, eles nunca poderiam ter encontrado aquela caverna. Mas não era esse o tipo de aliança que ele tinha imaginado.
— Eu... sugiro que partamos agora mesmo de volta para casa — falou Alistair. — Quem sabe no jantar possamos discutir com calma qual será nosso próximo passo.
— Um momento — disse lan. Ele estava se afastando de Amy, com o olhar fixo no espelho. — Corrijam-me se eu estiver errado, mas parece que, sempre que se encontra uma pista, se descobre também uma espécie de dica para a próxima.
— Isso mesmo, espertalhão — confirmou Dan. — Mas não force sua cabecinha. Aposto que a próxima pista não é pó de pedra.
lan estava novamente olhando para o espelho.
— O que vocês acham que estas letras significam?
Alistair aproximou-se dele, iluminando a moldura do espelho triangular. Em dois dos lados corriam pela superfície dois estranhos conjuntos de símbolos.
— Pra mim, é grego — disse Natalie.
— Nossa, eu conheço essas letras! — exclamou Dan. Da inscrição que encontramos na espada em Veneza. Lembra, tio Alistair, quando estávamos vendo aquelas tatuagens? Eu disse que tinha algumas letras faltando. São estas aqui!
— Não acho que isto seja propriamente uma língua — considerou Alistair, comparando as letras com os 13 idiomas que conhecia. — Talvez algum tipo de mensagem secreta?
Natalie começou a pentear o cabelo na frente do espelho, com uma escova com cabo de ouro.
— Espelho, espelho meu, existe alguém mais rica e inteligente e linda e...
— Isso mesmo, Natalie! — disse Dan.
Natalie ficou vermelha.
— Obrigada. Às vezes nem eu mesma acredito...
— Não! Palavras no espelho... Escrita espelhada!
Dan rapidamente tirou uma lapiseira e sua edição de bolso de Os maiores clássicos da comédia. Arrancando uma folha em branco do fim, ele utilizou o livro como apoio e começou a copiar as letras na folha. Então a segurou diante do espelho.
Ainda não fazia sentido.
Amy inclinou a cabeça.
— As letras são simétricas... A parte de cima de cada uma é um reflexo espelhado da parte de baixo. Talvez cada letra seja a metade de uma letra espelhada. Então, se conseguíssemos ver só a metade da letra, talvez desse para entender.
— Essa é a coisa mais imbecil e mais esdrúxula que eu já ouvi — disse Dan.
Amy pegou o papel e começou a apagar metade de cada letra:
Devagar, ela começou a completar cada letra:
— Ahstkael... — disse Amy. Isso não é uma cadeia de lojas de produtos naturais na Suécia?
— Nossa próxima pista está na Suécia? — Natalie se entusiasmou. — Estou mesmo precisando de um novo casaco de peles.
Dan pôs a mão no queixo.
— Hã... pessoal, essas são letras romanas. A gente não devia estar tentando formar letras japonesas? Ou coreanas?
— Hideyoshi era filho de Thomas Cahill — lembrou Alistair. — Eles não falavam japonês em casa. Além disso, o Oriente ainda não havia se aberto para o Ocidente, por isso palavras usando letras romanas deviam ser um código indecifrável na Coreia ou no Japão.
Dan estava rabiscando furiosamente outra vez. Começou a reembaralhar as letras como um louco, em várias combinações diferentes.
— Lake Tash! Será que é isso? — Natalie gritou.
Dan confirmou com a cabeça.
— Pois é. Lake Tash... — ele murmurou entre os dentes. — É um lago que fica no Quirguistão...
— Nossa próxima pista está no Quirguistão? — indagou Natalie.
— Que ótimo — disse lan com um sorriso. — Bem, foi muito agradável trabalhar com vocês. Desta vez, receio que vamos ter uma vantagem distinta.
— Mas... mas... — Amy cuspiu.
Alistair viu a expressão que se formou no rosto de Amy. Ela pretendia insistir para que a aliança continuasse, o que seria desastroso.
— Vou pedir imediatamente que nos transportem de volta para Seul. — Ele tirou depressa o celular do bolso. — Lá, nós vamos...
— Ah, duvido que tenha sinal de celular aqui — disse lan, andando na direção da entrada com a irmã logo atrás.
Na abertura da caverna, Natalie sorriu, com as mãos nos bolsos.
— Na verdade, duvido que você vá falar no celular nos próximos... hã... 500 anos.
Quando ela tirou a mão direita do bolso, estava segurando uma pistola de dardos tranquilizantes.
Alistair tentou se colocar na frente dos sobrinhos, mas Amy o empurrou para o lado.
— Natalie...?
— Olha, pessoal, isso não tem graça — disse Dan.
O menino foi até onde os primos estavam, mas Natalie apontou a pistola para o seu rosto.
— Dan! — gritou Amy, puxando-o de volta.
Ian olhou de relance para Amy. Por um instante, ela pensou ter visto um brilho de... alguma coisa. Dúvida? Algum indício de que era tudo uma grande piada sádica? Então a impressão desapareceu, tão rápido quanto surgira. Ele olhou para baixo e tirou do bolso a moeda da pedra filosofal.
— Ah, aliás, obrigado por me devolver.
— Como ele arranjou isso? — exclamou Dan, olhando feio para a irmã.
— Eu... eu... — Amy não conseguia pronunciar as palavras. — Ele...
— Herança de família — disse lan. Ele então saiu de costas pela abertura, enfiando a moeda na boca do Rato Careca. — Não se preocupem. Quando vencermos o desafio dos Cahill, quando conquistarmos o poder que nos é de direito, pode ser que voltemos para fazer uma visitinha. Se vocês ainda puderem nos receber. Enquanto isso, amigos, recomendo que economizem as pilhas. E o oxigênio.
A caverna estremeceu. Lentamente, a porta começou a fechar.
A última coisa que Alistair viu, antes de a porta bater com um estrondo, foi o cano da pistola de dardos de Natalie Kabra saindo pela abertura.
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