domingo, 1 de junho de 2014

Capítulo 15

A porta abriu com um estrondo. As luzes se acenderam.
— Dan? Amy? Moleques?
— É a Nellie! — gritou Amy. — Estamos aqui!
Nellie desceu correndo o segundo lance de escada e entrou na câmara funerária. Ela se jogou em cima deles e deu um abraço forte.
— Será que vocês podem parar de fazer isso? — ela exigiu. — Meus nervos estão em frangalhos! Vocês podiam ter ficado aqui embaixo, tipo, pra sempre!
De repente, Theo surgiu correndo na direção deles.
— Amy? Dan? Nellie! — Theo agarrou Nellie pelos cotovelos. — Você está bem?
— Estou.
— Amy e eu estamos bem, obrigado — disse Dan.
— Eu estava procurando você que nem um louco! — Theo disse para Neilie numa voz agitada. — Tem certeza de que estão bem?
— Estamos superbem — garantiu Dan. — Só fomos trancados numa tumba. Não foi nada.
— Como assim procurando vocês, Theo? — perguntou Nellie. — Eu acordei e vi que Amy e Dan tinham sumido. Sabia que eles iam voltar pra cá. Basicamente, penso na coisa mais sinistra que consigo e é exatamente o que eles fazem.
Theo enxugou o suor da testa.
— Recebi uma mensagem de texto no celular dizendo que você estava em apuros. Te procurei por toda parte.
— Você viu alguém quando entrou na tumba? — Amy perguntou a Nellie.
Nellie negou com a cabeça.
— Só desci a escada correndo quando ouvi vocês chamando.
— Nós ouvimos alguém — disse Dan. — Tipo um barulho de alguma coisa se arrastando.
Theo tentou não sorrir.
De repente, ouviram uma espécie de rangido e o barulho de um atrito metálico.
— Uma múmia?
— Não foi nossa imaginação — Dan respondeu irritado. — Talvez a pessoa tenha se escondido numa das câmaras laterais e saído depois que Nellie desceu até a câmara funerária.
— Ah, não! O guia turístico da Grace! — exclamou Amy. — Eu devo ter deixado ele cair.
Eles vasculharam a tumba inteira, mas não encontraram o livro.
— Tem certeza de que você trouxe o guia? — perguntou Theo.
— É claro que ela tem certeza — respondeu Dan. — Ela não desgruda desse guia. Estão vendo? — Ele olhou a tumba ao seu redor. — Tinha mesmo outra pessoa aqui dentro.
— E essa pessoa levou o livro da Grace — concluiu Amy.

***

Amy e Dan ficaram em silêncio, sentados na cabine do barco após o jantar. Theo havia sugerido que fossem comer a sobremesa em Luxor. Ele conhecia um restaurante incrível na cobertura de um prédio, com vista para o rio e para o Templo de Luxor. Mas não tinham cabeça para sobremesa nem passeios.
A tristeza pairava sobre Amy como uma nuvem. Dan sabia muito bem como ela se sentia. O livro tinha sumido. Ele se sentira do mesmo jeito quando perdera a foto dos pais, lá naquele túnel do metrô de Paris. Era como se tivesse perdido uma parte dos pais. Agora tinham perdido uma parte de Grace. Uma parte essencial.
Eles estavam sempre perdendo partes e mais partes de sua antiga vida. Sempre caindo, sempre fugindo. Tinham a sensação de estar num mundo sem gravidade, logo não teriam mais nada em que se agarrar. Naquela noite, o balanço do barco quase deixou Dan nauseado.
No entanto, era hora de trabalhar, não de ficar pensando. Apesar do que acreditava a irmã, pensar demais nas coisas não levava a lugar algum.
Dan empurrou um pedaço de papel na direção de Amy.
— Pronto.
Ele tinha desenhado os hieróglifos que haviam encontrado nos degraus da tumba de Nefertari.
Amy nem se deu ao trabalho de perguntar se ele tinha certeza ou se lembrava direito. Ela ficou de pé num pulo e andou até as prateleiras apinhadas de livros. Tirou um volume pesado.
— Eu vi isso antes. É um dicionário de hieróglifos.
Eles folhearam o volume. Demoraram um pouco para encontrar as explicações dos hieróglifos.
Dan copiou:


— Rio, penhasco, ilha, obelisco — repetiu Dan, apontando para cada símbolo. — Esses são fáceis. Mas não conseguimos encontrar esse último.


— Certo, estamos em Luxor — Amy pensou em voz alta. — Tem um rio. Tem penhascos. Tem ilhas no rio. Obeliscos. Mas Katherine não listaria coisas aleatórias.
— Isso se foi mesmo Katherine quem fez esses hieróglifos — considerou Dan. — Não temos certeza. Ela não saberia decifrar hieróglifos no século XVI. Eles só foram traduzidos alguns séculos depois, quando encontraram a Pedra de Roseta.
— Se bem que esses são bem simples. São pictogramas, significam o que o desenho mostra. Ela poderia ter descoberto o significado. Até a gente poderia, mesmo sem o dicionário. A não ser esse último.
— As coisas não estão batendo — falou Dan. — Talvez exista mesmo uma quarta Sakhet. Lembra daquela carta que a gente encontrou, escrita pelo tal Drovetti? Ele dizia que a pista tinha sido enviada para o palácio do L.
— Luís XIV, talvez — sugeriu Amy. — Versalhes fica bem perto de Paris.
— Talvez a gente nem devesse estar no Egito — concluiu Dan. — Algum Lucian pode ter mandado a dica mais importante pra Paris. Parece que estamos num beco sem saída.
O olhar de Amy pousou na escotilha:
— Dan? Você percebeu que as luzes da cidade estão... meio longe?
Dan ficou de pé.
— Nossa corda soltou! Estamos indo pro meio do rio!
— Bom trabalho, galera! — A cabeça de Jonah Wizard apareceu no topo da escada que levava ao convés. — Boa dica. Paris é minha cidade! Eles me amam em Paris!
Amy e Dan correram na direção da escada. Jonah recuou e deixou que eles subissem ao convés. Estavam no meio do rio. As luzes de Luxor pareciam bem distantes.
O senhor Wizard estava operando o timão. Jonah se jogou numa cadeira, rindo muito e apontando para os dois.
— Vocês tinham que ver a cara de vocês! Muito comédia. Enfim, o que eu posso dizer? Se vocês tivessem concordado quando eu ofereci um acordo... Aí pai, reserva duas passagens de primeira classe pra Paris. Adoro aquela Galeria dos Espelhos em Versalhes. Um monte de reflexos de moi!
— Não tem sinal aqui — disse o senhor Wizard, mexendo no BlackBerry com os polegares, tentando fazê-lo funcionar.
— Sabem de uma coisa? — Jonah passou as pernas por cima da cadeira do convés, balançando um dos pés. — Vocês dois tão com cara de acabados. Acho que precisam de férias. Tipo, que tal numa bela ilha tropical?
O senhor Wizard fez uma curva com o barco e depois andou até a pequena prancha na lateral.
— Ah, peraí — disse Dan. — Você deve estar brincando. Vocês vão fazer a gente andar na prancha?
Jonah deu uma risada boba.
— Pois é, galera. Eu sempre quis ser pirata!
— Melhor vocês irem logo — mandou o senhor Wizard. — Temos que pegar um avião.
A prancha bateu na areia da pequena ilha. Era inabitada. Amy e Dan só conseguiam ver árvores grossas e arbustos rasteiros. Ainda bem que Amy tinha trazido a Sakhet na pochete.
— Você vai pagar por isso! — Dan ameaçou Jonah.
— Ahã — falou.
— E a gente não ficou com medo dos seus avisos idiotas. — retrucou Dan.
— Que avisos? — perguntou Jonah. — Vai andando na prancha, Peter Pan. Você primeiro, Sininho — ele disse para Amy.
Dan foi descendo atrás de Amy.
O senhor Wizard recolheu a prancha depois que eles botaram os pés na ilha. O barco começou a se afastar.
— Divirtam-se! — gritou Jonah. — Aposto que alguém vai aparecer... mais cedo ou mais tarde. Ah, tem mais uma coisa.
A voz dele veio como uma onda por cima da água.
— Cuidado com os crocodilos!

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